Dom José Cardoso Sobrinho
Não reclamem ao bispo
As excomunhões são punições automáticas, previstas para quem quer que pratique aborto, diz o arcebispo criticado no caso da menina engravidada pelo padrasto
Juliana Linhares
Leo Caldas/Titular
"Estou com a minha consciência tranquila. Não podia prever essa reação em nível nacional e internacional, mas remorso sentiria se tivesse ficado em silêncio"
Ao longo de 2 000 anos de história, duas forças, ora conflitantes, ora complementares, moldaram a Igreja Católica: a doutrina do amor e o amor pela doutrina. Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, é sem dúvida um homem da segunda força. Aos 75 anos, pequenino e orgulhosamente teimoso, ele reitera ponto por ponto as declarações que o transformaram na figura mais criticada no caso da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto que engravidou de gêmeos e fez um aborto legal. A excomunhão dos adultos envolvidos é exigida pelas leis da Igreja, diz dom José, que considera ter cumprido o seu dever. "Estou tranquilíssimo", repete nesta entrevista, concedida na casa da arquidiocese na presença de outras cinco pessoas – um advogado, uma psicóloga, um médico e sua mulher, e um vigário. "Eles estão me dando apoio", explicou.
Por que o senhor acha que tantas pessoas, católicas em sua maioria, ficaram revoltadas com a sua posição no caso da excomunhão dos adultos envolvidos no aborto da menina violentada?
As excomunhões são punições automáticas, previstas para quem quer que pratique aborto, diz o arcebispo criticado no caso da menina engravidada pelo padrasto
Juliana Linhares
Leo Caldas/Titular
"Estou com a minha consciência tranquila. Não podia prever essa reação em nível nacional e internacional, mas remorso sentiria se tivesse ficado em silêncio"
Ao longo de 2 000 anos de história, duas forças, ora conflitantes, ora complementares, moldaram a Igreja Católica: a doutrina do amor e o amor pela doutrina. Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, é sem dúvida um homem da segunda força. Aos 75 anos, pequenino e orgulhosamente teimoso, ele reitera ponto por ponto as declarações que o transformaram na figura mais criticada no caso da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto que engravidou de gêmeos e fez um aborto legal. A excomunhão dos adultos envolvidos é exigida pelas leis da Igreja, diz dom José, que considera ter cumprido o seu dever. "Estou tranquilíssimo", repete nesta entrevista, concedida na casa da arquidiocese na presença de outras cinco pessoas – um advogado, uma psicóloga, um médico e sua mulher, e um vigário. "Eles estão me dando apoio", explicou.
Por que o senhor acha que tantas pessoas, católicas em sua maioria, ficaram revoltadas com a sua posição no caso da excomunhão dos adultos envolvidos no aborto da menina violentada?
Em primeiro lugar, nós temos de colocar essa questão no âmbito religioso. Acreditamos em Deus? É sim ou é não. E eu suponho que a grande maioria das pessoas acredita. E acreditar em Deus significa aceitar que Deus é a origem de tudo e é também o nosso fim. Essa é uma verdade fundamental. É premissa importantíssima para dizer que a lei de Deus está acima de qualquer lei humana. E a lei de Deus não permite o aborto. Então, se uma lei humana está contradizendo uma lei de Deus, no caso, a que permitiu a operação, essa lei não tem nenhum valor. Quanto ao que você afirma, sobre as pessoas estarem revoltadas, tenho de dizer que também houve um clamor grande, eu diria enorme, de autoridades de Roma a meu favor. Tenho sido insultado, claro, mas hoje mesmo recebi uma carta de Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos em Roma, em que me elogia.
"Hitler queria eliminar o povo judaico e dizem que ele chegou a matar 6 milhões de judeus. Por que nós vamos ficar em silêncio quando estão acontecendo 50 milhões de abortos no mundo?"
