O ente, contente
Senta-se sereno aos pés de deus
Deus, sensciente,
Mexe no controle remoto da sua
Super pay per view
O ente, paciente, espera.
A alma de deus, oniptente
Mastiga os ossos do último homem
E vomita begônias multicoloridas
Deus, onipresente,
Embala-se com papéis brilhantes
Se auto remete
Pra puta que pariu.
Um comentário:
Lupeu,
O que é faz um grande poema? Essa é uma pergunta difícil, porque não existe uma escala com que se possa medir o tamanho da qualidade. Há, porém, um aspecto que se deve levar em conta. A visão que o poeta tem do mundo. Se ela permeia o texto, se nos puxa pela mão para dentro desse mudo, e se enxergamos esse mundo, se somos tocados por ela e por ele. A poesia não é só beleza. Se o poeta nos pega pela mão e nos mostra as coisas que às vezes não queremos ver, ou não conseguimos ver, de certa forma esse poeta acaba por abrir os nossos olhos. E a poesia não é só beleza, porque o mundo não é so beleza. A poesia que só quer beleza acaba por exercer um efeito, digamos, anestesiante, se o leitor for desavisado. A poesia não deveria apenas cumprir uma função de aquecer nossos corações congelados. Às vezes é preciso um sopro traumático.
Enfim, o poeta tem que manter os olhos e os pés atolados na realidade. Ainda que a poesia se faça com a linguagem dos sonhos, ele não deve dispensar a realidade, os homens. Nessa realidade a poesia habita, tal como uma fotografia em potencial, que aguarda o olhar atento de um fatógrafo talentoso.
Penso que você é, de certa forma, um poeta desses de que falo, com olhos atento para a realidade cheia de enganos, mas que não se engana.
Nota dez pro seu poema, cara, nota dez.
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