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quarta-feira, 18 de março de 2009

Padre Cícero pensou ser missionário na China – por Armando Lopes Rafael



Em matéria divulgada nesta 4ª feira, dia 18, sobre livros remanescentes da biblioteca pertencente ao Padre Cícero, a repórter Elizângela Santos, do “Diário do Nordeste”, escreveu que dentre os 600 volumes, (foto de Elizângela Santos, ao lado) ainda existentes, consta um “dicionário de português para chinês”.
A primeira vista trata-se de um coisa estranha. Padre Cícero interessado em um idioma da China?
Para quem já leu um pouco sobre a vida daquele sacerdote, o fato não surpreende.
No primeiro capítulo do seu livro “O Patriarca de Juazeiro”, à página 23, (2ª edição, Ediora Vozes Limitada, 1969) o Padre Azarias Sobreira escreveu:

“Nos dois últimos anos que precederam sua ordenação de presbítero, o clérigo Cícero Romão Batista andou lendo jornais e revistas do Velho Mundo, que pintavam, de maneira impressionante, os esforços titânicos da Igreja, através da Propaganda Fide, para a evangelização dos chineses. E tais entusiasmos a grandiosa perspectiva gerou em sua alma, que, sem mais hesitar, deliberou oferecer-se, como voluntário, para as temerosas missões da China.
Já estava concertando o projeto da partida, quando João Brígido, amigo particular de sua família, no Crato, veio a tomar conhecimento daquela inesperada e atordoante resolução.
Foi quanto bastou para que o desabusado e indomável panfletário, conhecido, já então, pelo seu agnosticismo, perdesse a calma e se desentranhasse em protestos foribundos, aptos para desnortear uma vontade resoluta.
– Não sei (teria dito João Brígido) não sei que religião é essa, que vocês aprendem no seminário. Religião contraditória, que manda amar o próximo, como a si mesmo, e bate palmas a um filho que vai abandonar a mãe viúva, tendo nele o seu único arrimo e cuja única fortuna são duas filhas órfãs. Arrenego desse seu espírito missionário, que se larga, assim, para ensinar o cristianismo aos pagãos do fim do mundo, quando nós temos um milhão de selvagens sem batismo e milhões de batizados que não conhecem a Deus e ainda menos o abecê.
O plano de evangelizar o Oriente caiu por terra, não resta dúvida” (...)

A matéria do “Diário do Nordeste” publicou ainda, que, segundo o padre José Venturelli:
“(alguns dos livros) são do período em que o sacerdote era estudante. Ele supõe isto, já que a assinatura não consta como padre, de acordo com boa parte em que ele descreve: “pertence ao padre Cícero”, com local e data, no caso ainda assinava “Joaseiro”.

Fica explicado a razão do Padre Cícero possuir em sua biblioteca um dicionário Português-Chinês....

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