O que o senhor diria aos católicos que condenaram sua atitude?Antes de tudo, quero deixar bem claro que não fui eu que excomunguei os médicos que praticaram o aborto e a mãe da menina. Isso é falso. Eu não posso excomungar ninguém. Eu simplesmente mencionei o que está escrito na lei da Igreja, o cânone 1 398, do Código de Direito Canônico, que está aí nas livrarias para qualquer um ler. Por essa lei, qualquer pessoa que comete aborto está excomungada, por uma penalidade que se chama latae sententiae, um termo técnico que significa automática. Então, não foi dom José Cardoso Sobrinho quem os excomungou. Eu simplesmente disse a todos: "Tomem consciência disto". Qualquer pessoa no mundo inteiro que pratique o aborto está incorrendo nessa penalidade – mesmo que ninguém fale nada. Quem é católico sabe que na primeira carta de São Paulo a Timóteo, no capítulo II, está escrito: Deus quer que todos sejam salvos.
Por que estupradores não são também automaticamente excomungados?
"Hitler queria eliminar o povo judaico e dizem que ele chegou a matar 6 milhões de judeus. Por que nós vamos ficar em silêncio quando estão acontecendo 50 milhões de abortos no mundo?"
O que o senhor diria aos católicos que condenaram sua atitude?Antes de tudo, quero deixar bem claro que não fui eu que excomunguei os médicos que praticaram o aborto e a mãe da menina. Isso é falso. Eu não posso excomungar ninguém. Eu simplesmente mencionei o que está escrito na lei da Igreja, o cânone 1 398, do Código de Direito Canônico, que está aí nas livrarias para qualquer um ler. Por essa lei, qualquer pessoa que comete aborto está excomungada, por uma penalidade que se chama latae sententiae, um termo técnico que significa automática. Então, não foi dom José Cardoso Sobrinho quem os excomungou. Eu simplesmente disse a todos: "Tomem consciência disto". Qualquer pessoa no mundo inteiro que pratique o aborto está incorrendo nessa penalidade – mesmo que ninguém fale nada. Quem é católico sabe que na primeira carta de São Paulo a Timóteo, no capítulo II, está escrito: Deus quer que todos sejam salvos.
Por que estupradores não são também automaticamente excomungados?
A nossa santa Igreja condena todos os pecados graves. O estupro é um pecado gravíssimo para a Igreja, assim como o homicídio. Agora, a Igreja diz que o aborto, isto é, o ato de tirar a vida de um inocente indefeso, é muito mais grave que o estupro, que o homicídio de um adulto. Qualquer pessoa inteligente é capaz de compreender isso. Eu não estou dizendo que o estupro e a pedofilia são coisas boas. Mas o aborto é muito mais grave e, por isso, a Igreja estipulou essa penalidade automática de excomunhão.
Em que outros casos se aplica a excomunhão automática?
Em que outros casos se aplica a excomunhão automática?
No Código de Direito Canônico anterior, promulgado por Bento XV, havia cerca de quarenta motivos para a excomunhão automática. Em 1983, sob a autoridade de João Paulo II, foi publicado um novo Código. O atual os reduziu a apenas nove. São eles: o aborto; a apostasia, que é quando a pessoa abandona a religião; a heresia, que acontece quando uma pessoa nega um dogma da Igreja; a violência física contra a pessoa do papa; a consagração de um bispo sem a licença do papa; o cisma; a absolvição por um sacerdote do cúmplice de um pecado da carne; a violação direta do segredo da confissão; e a profanação das hóstias consagradas.
O que a Igreja e o senhor pessoalmente ofereceram à menina, em matéria de apoio material e espiritual, caso não fizesse o aborto?
O que a Igreja e o senhor pessoalmente ofereceram à menina, em matéria de apoio material e espiritual, caso não fizesse o aborto?
