"A boca de ouro começa a tagarelar e não cessará de fazê-lo. A palavra, qual uma rainha, reina em seu palato, a língua reina absoluta nos lábios e na língua. Imperiosas, exclusivas. Mas atravessam os lugares sem aroma e nem sabor. Doces: não duras. Doces: chãs e insípidas. Anestesiam a boca que já não encontra o gosto das palavras mais bem temperadas. A eloquência mais ampla, a mais sonora poesia, o canto mais encantatório, o diálogo mais vívido dão palatos de bronze ou de cobre, caixas de violoncelo, mas essas cordas e metais permanecem insensíveis às flores perfumosas, aos aromas de cortiça e de terra, às fragrâncias fortes de almíscar e de peles, pior, escorraçam-nas. A frase, nem ácida nem adstringente, impede que a língua desperte para outra coisa que não ela. A sapidez adormece sob a narcose das palavras. Geladas : frígidas".
TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE
quarta-feira, 6 de maio de 2009
A narcose das palavras (ou "Pra não dizer que não falei de Cazuza")
Folheando "Os cinco sentidos", de Michel Serres, descubro um trecho que me fez lembrar uma velha discussão sobre a qualidade de alguns textos/poesias que foi travada nesse blog e regada a muitas citações de Cazuza. Tenho uma antipatia natural por lugares-comuns ou frases feitas que adornam a produção poética de alguns poetas (a ênfase é porque também acho engraçado como algumas pessoas adoram um título autointitulado). Um pouco do texto ensaístico-poético de Serres:
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2 comentários:
Gosto quando você aparece, deixa uma pegada que afunda, uma marca funda de quem tem muita estatura e/ou deve ser pesado.
Beijo, figuríssima.
A leveza do peso tem a mesma força do peso da leveza?. Quanto vale? ou é por quilo. beijo, Marta.
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