Não sei o que tem isso a ver com Monteiro Lobato. Mas, o diabo, é que acordei pensando em Monteiro Lobato...
Fico a imaginar o que escreveria Monteiro Lobato – caso vivesse nos dias atuais – sobre a série de escândalos que vêm grassando nos três poderes da república brasileira.
Para quem não sabe, Monteiro Lobato foi um dos bons intelectuais brasileiros do século passado. Ele abraçou idéias marxistas; escrevia muito bem e era conhecido pela coragem de dizer o que pensava, sem preocupação de desagradar. Foi também ardoroso defensor das idéias republicanas – antes, e nos primeiros dias pós golpe militar de 15 de novembro de 1889 – mas quando viu os frutos advindos da Proclamação da República, escreveu, em 1918, um artigo com o título de “Dom Pedro II era a luz do baile”.
Permita-me compartilhar com o caro leitor a dois trechos do artigo citado:
“O fato de existir na cúspide da sociedade um símbolo vivo e ativo da Honestidade, do Equilíbrio, da Moderação, da Honra e do Dever, bastava para inocular no país em formação o vírus das melhores virtudes cívicas. O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O político visava o bem público, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilizava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, o defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mau cidadão enfim, e mau por força dos pendores congeniais, passava, muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniqüidade – mas sofreava as rédeas dos maus instintos a simples presença da Eqüidade e da Justiça no trono”.
“Ignorávamos isso na monarquia. Foi preciso que viesse a república, e que alijasse do trono a Força Catalítica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno. A mesma gente, o mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário até 15 de novembro (de 1889), bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, a ordem de soltura, desaçamaram a alcatéia dos maus instintos mantidos em quarentena. Daí o contraste dia a dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezem na curul republicana”.
Ah! Monteiro Lobato! O que escreveria você sobre os dias atuais?
Para quem não sabe, Monteiro Lobato foi um dos bons intelectuais brasileiros do século passado. Ele abraçou idéias marxistas; escrevia muito bem e era conhecido pela coragem de dizer o que pensava, sem preocupação de desagradar. Foi também ardoroso defensor das idéias republicanas – antes, e nos primeiros dias pós golpe militar de 15 de novembro de 1889 – mas quando viu os frutos advindos da Proclamação da República, escreveu, em 1918, um artigo com o título de “Dom Pedro II era a luz do baile”.
Permita-me compartilhar com o caro leitor a dois trechos do artigo citado:
“O fato de existir na cúspide da sociedade um símbolo vivo e ativo da Honestidade, do Equilíbrio, da Moderação, da Honra e do Dever, bastava para inocular no país em formação o vírus das melhores virtudes cívicas. O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da Honestidade no trono. O político visava o bem público, se não por determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilizava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, o defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso, o mau cidadão enfim, e mau por força dos pendores congeniais, passava, muitas vezes, a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniqüidade – mas sofreava as rédeas dos maus instintos a simples presença da Eqüidade e da Justiça no trono”.
“Ignorávamos isso na monarquia. Foi preciso que viesse a república, e que alijasse do trono a Força Catalítica para patentear-se bem claro o curioso fenômeno. A mesma gente, o mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário até 15 de novembro (de 1889), bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo, na ausência do imperial freio, a ordem de soltura, desaçamaram a alcatéia dos maus instintos mantidos em quarentena. Daí o contraste dia a dia mais frisante entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob qualquer das boas intenções quadrienais que se revezem na curul republicana”.
Ah! Monteiro Lobato! O que escreveria você sobre os dias atuais?
7 comentários:
Caro Armando, outro dia li no Livro "Nitroglicerina Pura",o episódio da prisão de Monteiro Lobato na ditadura de Vargas por causa de uma carta enviado a Getúlio Vargas em carater privado e que acabou publicada na imprensa.Tudo pela intrasigente defesa que fazia do petróleo nacional e que irritou o ditador.Realmente foi um homem brilhante...abraço
É verdade.
Hoje só se condena a ditadura militar. Na de Vargas, o advogado Sobral Pinto pedia que os presos políticos fossem tratados pelo menos dentro da Lei de Proteção aos Animais já que a eles não era concedido nenhum direito humano.
Mas vamos ao caso de Monteiro Lobato:
Em 24 de maio de 1940, o escritor Monteiro Lobato, em plena ditadura do "Estado Novo", escreveu uma carta ao presidente Getúlio Vargas, logo seguida de outra ao general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, verberando a “displicência do sr. Presidente da República, em face da questão do petróleo no Brasil, permitindo que o Conselho Nacional do Petróleo retarde a criação da grande indústria petroleira em nosso país, para servir, única e exclusivamente, os interesses do truste Standard-Royal Dutch”.
Em 27 de janeiro de 1941, a Superintendência de Segurança Política e Social de São Paulo procedeu a uma busca e apreensão de documentos no prédio da Rua Felipe de Oliveira, 21, 9º andar, sala 4, onde se sediava o escritório de José Bento de Monteiro Lobato. Dentre os documentos encontrados estava a cópia da carta que o escritor remetera ao gen. Góes Monteiro, vazada nos mesmos termos daquela que enviara ao Presidente da República.
O escritor é levado à DEOPS, qualificado e transferido para a Casa de Detenção (Presídio Tiradentes), onde permanece incomunicável durante quatro dias. Em nova operação policial, desta vez na sede da Companhia Matogrossense de Petróleo, são apreendidos mais documentos.