Agradeço muito essa pergunta. Essa criança residia na diocese de Pesqueira, na cidade de Alagoinha, no interior de Pernambuco. Quando aconteceu isso, o bispo de Pesqueira me informou que a menina seria trazida para o Recife. Ele e eu queríamos fazer o que fosse possível para salvar a vida dela e a dos filhos que ela concebera. Nós tivemos várias reuniões com nossos advogados para saber o que poderíamos fazer para impedir o aborto. Pedimos audiência ao desembargador, e ele ligou para várias varas da infância e da juventude para tentar fazer algo. O pai da menina esteve também nesse encontro e declarou ser contra o aborto. Ele é analfabeto, mas repetiu desde o começo que não estava de acordo. Fez até uma procuração para o nosso advogado e assinou. Quer dizer, assinou não, pôs o dedão lá. Então, nós fizemos tudo o que foi possível.
Foram oferecidos abrigo, sustento material, uma eventual família adotiva?
Foram oferecidos abrigo, sustento material, uma eventual família adotiva?
Repito mais uma vez: essa menina é residente em outra cidade, portanto, em outra diocese. O bispo de Pesqueira foi quem acompanhou tudo de perto. O padre de lá deu toda a assistência possível. A menina não tinha nenhum problema de necessidade material nem passava fome. E, se acontecesse o parto, a cidade de Alagoinha iria ajudar. A menina não ficaria abandonada. A nossa santa Igreja iria ajudar. Nós temos aí abrigos para os pobres. Mas eu queria voltar a insistir no fato de que estamos sempre tentando cumprir a lei de Deus. E o quinto mandamento diz: não matar. Então, não é lícito, para salvar uma vida, eliminar a vida de dois inocentes. O fim não justifica os meios. Eu posso ter uma finalidade ótima, salvar a vida daquela menina grávida. O meio para chegar lá pode ser usar todos os recursos da medicina. Mas nunca, jamais, eliminar a vida de um inocente para salvar a vida de outro. O aborto é um crime nefando.
"Eu diria (à menina): já passou. Procure praticar a religião. Seria tão bom se as criancinhas fossem como antigamente, quando nem tinham uso da razão mas já sabiam rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria"
O senhor esteve com ela alguma vez?
"Eu diria (à menina): já passou. Procure praticar a religião. Seria tão bom se as criancinhas fossem como antigamente, quando nem tinham uso da razão mas já sabiam rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria"
O senhor esteve com ela alguma vez?
Não consegui. Quando eu soube do caso, passei o dia todo, das 7 da manhã às 10 da noite, trabalhando na tentativa de evitar a operação. Mais tarde, eu estava me dirigindo ao primeiro hospital onde a menina foi internada, no interior do estado, para tentar convencer a família a desistir do aborto, e eis que tive uma surpresa. Um médico amigo me telefonou para dizer que um grupo de mulheres chamadas feministas tinha convencido a mãe a assinar um documento em que assumia a responsabilidade pela filha e autorizava a sua alta. Ela então seguiu para outro hospital, no Recife, onde o aborto foi feito já no dia seguinte. Eu fiquei muito angustiado.
O senhor sabe como era a vida da menina dentro da casa onde ocorriam os estupros?Com licença, esses detalhes eu não sei. Se alguém tiver interesse, o caminho mais curto é ligar para o padre da cidade de Alagoinha e perguntar.
Qual é o nome dela?
O senhor sabe como era a vida da menina dentro da casa onde ocorriam os estupros?Com licença, esses detalhes eu não sei. Se alguém tiver interesse, o caminho mais curto é ligar para o padre da cidade de Alagoinha e perguntar.
Qual é o nome dela?
A menina... Como se chama? (A pergunta é dirigida às cinco pessoas que acompanharam a entrevista a pedido do arcebispo; ninguém sabe responder.)
Como o senhor se sente em face das críticas e dos ataques que vem recebendo?
Como o senhor se sente em face das críticas e dos ataques que vem recebendo?
