Vestida de outra forma, a concepção da política enquanto território de negociação aparece na também famosa frase do “chanceler de ferro” alemão Otto von Bismarck, segundo a qual “As leis são como as salsichas: o melhor é não saber como são feitas”.Maquiavel vem à lembrança como consequência de uma reflexão a respeito do que se observa das reações dos leitores ao se abordarem temas políticos.
O que se observa é que, numa proporção demasiado elevada das vezes, as paixões eliminam a vida inteligente na Internet. Não se pratica a arte do possível, mas o culto ao impossível.
Quem acredita demais no poder de comunicação da Internet deveria gastar algumas horas a percorrer blogs e seus espaços de comentários.
O saldo bruto é uma quantidade fora do normal de lixo.
Comunicação pressupõe inteligibilidade. Nuvens de besteiras não constituem informação e não podem comunicar coisa nenhuma. A maior parte do que aparece na rede não comunica nada, e portanto não pode influenciar ninguém.
Como neste espaço que o eventual visitante percorre não se admitem xingamentos, trocas de insultos etc., não se publicam os exemplos mais graves de incivilidade que são comuns em outros lugares (alguns escapam, porém). Mas como, também, o pessoal animalesco que gosta disso parece constituir uma classe delimitada, depois de algumas tentativas eles desistem e vão chatear em freguesias mais complacentes.
Embora haja nuanças, a classe de observações irracionais mais frequente reúne os opositores e os defensores de algo que tanto uns quanto outros entendem mais ou menos vagamente como Lula e o PT.
Muitas vezes o sujeito sequer lê o que está escrito na nota publicada. A mente do cara funciona como um buscador. Se encontra a combinação “L-U-L-A” já lasca algum impropério, pró ou contra. Por vezes interpreta o que leu (ou melhor, que de fato não leu, ou que limitações intransponíveis lhe permitiram ler) com sentido diametralmente oposto ao que de fato se escreveu. Um traço constante é a falta de embasamento, mesmo que elementar.
Visitantes desse tipo distribuem-se dos dois lados do espectro definido pela fronteira pró-Lula e contra-Lula, embora cada grupo tenha lá suas peculiaridades. O grupo lulista tende à paranóia e ao emprego de referências que colhe no aparato propagandístico subterrâneo do PT e do governo; o traço comum do grupo antilulista é a aversão a políticas populares.
Diversos do campo lulista se entregam ao hábito que lhes foi inculcado pela pseudo-esquerda acadêmica uspiana e seus discípulos espalhados por aí (objeto de notas durante a semana passada), de considerar que o que se encontra escrito em algum lugar jamais é aquilo que quem escreveu queria transmitir, mas algo escondido num subtexto construído em seu próprio imaginário. Já que, conforme os ditames dessa “atitude crítica”, quem escreveu não tem noção do que escreve ou tem intenção deliberada de ludibriar o leitor por meio de propaganda subliminar, cabe ao genial comentarista “explicar”, “desvendar” ou “revelar” as mais extraordinárias alegações. (É assim, aliás, que se faz a ciência social brasileira bem-pensante. Mas divago.)
O que esses guerreiros dos dois lados não percebem é que uns são o espelho dos outros. Os dois subgrupos dizem a mesma coisa, a saber, que só estão interessados em xingar o outro lado do espelho.
Ao fazerem isso, cometem toda sorta de absurdos. Tomo como exemplo (poderiam ser outros, que se repetem cansativamente na forma) a história de Lula sair em defesa de José Sarney.
Na ânsia de justificar o comportamento do presidente Lula, não importa qual seja, seus escudeiros se metem na posição de defender alguém como Sarney! Qual racionalidade explicaria uma coisa dessas?
Já diversos dos oponentes de Lula e do PT recaem no equívoco de atribuir a Lula e a Sarney e companhia bela uma suposta intenção corruptora comum, ou de pespegar em Lula a intenção de destruir o Estado pela aliança com oligarquias, ou alguma combinação semelhantemente abstrusa. Como é que isso pode ser apresentado como plausível?
O que esses combatentes da Internet pretendem? Será que acham mesmo que suas atitudes resultarão no convencimento de alguém? Qual é o diálogo que propõem? Não pode ser com ninguém mais senão com aqueles que já compartilham seus pontos de vista e seu comportamento.
Cultores do impossível, falam de si para si. E do nada, nada se extrai.
14 comentários:
Maurício:
Sua postagem poderia ser resumida na frase abaixo:
"O grupo lulista tende à paranóia e ao emprego de referências que colhe no aparato propagandístico subterrâneo do PT e do governo; o traço comum do grupo antilulista é a aversão a políticas populares".
Fosse eu o autor da frase, apenas modificaria a última palavra: (políticas) DEMAGÓGICAS.
Armando
Até a escolha da palavra"certa" é uma questão de ponto de vista , ou de visão de mundo. I say "pôteito", you say "pótato".
Maurício:
Dislike of President Lula. Worse, I am ashamed to be Brazilian and my country has a president illiterate and dishonest.
Matter of taste but does not discuss...
you agree?
Armando
Às vezes fico com vergonha do que Lula fala (mais até do que ele faz)mas o povo gosta. Pra que discutir com madame?
Maurício:
Sei que já estou ficando chato, mas, permita-me uma ÚLTIMA observação.