Na cadeia, Lobato escreve ao general Horta Barbosa e agradece: "Passei nesta prisão, General, dias inolvidáveis, dos quais me lembrarei com a maior saudade. Tive o ensejo de observar que a maioria dos detentos é gente de alma muito mais limpa e nobre do que muita gente de alto bordo que anda à solta".
Aliás – e por oportuno – o que esta República nos legou ao longo de sua existência?
- 2 longas ditaduras;
- 9 golpes de Estado;
- 13 ordenamentos constitucionais;
- 4 Assembléias Constituintes;
- 10 Repúblicas;
- 49 revoltas de projeção.
– 22 Presidentes, abrangendo quase 80 anos, governaram o País com a decretação de Estado de Sítio, ou outros instrumentos de excessão.
– O Congresso, em nome da liberdade, foi fechado 6 vezes, inclusive pelo primeiro Presidente, Marechal Deodoro da Fonseca.
–Censuras diversas nos meios de comunicação, bem como fechamento de jornais e periódicos.
– Cassações, banimentos políticos, fechamento de sindicatos.
- Corrupção nos 3 Poderes, falência da educação, saúde e segurança pública...
Bons tempos o do Monarquia : "Para entender melhor essas diversidades, é preciso recuar um pouco, para abranger quem eram esses brasileiros, que o primeiro censo, de 1872, fixava em 9.930.478 habitantes – mais do que o dobro da população calculada em 1819, de cerca de 4, 6 milhões de pessoas. De acordo com este primeiro censo, "do ponto de vista racial, os mulatos constituíam cerca de 42% da população, os brancos 38% e os negros 20%" . A chegada de imigrantes europeus (em torno de 300 mil, entre 1846 e 1875) aumentou a porcentagem de brancos, que constituíam menos de 30% do total de habitantes em 1819.
A população brasileira era, em sua maioria, analfabeta:
Os primeiros dados sobre instrução mostram enormes carências nessa área. Em 1872, entre os escravos, o índice de analfabetos atingia 99,9% e entre a população livre aproximadamente 80%, subindo para mais de 86% quando considerarmos só as mulheres. Mesmo descontando-se o fato de que os percentuais se referem à população total, sem excluir crianças nos primeiros anos de vida, eles são bastante elevados. Apurou-se ainda que somente 16,85% da população entre seis e quinze anos freqüentavam escolas. Havia apenas 12 mil alunos matriculados em colégios secundários. Entretanto, calcula-se que chegava a 8 mil o número de pessoas com educação superior no país. Um abismo separava, pois, a elite letrada da grande massa de analfabetos e gente com educação rudimentar."
Grande Zéflávio:
É sempre interessante a gente ler suas intervenções.
Com todo respeito: nem precisa remoer o seu ranço antimonárquico recuando para as estatísticas do século 19.
Recuemos apenas 10, 15 anos atrás após mais de cem anos do “paraíso” republicano.
O analfabetismo funcional (de pessoas capazes de ler e escrever o seu próprio nome, alguns rótulos de produtos mercantis, efetuar continhas básicas de soma e subtração, mas incapazes de ler jornais, livros ou revistas) cresceu assustadoramente. O Brasil deixa uma posição lamentável de analfabetismo para chegar a uma situação calamitosa.
Se no início da década de 90 (há 19 anos) o analfabetismo causava preocupação, chegamos ao final da década e início do século XXI com um analfabetismo que nos coloca muito atrás da Índia e de Bangladesh, países cuja pobreza é endêmica.
Outro dia a Folha de S.Paulo trouxe interessante matéria destacando que mesmo no estado de São Paulo – o mais adiantado da federação – promovem-se alunos nas escolas sem que estes apresentem rendimento escolar, “é proibido reprovar”. Resultado? O nível de ensino vem caindo pavorosamente.
E se formos nos situar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano medido pela ONU) é bom saber que o ranking considera 177 países e territórios. O índice reúne os indicadores de educação, esperança de vida ao nascer e PIB per capita dos países.
O Brasil caiu uma posição no ranking do IDH de 2003 para 2004 segundo estudo divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Neste período, a posição do Brasil no ranking recuou de 68ª para 69ª. Os cinco melhores colocados nesse ranking são: Noruega (1º), Islândia (2º), Austrália (3º), Irlanda (4º) e Suécia (5º).
Outro dia o nosso amigo Antônio Morais recomendava: vamos dar uma voltinha aqui mesmo nos arredores de Crato: Pantanal, Baixada Fluminense, Batateira, Morro da Coruja ou na Grota...
Ali constataremos um desenvolvimento que vai orgulhar-nos de viver num país que emprestou quase 5 bilhões de dólares ao FMI...
"Ah! Monteiro Lobato! O que escreveria você sobre os dias atuais?"
Não faço a mínima idéia, caro Armando.
Com tanta iniquidade a acontecer,
tão perto e tão longe,
nesta longa e tempestuosa noite,
talvez viesse a entender
que o melhor mesmo é virar monge,
ficar calado e aguentar o açoite
até ao novo amanhecer...
Caro Armando quando postei o comentário fiquei deveras tentado a relatar esse episodio,mas achei que poderia estender demais o que seria um comentário.Voce o fez de forma brilhante.Um abraço
Postar um comentário