Eu quero dizer que estou com a minha consciência tranquila. Cumpri o meu dever. Não podia prever essa reação em nível nacional e internacional, mas remorso eu sentiria se tivesse ficado em silêncio. Humanamente falando, é muito mais cômodo cruzar os braços e fechar os olhos. Eu estou tranquilíssimo. Espero que os fiéis católicos se conscientizem da gravidade de um aborto. Nós sabemos que no mundo inteiro acontecem 50 milhões de abortos por ano. No Brasil, há 1 milhão a cada ano. Quero lembrar o que aconteceu na II Guerra Mundial. Hitler, aquele ditador, queria eliminar o povo judaico e dizem que ele chegou a matar 6 milhões de judeus. Não podemos esquecer esse delito. Agora, eu pergunto: por que vamos ficar em silêncio quando estão acontecendo 50 milhões de abortos no mundo? Eu chamo isso de o holocausto silencioso. E nós, cristãos, não podemos ficar quietos.
Do ponto de vista da doutrina da Igreja, qual é a situação da menina?
Do ponto de vista da doutrina da Igreja, qual é a situação da menina?
Ela não foi excomungada, porque essa sentença só se aplica a maiores de idade. Essa menina vai ser recebida na paróquia dela para ter instrução religiosa. Eu não sei se fez a primeira comunhão. Se ela tiver consciência de algum pecado, vai se confessar e receber o perdão. Não existe pecado sem perdão para aqueles que se arrependem, inclusive para os que incorrem na excomunhão. A Igreja só aplica essa penalidade para levar a pessoa à conversão ou, se era católica antes, à nova conversão. Se a pessoa se converte, a Igreja tem poderes para absolvê-la.
Se o senhor ficasse frente a frente com a menina, o que diria a ela?
Se o senhor ficasse frente a frente com a menina, o que diria a ela?
Eu diria: o que aconteceu já passou. Daqui para a frente, procure praticar a religião com os meninos da sua idade, ir para a igreja e aprender o catecismo. Seria tão bom se as criancinhas fossem como antigamente, quando nem tinham uso da razão mas já sabiam rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
Se encontrasse o padrasto que a violentou, o que diria a ele?
Se encontrasse o padrasto que a violentou, o que diria a ele?
Eu iria procurar convertê-lo. Iria perguntar se reconhece que errou e se está arrependido. Eu não sei onde ele está, se está preso, sei lá. Mas, se tivesse a oportunidade de visitá-lo, diria a ele que pedisse perdão a Deus. Iria ajudá-lo a fazer uma oração pedindo perdão.
O senhor acredita que uma educação religiosa poderia ter evitado o estupro?Certamente. E o aborto também. Soube esses dias de um caso parecido, mas que teve um desenrolar muito diferente. É uma menina de 12 anos, do Rio Grande do Sul, que também engravidou assim. A diferença é que o médico dela me ligou dizendo que não vai fazer o aborto. Esse é um exemplo edificante que, infelizmente, não encontra muita difusão na imprensa. Outro exemplo: dia desses, uma mulher da mesma diocese dessa menina (pernambucana), que tinha um filho de 1 ano e meio, engravidou de novo. Ela não queria ter esse segundo filho. Então, foi procurar um médico querendo abortar e levou o menino mais velho junto, para dizer que não tinha condições. Mas o médico era católico e disse à mulher que, já que ela não podia ter dois filhos, ele ia matar o primeiro e ela ficava com o segundo, o que estava na barriga. A mulher, na hora, despertou e não aceitou mais o aborto.
O senhor já fez sermões contra a pedofilia, contra o estupro?
O senhor acredita que uma educação religiosa poderia ter evitado o estupro?Certamente. E o aborto também. Soube esses dias de um caso parecido, mas que teve um desenrolar muito diferente. É uma menina de 12 anos, do Rio Grande do Sul, que também engravidou assim. A diferença é que o médico dela me ligou dizendo que não vai fazer o aborto. Esse é um exemplo edificante que, infelizmente, não encontra muita difusão na imprensa. Outro exemplo: dia desses, uma mulher da mesma diocese dessa menina (pernambucana), que tinha um filho de 1 ano e meio, engravidou de novo. Ela não queria ter esse segundo filho. Então, foi procurar um médico querendo abortar e levou o menino mais velho junto, para dizer que não tinha condições. Mas o médico era católico e disse à mulher que, já que ela não podia ter dois filhos, ele ia matar o primeiro e ela ficava com o segundo, o que estava na barriga. A mulher, na hora, despertou e não aceitou mais o aborto.
