Tenho em mãos um artigo publicado na Revista do Instituto do Ceará, com o título “Descrição da Cidade do Crato em 1882”, de autoria do Dr. Gustavo Horácio. O artigo cita, a certa altura, o fato de, naquele recuado ano, a cidade de Crato possuir 11 ruas principais, conhecidas por Rua de Santo Amaro, da Pedra Lavrada, das Laranjeiras, do Pisa, Formosa, Grande, do Fogo, da Vala, da Boa Vista, Nova e do Matadouro.
No mesmo artigo, são nomeados os becos e travessas do Crato antigo, a saber: Travessa do Cafundó, da Caridade, do Candéia, da Matriz, do Sucupira, de São Vicente, do Charuteiro, do Cemitério, da Ribeira Velha, do Barro Vermelho, da Califórnia, do Pequizeiro, da Taboqueira, das Olarias, da Cadeia e do Pimenta.
Infelizmente, não restou nenhuma dessas tradicionais, poéticas e curiosas denominações.
Não sou contra a denominação de pessoas às ruas das cidades, condicionando-se apenas à exigência de os homenageados – todos falecidos – terem gozado de bom conceito social, terem prestado serviços relevantes, terem se destacado no cenário municipal, ou seja, nomes identificados com a história da cidade ou do Brasil.
Apenas lamento o fato de os vereadores – muitos deles destituídos de cultura regular – haverem substituído nomes antigos, ao invés de denominarem somente as novas ruas. Ao extinguirem antigas e tradicionais denominações das artérias urbanas, apagou-se um pouco da história e da memória coletiva da Princesa do Cariri.
Recentemente, a Câmara de Vereadores de Independência – município localizado no Sertão dos Inhamuns do Ceará – recebeu um projeto de lei, dispondo sobre a identificação de ruas, praças, monumentos, obras e edificações públicas daquela cidade. Esse projeto de lei exige – para qualquer mudança na denominação de ruas e praças – um pedido antecipado, contendo lista com assinaturas de pelo menos cinco por cento do eleitorado.
Idêntica providência deveria ser adotada pela Câmara de Vereadores de Crato.
TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE
domingo, 7 de junho de 2009
Nomes das ruas do Crato antigo - por Armando Lopes Rafael
Começou, nos primeiros anos do século XX – por iniciativa dos vereadores desta cidade, ao longo de várias legislaturas – o triste costume de mudança dos nomes das ruas e praças de Crato. Essas alterações sempre atenderam a interesses menores dos vereadores e foram feitas sem ouvir a população, resultando na destruição de denominações tradicionais, preservadas por várias gerações de cratenses.
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2 comentários:
Caro armando,
Gostei do texto. Mnauel Bandeira já tinha reclamado da mudança dos nomes poéticos das ruas do Recife e acredito que funcionou. ainda lá temos : A do Sol, a do Hospício, a da Aurora, a da União( onde ele nasceu), a das Crioulas, a da Soledade... E são tantas e tantas ruas aqui no Crato, paulo Elpído cita outros becos( do Cachimbo eterno) e Irineu Pinheiro cita ainda a Rua do Pisa, a Buenos aiers a da Boa Vista. O pior é que hoje numa parceria burra com algumas empresas, o nome dos patrocinadores nas placas é maior que a do nome da rua. parodiando vc acho que era importante junto à Câmara além das medidas que vc tão bem propôs: 1- Colocar o nome atual da rua e o antigo logo abaixo; 2- Em cada rua do Centro, como em Fortaleza, um berve histórico da Rua e do agracidado com o nome; 3- Como em Goiás, defronte de cada casa histórica, uma placa indicativa, tipo : "Nesta casa viveu a heroína Bárbara de Alencar...nascida..." ; "Nesta resid~encia residiu o historiador Irineu Pinheiro de ...."; "Nesta casa foi julgado o caudilho Joaquimpinto Madeira...". Acredito que assim reimantaríamos as ruas e casas com sua história.
Abraço, parabéns pelo texto.
Caro Zéflávio:
Obrigado pelo comentário.
Endosso em gênero, número e grau suas pertinentes sugestões. Elas passam a fazer parte deste articuleto.
Quem sabe, um dia, teremos (em postos-chaves) pessoas com conhecimento e sensibilidade para recuperar um pouco da memória das ruas de Crato.
Um gesto isolado: o Dr. Emídio Lemos – num rasgo de indignação, ou de “cristão atrevimento” como dizia Camões – mandou confeccionar uma placa com a denominação antiga da rua onde mora e colocou-a na fachada da casa dele, localizada na antiga Rua da Pedra Lavrada (como era batizada pelo povo), posteriormente crismada de “Pedro II” por algum edil do passado. Concordo com o gesto dele.
Barbalha já seguiu o exemplo de Fortaleza. Colocou em todas as ruas uma placa maior explicando a denominação da via. O nosso amigo Napoleão Tavares Neves varou as madrugadas pesquisando biografias e motivos das denominações das ruas barbalhenses.
Já a política de denominar as ruas de Crato virou Casa de Mãe Joana. Outro dia descobri que o Sr. Orestes Costas é patrono de 3 ruas: uma avenida (ao lado da Grendene) uma rua no Barro Branco (antiga Imperatriz Leopoldina) e outra no bairro Grangeiro. Nada contra o exemplar cidadão. Mas uma única rua não é o suficiente?
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