TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O DESPERTAR DO MUNDO NOVO (ALDOUS HUXLEY) E O QUE É PENSAR (EINSTEIN)

ALDOUS HUXLEY

"A meditação, porém, é mais do que um método autodidata: tem sido usada também em todas as partes do mundo e desde a mais remota antiguidade, como um método de adquirir o conhecimento quanto à natureza essencial das coisas, como um método para estabelecer comunicação entre a alma e o princípio integrante do universo. A meditação, em outras palavras, é uma técnica do misticismo. Praticada adequadamente, com a devida preparação física, mental e moral, a meditação pode resultar em um estado que tem sido chamado de "consciência transcendental" - a intuição direta da última realidade espiritual e a união com ela, percebida simultaneamente como estando para além do ser e de alguma forma dentro do ser. ("Deus na profundeza de nós mesmos - diz Ruysbroeck - recebe Deus que vem a nós: é Deus contemplando Deus"). Os não-místicos têm negado a validade da experiência mística, descrevendo-a como puramente subjetiva e ilusória. Devemos-nos lembrar, porém, que para aqueles que nunca a experimentaram, qualquer intuição direta deve parecer subjetiva e ilusória. É impossível ao surdo formar alguma idéia quanto à natureza e à significação da música. A incapacidade física não é o único obstáculo no caminho da compreensão musical. Um indiano, por exemplo, acha a música orquestral européia intoleravelmente barulhenta, complicada, superintelectualizada, inumana. Parece-lhe incrível que alguém possa perceber beleza e significação, reconhecer uma expressão da emoção mais profunda e mais sutil naquela elaborada cacofonia. E no entanto, se tiver paciência e escutar o bastante, virá por fim a compreender, não apenas teoricamente, mas também por direta, imediata intuição, que aquela música possui todas as qualidades que os europeus lhe atribuem. Das importantes e deleitosas experiências da vida, somente as mais simples encontram-se indiscriminadamente ao alcance de todos. As demais não podem ser deliciadas a não ser aqueles que se submeteram ao treinamento adequado" (HUXLEY, 1975,pp.269-270)

Einstein (apud CLARET,1986):

"Que é precisamente, "pensar"? Quando recebidas impressões sensoriais, quadros de memória emergem, isto ainda não é "pensar". E quando esses quadros se acomodam em séries, cada um dos elementos reclamando o outro, isso também não é "pensar". Quando porém, um mesmo quadro se apresenta em muitas dessas séries, então -, precisamente por força dessa manifestação repetida torna-se ele um elemento de ordenação das mesmas séries que, por sí, não mantém ligação. Esse elemento se transforma em instrumento, em conceito. Entendo que a passagem da livre associação, ou do "sonhar", parar o pensar se caracteriza pelo papel mais ou menos dominante que desempenha o "conceito". Não é de maneira alguma necessário que o conceito apareça preso a um signo sensorialmente cognoscível e possível de reprodução (palavra); todavia, quando isso ocorre, o pensamento se torna, por esse meio, comunicável. [...] Não me canso de contemplar o mistério da eternidade da vida. Tenho uma intuição da extraordinária construção do ser. Mesmo que o esforço para compreendê-lo fique sempre desproporcional, vejo a Razão se manifestar na vida" (p.96).

Analisando afirmações de EINSTEIN, podemos ver que ele possuía uma certa percepção do método iogue:

"Às vezes me pergunto como pôde ter acontecido de eu ter sido o único a desenvolver a Teoria da Relatividade. A razão, creio eu, é que um adulto normal nunca pára para pensar sobre problemas de espaço e tempo. Isso são coisas que ele pensou quando criança. Mas o meu desenvolvimento intelectual foi retardado, motivo pelo qual comecei a questionar sobre espaço e tempo somente quando já era adulto. Naturalmente, pude ir muito mais fundo no problema do que uma criança com suas habilidades normais" (apud CLARET,1986,p.76).

Pode se ver que Einstein havia desenvolvido uma capacidade de meditação com bastante semelhança das técnicas iogues pois nas afirmações que ele faz a respeito de "o conceito apareça preso a um signo sensorialmente cognoscível" e "um adulto normal nunca pára para pensar" (aquí ele estava querendo dizer que não se permiti parar o pensamento racional para desenvolver a intuição intelectual) que mostra a sua perspicácia quanto ao método de meditação que ele utilizava. Outro aspecto que se deve observar é a referência implícita que ele faz da dependência psíquica da dimensão espaço-tempo que adquirimos já na infância e que vai se perpetuando na fase adulta.

2 comentários:

Antonio Sávio disse...

Livro notável que está me prendendo até agora nas noites de Teresina. Estou lendo-o no momento.

Bernardo Melgaço disse...

É verdade. Muito inteligente! Utilizei esse livro com várias citações em minha dissertação de mestrado.