O senhor já fez sermões contra a pedofilia, contra o estupro?
Nós temos na arquidiocese uma rádio católica. Eu tenho um programa diário e estou explicando ao povo o catecismo da Igreja. Leio um parágrafo e faço um comentário. Estou cumprindo o meu dever. E falo sobre todos os pecados. Ninguém pode dizer que dom José não condena a pedofilia e que dom José não condena o estupro. Mas não posso falar diariamente sobre a pedofilia. Vão dizer que estou louco. Eu não omito nenhum tema da lei de Deus.
Os adversários da Igreja são rápidos em reavivar os erros do passado, como a Inquisição e as perseguições religiosas, e projetá-los no presente. A Igreja raramente rebate. Isso significa que ela se desacostumou do embate de ideias?Não. O que acontece é que a doutrina teológica diz que qualquer problema teológico, na história da Igreja, tem de ser escutado para ver quais são as opiniões. A diversidade de opiniões é permitida na Igreja. Agora, quando se trata de dogmas, a Igreja não pode admitir que se discorde. Quem não aceita esses dogmas está fora. E não adianta um católico dizer que, porque uma lei brasileira permite tal coisa, ele pode fazer essa coisa, como é o caso do divórcio, e ficar tranquilo. Fica não.
O senhor tem mais algo a dizer sobre o caso?
Os adversários da Igreja são rápidos em reavivar os erros do passado, como a Inquisição e as perseguições religiosas, e projetá-los no presente. A Igreja raramente rebate. Isso significa que ela se desacostumou do embate de ideias?Não. O que acontece é que a doutrina teológica diz que qualquer problema teológico, na história da Igreja, tem de ser escutado para ver quais são as opiniões. A diversidade de opiniões é permitida na Igreja. Agora, quando se trata de dogmas, a Igreja não pode admitir que se discorde. Quem não aceita esses dogmas está fora. E não adianta um católico dizer que, porque uma lei brasileira permite tal coisa, ele pode fazer essa coisa, como é o caso do divórcio, e ficar tranquilo. Fica não.
O senhor tem mais algo a dizer sobre o caso?
Sim, eu lamento não poder ter feito o batizado desses dois bebês. Eu estava planejando uma festa para esse dia, mas não aconteceu.
6 comentários:
Oh, Coitado do Dedé. Lamenta não ter feito o batizado dos dois bebês da menina que ele não sabe nem o nome. É por isso que a igreja católica está se evaporando (vai demorar um pouco, ela é muito rica). Com velhos caquéticos assim a igreja católica não precisa de inimigos!
Admiro sua persistência em defender Dedé quando até setores do Vaticano já admitem que a atitude dele foi extremamente prejudicial pra coitada da igreja. Oh, que pena!
Respeito o seu "jus esperniandi". Isso não causa constrangimento nem irritação. As opiniões contrárias são parte de uma sociedade democrática. Sem problemas.
Há dois mil anos os inimigos da Igreja dizem que ela está se evaporando.
Nero - quando incendiou Roma atribuindo o fato aos cristãos - disse; Isso é o fim do cristianismo!
Deu com os burros n'água.
Como vão dar, também, os que, apressados, dizem que a "Igreja Católica está se evaporando".
Se ela está se evaporando por que tantas pessoas vivem a atacá-la?
Ninguém perde tempo com um paciente em estado terminal ou com morte cerebral...
Quanto aos "setores do Vaticano" que "não concordam" com o Senhor arcebispo de Recife - Dom José Cardoso Sobrinho - duvido que isso exista. Você leu a tradução em português do artigo do Monsenhore Salvatore Rino Fisichella?
