TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 11 de abril de 2009

Cristo vem ?

Tenho um dileto amigo muito religioso. Ele não é um católico praticante, desses que fazem da atividade religiosa uma missão e, às vezes, mesmo uma obsessão. No entanto, traz consigo uma fé sedimentada, dessas que reluzem , iluminam e tranqüilizam aqueles que dele se aproximam. Nesta Semana Santa me faz ele uma revelação e me deixa atônito. Os católicos todos esperam a volta do Cristo, os evangélicos o aguardam a qualquer momento, têm até o slogan: “Cristo Vem!” e os judeus estão certos de que o Messias ainda não veio, que Cristo foi apenas um profeta , como Isaias, e imaginam que em breve Ele aqui estará entre nós. Em outras palavras: todos os Cristãos O esperam ansiosamente, uns o retorno, outros a vinda.
Pois bem, meu amigo, do alto da sua espiritualização, em plena Páscoa, mal disfarçando a tristeza, me revela: “Cristo não vem mais à Terra”, é triste mais cheguei a esta drástica conclusão. Absorto, ouço sua argumentação que, segundo ele, foi germinando pouco a pouco no seu coração e, quando menos esperava, brotou como rosa feita, imutável , uma dura constatação.
Há 2000 anos cá Ele esteve entre nós. Sua mensagem sempre foi de paz, de harmonia e de amor entre os homens e seus semelhantes. Revelou um Deus novo que parecia ser à nossa imagem e semelhança. Aquele Deus do Velho Testamento que nos foi apresentado como um Senhor de longas barbas brancas, mais para o temor que para o amor, aquele que pedia a Abraão para sacrificar o filho, que secou o braço de Oza e transformou uma mulher em estátua de sal , de repente, quando se fez homem, foi substituído por um Deus compreensivo, dado à piedade e com todas as características de um pai verdadeiro --- mais afeito ao perdão que à punição.
Ora, me diz o amigo, pois esse Deus, mal conseguiu viver 33 anos e foi levado torturado e sacrificado junto com míseros ladrões comuns. Se Ele retornasse agora, teria destino diferente? Me pergunta ele. Imagine o Sermão da Montanha, teria que ser feito com toda a mídia apoiando e com a turba cantando: “Erguei as mãos e dai glória a Deus!” E já pensou- me retruca ele- o trabalho que teria para expulsar os vendilhões do templo ? Esses mercadores, hoje ,proliferaram de tal maneira, construíram templos próprios e adoram novos e disfarçados bois de ouro, que expulsá-los seria uma hercúlea tarefa. Milagres como o dos peixes, dos pães, de Lázaro, seriam expostos ao ridículo e , certamente, nos domingos, Mister M aparecerá no “Fantástico” , tentando mostrar que foram farsas e simples trucagens. Aquele período da vida do redentor da humanidade, entre os 8 e 30 anos , que os evangelhos nada contam, será apresentado, agora, em versão modernizante, escrita por um jornalista sensacionalista qualquer, como uma “Biografia não autorizada de Cristo” e é fácil se concluir as aterrorizantes revelações que poderão ser inventadas. Meu religioso amigo ainda estende suas preocupações: E a Ceia Larga, já imaginou a quantidade de paparazzi presente? A passagem de São Pedro decepando a orelha do soldado, certamente será apresentada no “Ratinho”. Cristo, certamente, já deve ter chegado à conclusão de que na sua primeira estada na Terra, teve apenas um alcagüete : “Judas”. Já nos seus novos discípulos, seria tão fácil encontrar pessoas em busca de um objetivo comunitário, quando hoje, todos fazem Programação Neuro-Lingüística , com fins de esmagar todos concorrentes e se tornarem os únicos vencedores ? O Julgamento, me diz ele, então ,seria uma barbada, novamente Barrabás iria para o trono com determinação direta do juiz, uma vez que já não há Pilatos para lavar as mãos.
Meu sacro amigo, com ar triste, mas resignado, conclui: E já imaginou a cobertura da tortura e do Gólgota? Seria feita possivelmente por Galvão Bueno, em rede mundial, com a entonação de quem relata o piripaque do Ronaldinho! Cristo não volta, pode ficar certo, afirma o amigo, além do mais, naquele tempo Ele foi crucificado entre dois ladrões e um era bom; imagine hoje onde colocar os ladrões todos crucificados, era preciso destruir a floresta Amazônia para se fazer cruz e crucificá-los no Everest, única montanha capaz de abrigar tantos larápios: do orçamento, da câmara de São Paulo, do INPS, dos Bancos, das privatizações etc.
Digo a meu amigo que talvez ele esteja certo, mas fiquei meditando se na realidade Ele tinha um dia nos deixado. Em apenas alguns anos Cristo modificou todos os rumos da humanidade e continua vivo , como nunca. O Cristianismo instituido é um mero arremedo do que pregou, mas sua palavra é que determina as ações críticas do homem neste planeta. O ato da sua ressurreição nos fez ver que todos temos o poder de reviver a cada momento. Nossos crepúsculos não determinam o fim do dia, mas a perspectiva da aurora vindoura. A cada instante podemos ressuscitar na esperança e construir um mundo melhor , mais harmônico e mais justo.

J. Flávio Vieira

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