Como afirma Lana Lage Lima:
"Em qualquer tipo de organização social a violência aparece como meio de garantir a reprodução das formas aí assumidas pelas relações de produção, e conseqüentemente, a situação das diferentes classes sociais em relação à apropriação do excedente produzido. Mas, no sistema escravista, a violência tem suas funções ampliadas, pois, em vez de atuar apenas quando esta reprodução parece ameaçada, vai intervir diretamente nas próprias relações de produção - como fator de coerção ao trabalho - já que a apropriação do excedente implica, aí o estabelecimento de relações de dominação, nas quais a violência é elemento essencial."1
No contexto da luta de classes, muitas vezes os senhores utilizavam outras estratégias, assim como os escravos nem sempre reagiam de maneira agressiva. Outros métodos, maneiras, atitudes, algumas sutis, podem ser encontrados. Supostamente não são violentos. Mas nem por isso deixam de ser conflitos. Numa formação social baseada na exploração é inevitável que eles ocorram. Alguns de maneira mais aparente, outros nem sempre. Como Gorender afirma:
"Conforme tem sido dito, a grande maioria dos escravos não participou de levantes, não cometeu atentados, nem fugiu. À exceção da geração que chegou à Abolição, a grande maioria viveu a escravidão até a morte. Centenas de milhares de escravos nativos - crioulos - suportaram este destino do nascimento à morte.
Isto não quer dizer que aceitaram a escravidão. Precisaram conduzir-se como todos os seres humanos em circunstâncias extremamente desfavoráveis: adaptar-se para tentar sobreviver. (...) Uma vez que não havia consenso dos escravos à escravidão, nem esta implicava relação contratual, o cativo devia ser, por natureza, inimigo da escravidão." 2
Trata-se de questão primordial, pois a adaptação do escravo não significa acomodação, resignação ou aceitação da escravidão. Se assim o fosse, não haveria necessidade de violência por parte dos proprietários no que se refere ao castigo - já que a mesma é condição indispensável para que a produção fosse rentável, - e não haveria crime ou fuga por parte dos escravos. Se ela então ocorresse, seria por sadismo, loucura ou qualquer outra questão de cunho psicológico e não, histórico.
Ciro Flamarion Cardoso e Héctor Pérez Brignoli ao analisarem a contribuição do marxismo para o problema da síntese na história, abordaram a questão da luta de classes em formações sociais anteriores à capitalista, da seguinte maneira:
"As lutas de classe, enfim, surgiam sob uma forma bem diferente da que apresentam no capitalismo, pois só as classes dominantes chegavam a alcançar a coesão, a solidariedade de interesses e o grau de consciência que faziam delas classes plenamente constituídas; enquanto as classes dominadas não tinham condições objetivas para desenvolver convenientemente tais características, o que explica sua incapacidade - embora chegassem a vencer uma luta social - para esboçar uma solução alternativa à ordem vigente; o que se pode compreender ao considerar o nível insuficiente das forças produtivas e da divisão do trabalho, o caráter maciçamente agrário da economia."3
1 LIMA, Lana Lage da Gama. Rebeldia negra e abolicionismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1981, p. 55.
Nenhum comentário:
Postar um comentário