Faça isto. É só pesquisar na Internet.
A única notícia oficialmente divulgada pelo Vaticano (reproduzida pela mídia mundial) foi a abaixo, :
Cardeal do Vaticano defende excomunhão da mãe de menina que fez aborto
da Agência Folha, em Recife
da Folha de S.Paulo
O cardeal Giovanni Battista Re, presidente da comissão pontifícia para a América Latina do Vaticano, defendeu ontem a excomunhão da mãe da menina de nove anos que abortou gêmeos, após ser estuprada e engravidada pelo padrasto em Alagoinha (230 km de Recife).
"É um caso triste, mas o verdadeiro problema é que os gêmeos concebidos eram pessoas inocentes que tinham o direito à vida e não podiam ter sido eliminados", afirmou Re ao jornal italiano "La Stampa", ontem.
Cidade do Vaticano, 15 mar (RV) - O presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Rino Fisichella, comentou no jornal da Santa Sé, L´Osservatore Romano, o caso da menina brasileira de nove anos que interrompeu a gravidez de dois gêmeos concebidos após ser violentada pelo seu padrasto em Alagoinha (PE).
A seguir o texto do arcebispo Dom Rino Fisichella com a tradução livre de Mariângela Jaguraba.
"O debate sobre algumas questões freqüentemente se torna cerrado e as diferentes perspectivas nem sempre permitem considerar o quanto o acontecimento em jogo seja realmente grande. É este o momento em que se deve olhar o essencial e, por um momento, deixar de lado aquilo que não toca diretamente o problema. O caso em sua dramaticidade é simples. Uma menina de apenas nove anos, a quem chamaremos Carmen, e a quem devemos olhar fixamente nos olhos sem distrair sequer um minuto, para fazê-la entender o quanto a queremos bem. Carmen, em Alagoinha, foi violentada várias vezes pelo seu jovem padrasto, engravidou de dois gêmeos e nunca mais teve uma vida tranqüila. A ferida é profunda porque a violência a destruiu por dentro e dificilmente lhe permitirá no futuro olhar os outros com amor.
Carmen representa uma história de violência cotidiana e ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife se apressou em excomungar os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, infelizmente, teria passado despercebida, pois estamos acostumados a ver todos os dias fatos de uma gravidade sem igual, se não fossem as reações causadas pela atuação do bispo. A violência sobre uma mulher é grave, e se torna ainda mais deplorável quando perpetrada contra uma menina pobre, que vive em condição de degradação social. Não existe linguagem correspondente para condenar tais episódios, e os sentimentos que surgem são muitas vezes uma mistura de raiva e de rancor que se acalmam somente quando é a justiça é feita e se tem certeza de que o criminoso será punido.
Carmen deveria ter sido em primeiro lugar defendida, abraçada, acariciada com doçura para fazê-la sentir que estamos todos com ela; todos, sem exceção. Antes de pensar na excomunhão era necessário e urgente salvaguardar sua vida inocente e recolocá-la num nível de humanidade da qual nós homens de Igreja devemos ser anunciadores e mestres. Assim não foi feito e, infelizmente, a credibilidade de nosso ensinamento sofre com isso, pois aparece aos olhos de muitos como insensível, incompreensível e sem misericórdia. É verdade, Carmen trazia consigo outras vidas inocentes como a sua, não obstante fossem frutos da violência, e foram ceifadas; isso, todavia, não basta para fazer um julgamento que pesa como uma guilhotina.
No caso de Carmen se confrontaram a vida e a morte. Por causa de sua tenra idade e de suas condições de saúde precárias sua vida corria sério risco por causa da gravidez. Como agir nestes casos? Decisão árdua para o médico e para a lei moral. Escolha como esta, mesmo como uma casuística diferente, se repetem cotidianamente nas salas de tratamento intensivo e o médico se encontra só no ato de decidir o que fazer. Ninguém chega a uma decisão desse tipo com desenvoltura; é injusto e ofensivo pensá-lo.
