TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 13 de junho de 2009

A CULTURA E O CARÁTER



A grande questão das relações humanas perpassa por esses questionamentos: O homem é guiado pela cultura ou pelo caráter? O caráter é adquirido ou é próprio e intrínseco à natureza humana? O desenvolvimento do caráter é alcançado por instrumentos formais da educação moderna institucionalizada? Ou será que o caráter diz respeito a um processo evolutivo determinado por fatores ontológicos (supra-sociais) não muito bem compreendidos pelas análises racionais? Creio, que o caráter é um processo evolutivo determinado por fatores ainda ignorados pelas nossas abordagens investigativas racionais. Nesse sentido, todo ser humano tem caráter, mas nem todos expressam com a mesma intensidade e a força devida. O caráter diz respeito a identidade-alteridade mais profunda do ser. É o que Martin Bubber denomina de relação EU-TU com o mundo sagrado. A identidade se processa numa relação perceptiva entre o ser, o mundo e o Criador. E essa relação se dá em diversos níveis de alteridade, desde o mais baixo até o mais alto de encontro ou empatia de valores fundantes e evolutivos da natureza humana. Na medida que cada um desenvolve uma capacidade de se relacionar consigo mesmo, com o mundo e com seus semelhantes, a sociedade representará a síntese desse universo de potencialidades desenvolvidas.
A palavra cultura, segundo a ótica de Alfredo Bosi (Dialética da Colonização), diz respeito a ação humana no processo de semear, ou seja, induzir ou introduzir no solo da consciência a semente que germinará e crescerá de acordo com as condições psicológicas-espirituais de cada um. Nesse contexto, cada ser humano é um semeador e ao mesmo tempo um solo receptivo (ou não). O que significa dizer que enquanto o caráter ser de natureza ontológica, ou seja, própria de cada um e que portanto não tem uma origem externa ao homem, a cultura por sua vez é determinada pelas condições psicológicas-espirituais-temporais de cada época. Em suma, caráter é um fenômeno a-histórico e não-cultural, enquanto que a cultura é um fenômeno histórico e cirscunstancial. A partir daqui, podemos refletir os diversos comportamentos sociais em função do ser predominante: ser pessoa ou ser indivíduo. Indivíduo e pessoa, são duas categorias filosóficas-ontológicas que se distinguem em função dos traços psicológicos-espirituais (força ou fardo) que predominam no ser. Os traços-forças são aqueles princípios ou valores responsáveis pela natureza do caráter e equilíbrio ético-moral da pessoa. Os traços-fardos são os princípios e valores responsáveis pela natureza da cultura e desequilíbrio ético-moral do indivíduo. Indivíduo e pessoa são forças ou movimentos ontológicos na dinâmica da vida do ser. Ora podemos ser indivíduos e ora podemos ser pessoas. O que vai determinar a predominância de cada uma dessas forças ontológicas, será o nível cultural da sociedade e o nível evolutivo do ser. Ora, a cultura agirá levando o ser a um comportamento alinhado com os valores (fardos) sociais predominantes da época. E ora, a própria natureza do caráter, em cada um, agirá conduzindo o ser a um comportamento alinhado com os valores (forças) supra-sociais determinantes do Espírito. Nesse sentido, o homem vive e se orienta em função de um duplo meio que o cerca e o alimenta: social e natural. Os valores culturais são oriundos do meio social do indivíduo na sua relação com os costumes e tradições da comunidade; os valores do caráter são oriundos do meio natural da pessoa na sua relação com o Espírito. O ser vive num eterno movimento pendular, num extremo ele experiencia a força de atração dos valores individuais pregados pela sociedade (a dimensão física do ser); num outro extremo ele vivencia a força de atração dos valores pessoais determinados e captados do Espírito (a dimensão metafísica do ser). Vivência e experiência se distinguem como dois modos de relação e aprendizado do ser. A vivência é uma experiência íntima e, portanto, supra-racional e supra-social. Os atos humanos serão determinados por essas duas forças que agem na psique de cada um. Daí a relevância da vivência do caráter na vida moderna!
Caráter não se ensina senão pelo exemplo de conduta. A cultura se cultiva e se apreende através dos valores e pensamentos transmitidos socialmente.

Aqui vai um conselho: Coloque os princípios sagrados perto e uma meta a ser alcançada muito longe de ti. Com certeza dificilmente tu alcançarás a meta. Mas, também com certeza nunca se perderás de Deus - a fonte e princípio do caráter! Se os que estão perto de ti duvidarem de suas verdades, isso não importa. O que importa é que tu em nenhum momento duvides de Deus que estará infinitamente mais perto de ti do que eles. Pois, na vida a gente se confunde (ou se funde) com os princípios daquilo que colocamos e percebemos mais perto de nós.
Bernardo Melgaço da Silva

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