"Al primer muerto nunca lo olvidamos."
Octavio Paz
no cemitério onde depositei teu corpo
vejo-me outro morto entre pessoas de rosto
abatido por causa de um parente velado
homens e mulheres se olham e se abraçam
o cemitério se abre com suas cores do barro
e meus passos me guiam entre covas
de flores queimadas pelas várias línguas do sol
desço por todos os caminhos, e no espaço entre as covas
os olhos cavam centímetro a centímetro
mas foges no ar que se afoga no fogo do meio dia
muros demarcam a fronteira, separação dos labirintos
de ruas, bares, dos caminhos entre as covas
somos todos a tristeza daqui, fome nos bolsos, sob as unhas,
cristalizada nos calos a semente da injustiça
onde estás?
fundiram-nos numa única morte
serei filho e pai em tua morte
ainda é cedo para dizer quão inútil
é deixar-te a cor de minha pele como herança
“por confiares demasiadamente na serenidade”
da cidade, tu foste, yaakov, repousar teu corpo
nas planícies do sonho, nos cimos das torres
sobra um sorriso na ondulação da tarde
desprezo que sabemos na volta para casa
vivo
e vivendo duvido
e reproduzo a semana passada
2 comentários:
Chagas,
É por demais aprazível encontrar poesia neste cenário árido do último tempo.
Vamos regar essas flores que teimam em resistir ao ácido cáustico espargido pelo vento.
Abraços!
Sem dúvida, Carlos, vamos fazer o esforço de mantê-las vivas, apesar de tudo.
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