O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos e não pode consentir chegar a um julgamento negativo sem antes considerar o conflito criado em seu íntimo. O médico traz consigo sua história e sua experiência; uma escolha como essa de ter que salvar uma vida, sabendo que coloca em sério risco outra, jamais é vivida com facilidade. Certo, alguns se acostumam a tais situações que e as vivem sem sentimento; nestes casos, porém, a vocação de ser médico é reduzida apenas a uma profissão vivida sem entusiasmo e passivamente. Fazer de um caso um todo, além de incorreto seria injusto.
Carmen repropôs um caso moral entre os mais delicados; tratá-lo de forma rápida não faria justiça nem à sua frágil pessoa nem aos que estão envolvidos no caso. Como todo caso singular e concreto, merece ser analisado de forma peculiar, sem generalizações. A moral católica possui princípios dos quais não pode prescindir, mesmo o se quisesse. A defesa de uma vida humana desde a sua concepção pertence a um destes princípios e se justifica pela sacralidade da existência. Todo ser humano, de fato, desde o primeiro instante de vida traz consigo a imagem do Criador, e por isto estamos convictos de que devem ser reconhecidos os direitos e a dignidade de toda pessoa, primeiro entre todos o de sua intangibilidade e inviolabilidade. O aborto não espontâneo sempre foi condenado pela lei moral como um ato intrinsecamente mau e este ensinamento permanece imutável em nossos dias desde os primórdios da Igreja. O Concílio Vaticano II na Gaudium es spes - documento de grande abertura e perspicácia em relação ao mundo contemporâneo - usa de forma inesperada palavras inequívocas e duríssimas contra o aborto direto. A colaboração formal constitui uma culpa grave que, quando realizada, exclui automaticamente da comunidade cristã. Tecnicamente, o código de Direito Canônico usa a expressão latae sententiae para indicar que a excomunhão se atua automaticamente no momento em que o fato acontece.
Não era preciso tanta urgência e publicidade ao declarar um fato que se realiza de maneira automática. O que se sente maior necessidade neste momento é o sinal de um testemunho de proximidade a quem sofre, um ato de misericórdia que, mesmo mantendo firme o princípio, é capaz de olhar além da esfera jurídica para atingir aquilo que o direito prevê como objetivo de sua existência: o bem e a salvação daqueles que crêem no amor do Pai e daqueles que acolhem o Evangelho de Cristo como as crianças, que Jesus chamava para junto de si e as abraçava dizendo que o reino dos céus pertence a quem é como elas.
Carmen, estamos do seu lado. Partilhamos o sofrimento pelo qual passou, queremos fazer de tudo para lhe restituir a dignidade que lhe foi tirada e o amor de que você precisa ainda mais. São outros que merecem a excomunhão e o nosso perdão, não os que lhe permitiram viver e ajudam a recuperar a esperança e a confiança, não obstante a presença do mal e a maldade de muitos".
Dedé pensava , isto sim, fazer o enterro dos três e depois dizer que seriam recebidos no céu por todos os anjos. Depois do puxão da orelha do Vaticano e de ter colocado o holofote em cima de uma instituição que gosta de trabalhar às sombras, deve agora caminhar para a aposentdoria e já vai muito tarde.Não podia ter escolhido sair de forma mais digna e menos espalhafatosa ?
Procurei com uma lupa e não consegui ver o puxão-de-orelha. Dom José já pediu sua aposentadoria há quase um ano e sairá mais admirado do que quando chegou à arquidiocese.