Penso que não é o povo que gosta dos deslumbramentos de Lula, quem gosta dessas extravagâncias é a massa.
O Papa Pio XII fazia distinção entre povo e massa. O povo, ensinava o Pontífice, é formado por indivíduos que se movem por princípios. Ele é ativo, agindo conscientemente de acordo com determinadas idéias fundamentais, das quais decorrem posições definidas diante das diversas situações.
A massa, ao contrário, não passa de um amálgama de indivíduos que não se movem, mas são movidos por paixões. A massa é sempre, e necessariamente, passiva. Ela não age racionalmente e por sua conta, mas se alimenta de entusiasmos e idéias não estáveis. É sempre escrava das influências instáveis da maioria, das modas e dos caprichos que passam.
A massa é formada pela maioria que nem sempre tem razão. Daí a necessidade de o povo ter lideranças sensatas e comprometidas com os anseios da população, ainda daqueles anseios inconscientes...
Caro Maurício,
Interessante como o Armando escolhe justamente a parte que lhe interessa neste latifúndio. O resumo do artigo não é esse?
"Já diversos dos oponentes de Lula e do PT recaem no equívoco de atribuir a Lula e a Sarney e companhia bela uma suposta intenção corruptora comum, ou de pespegar em Lula a intenção de destruir o Estado pela aliança com oligarquias, ou alguma combinação semelhantemente abstrusa. Como é que isso pode ser apresentado como plausível?"
Acredito que posso não ter lido o artigo direito , mas a crítica se faz aos dois lados : não apenas à esquerda uspaiana, mas também às viúvas inconsoláveis do FHC.
E massa na visão do sumo pontífice Pio XII não é aqueles que podem ser levados ao forno crematório sem qualquer julgamento? Depois é só o "povo" que pensa pedir desculpas: "Foi mal velho, matamos seis milhões da massa... desculpe aí, viu? "
"O que esses guerreiros dos dois lados não percebem é que uns são o espelho dos outros. Os dois subgrupos dizem a mesma coisa, a saber, que só estão interessados em xingar o outro lado do espelho."
Zé Flávio:
A partir desta data não perderei mais tempo em comentar sua intolerância, aversão e aleivosias contra a Igreja Católica.
O estilo é o homem.
Hasta siempre...
José Flávio
O artigo tem a intenção de criticar os dois lados dessa batalha de surdos. A intolerância de uns combatida pela intolerância de outros.
Irei muito mais além caríssimos de caro e fortunas ,a igreja dorme e dormira sempre em duas camas concomitantemente
Na sedução de uma alma
Constituída de carne e desejos.
O tempo sempre nos mostrou as duas faces em que, por exemplo, há massa nos tempos exauris da inquisição foi impedida de sentir orgasmos concubinatos ao riso e ao sarcástico dos gozos.
Em que a igreja entre calabouços e sodomas fronhas se deleitava na mais pura serviencia do corpo...Lula assim como toda classe dirigente ou seja povo(massa) e cultuadores do poder se adequa aos novos tempos de consumos...
Poder compra e desejos.
poeta wilson gostei
vamos relaxar pessoal, pra que brigar?
curtam
UM "PAC" COM A DILMA
Cordel de Miguelzim de Princesa, direto do Cariri.
I-
Quando vi Dilma Roussef
Sair na televisão
Com o rosto renovado
Após uma operação
Senti que o poder transforma:
Avestruz vira pavão.
II-
repente ela virou
Namorada do Brasil:
Os políticos, quando a vêem
Começam a soltar psiu
Pensando em 2010
E em bilhões que ela pariu.
III-
A mulher que era emburrada
Anda agora sorridente
Acenando para o povo
Alegre mostrando o dente
E os baba-ovos gritando:
É Dilma pra presidente!
IV-
Mas eu sei que o olho grande
Está mesmo é nos bilhões
Que Lula botou no PAC
Pensando nas eleições
E mandou Dilma gastar
Sobretudo nos grotões.
V-
Senadores garanhões
Sedutores de donzelas
E deputados gulosos
Caçadores de gazelas
Enjoaram das modelos
Só querem casar com ela.
VI-
Também quero uma lasquinha,
Um pedaço de poder,
Quero olhar nos olhos dela
E, ternamente, dizer
Que mais bonita que ela
Mulher nenhuma há de ser.
VII-
Eu já vi um deputado
Dizendo no Cariri
que Dilma é linda e charmosa,
igual não existe aqui,
e é capaz de ser mais bela
que a Angelina Jolie,
VIII-
Diz que pisa devagar,
que tem jeito angelical
nunca gritou com ninguém
nem fez assédio moral,
nem correu atrás de gente
com um pedaço de pau...
IX-
Dilma superpoderosa:
8 bilhões pra gastar
Do jeito que ela quiser
Da forma que ela mandar!
(Sem contar com o milhão
Do cofre do Adhemar.)
X-
Estou com ela e não abro:
Viro abridor de cancela
Topo matar jarar
Apago fogo em goela
Para no ano vindouro...
Fazer...um PAC com ela".
Caro Armando,
Num se avexe, homem de Deus. Cada um escolhe uma faceta do sagrado para acreditar. Também farei o possível para não mais comentar suas aleivosias, intolerância e aversão para os nossos santos mais queridos: São Guevara de Havana, São Lula de Garanhuns e São Fidel de Sierra Maestra.
Sin perderer na ternura jamás!
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