Abaixo a coluna de hoje do jornalista Valdemar Menezes (que foi guerrilheiro do PCdoB na guerrilha do Araguaia, nos anos 70) no jornal "O Povo":
DA CORAGEM CRISTÃ
O País envolveu-se em uma polêmica apaixonada, nas últimas semanas, por conta do drama comovente que atingiu uma garotinha de nove anos, estuprada e engravidada de gêmeos pelo padrasto e que teve os fetos abortados em decorrência da intervenção de uma equipe médica. O fato de a Igreja Católica ter reagido contra o aborto, alertando que católicos nele envolvidos tinham incorrido automaticamente em excomunhão (pena que impede o infrator de participação nos sacramentos da Igreja até que manifeste arrependimento pelo ato) desencadeou uma tempestade de impropérios contra o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso (que não é o responsável pela excomunhão, mas apenas cumpriu o dever de ofício, como bispo, de avisar à comunidade católica sobre a violação do Código de Direito Canônico).
FUNDAMENTOS
É do direito das organizações terem normas internas para reger a vida de seus integrantes. A Igreja não foge à regra. Desde o século I, firmou um princípio sobre o aborto no seu mais antigo documento interno conhecido, a Didaché: "Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido". Orientação que está, portanto, nos fundamentos da Igreja. Quando alguém ingressa nela assume essa Tradição. Ninguém é obrigado a ser católico. Se quiser ser, terá de arcar com as consequências. Fica sem sentido a discussão da excomunhão por quem não acredita no Magistério da Igreja. Por falar nisso, a entidade "Católicas pelo direito de decidir" não tem nada de católica - segundo a Igreja.
ILUSÃO
Muitos que se dizem "simpáticos" à posição política "progressista" de alguns setores da Igreja se iludem imaginando que bispos, como dom Hélder Câmara, teriam posição diferente da doutrina originária. Aliás, certos padres, hoje, deixam passar a impressão de pusilanimidade e demagogia (e até falta de fé), quando receiam posicionar-se contra a corrente. Felizmente, nem todos: o arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto, por exemplo, teve a coragem de proibir um padre-deputado de exercer o ofício religioso, depois que este defendeu publicamente princípios contrários aos da Igreja. Foi por falta dessa firmeza que o anglicanismo entrou em parafuso e hoje cada cabeça, lá, constrói sua própria doutrina.
CIÊNCIA
Quanto ao aspecto eminentemente científico, alguns especialistas, como a ginecologista e obstetra paulista dra. Elizabeth Kipman Cerqueira, afirmam que o aborto foi precipitação: a Medicina teria condições de ajudar a menina a manter a gestação até o tempo mínimo em que os bebês pudessem ser retirados com chances de vida, através de uma cesariana, salvando-se os três. Contudo, o lobby abortista viu no episódio uma ocasião excelente para abrir espaço à sua proposta de legalização do aborto, sob o argumento de que este faz parte do direito da mulher sobre o próprio corpo. Só que o feto é outro corpo, outro ser, outra vida, não mais uma extensão do corpo da mãe.
AUTORIDADE
As explicações da CNBB de que, no caso concreto, as responsabilidades das pessoas devem ser confrontadas com as circunstâncias (se tinham conhecimento prévio, ou não, da sanção em que poderiam incorrer, e o tipo de pressão a que estavam submetidas) fazem parte realmente dos procedimentos para a efetivação da excomunhão. Mas, isso não significa a desautorização do arcebispo de Olinda e Recife, como concluíram equivocadamente algumas pessoas. Aliás, a CNBB não tem poder canônico para passar por cima da autoridade de nenhum bispo diocesano, só o papa.
Caro Armando,
Eu conheço a Igreja de perto. D. José renunciou obrigatorimanet ao completar os 75 anos, mas ainda continua latindo por lá. A partir de agora, conte os dias, será afastado pouco a pouco e substituído literalmente. Cometeu um erro gravíssimo, abrir uma polêmica a nível internacional, uma divisão que inclusive apareceu claramente dentro da própria Igreja. Esta visão não é minha mas de padres com quem convivo e que não devem conhecer a estrutura da instituição como você, mas entendem ainda um pouquinho. O puxão não é público, mas quando foi que vc viu, a CNBB recuar, como recuou, o Vaticano por o pé atrás num órgão oficial como é o "L´Osservatore Romano" ? É questão de dias ele ter que ir tratar a sua Alzeiheimerzinha...
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