TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Onde estão nossos verdadeiros valores culturais?

Caro Salatiel,

Estou enviando-lhe o texto que, espero despertar o seu interesse, pois desejo vê-lo publicado. Será publicado no Cariricult, se houver o interesse? Aguardo sua reposta. Um abraço.


Onde estão nossos verdadeiros valores culturais?
Antonio Veylla Duarte*

Já se foi o tempo em que o brasileiro valorizava de corpo e alma seus valores culturais. São poucas as localidades em nosso país em que fielmente uma categoria ainda preserva sua identidade, como é o caso de nosso Cariri. Porém, ainda assim enfrentamos problemas, não apenas no vale caririense, mas em todo o Brasil. A seguir, através de uma pequena história, entenderemos o por quê.
Era uma tarde comum a qualquer outra, quando minha irmã chegou em casa. Como eu sou chato de nascença, resolvi perturbá-la um pouco, com aquele meu bom humor de costume. Aproximei-me e lhe disse:
__Irmãzinha, e falei sua alcunha, o seu aniversário é no próximo mês; então, poderia comprar para mim um presente?
Ela murmurou e responde-me: "O que é desta vez?''
Respondi que queria muito adquirir um CD do Pequeno Coral do Crato, aquele maravilhoso grupinho de crianças cantoras, regido por Divani Cabral. Ela perguntou quanto custava, e respondi que apenas uma garça (R$5,00). "Espere", foi a sua resposta. Se a tal espera correspondia à chegada de seu aniversário, isto é que eu não sabia. Passados poucos dias, ela me entregou o valor correspondente ao CD tão querido. Ora, as aulas do semestre 2009.1 da URCA estavam próximas de começar, e eu não podia gastar dinheiro com supérfluos. Nos cinco dias seguintes sofri o dilema de guardar aquela garçazinha e decidir se a gastaria nas minhas necessidades acadêmicas ou investir no CD. Aconteceu que a tentação de comprar o disco prevaleceu, pois eu não esquecia aquela bela aprasentação do Pequeno Coral no Festival da Canção do ano passado.
Comprei o álbum e o ouvi, ouvi,e tornei a ouvir. Não me arrependo do que fiz. Aquelas vozes das crianças são encantadoras. É um trabalho histórico e cativante.Que lindo coro. Um trabalho riquíssimo em multiculturalidade, mesclando músicas que retratam o nosso Nordeste,junto ao inglês, infantil, erudito e popular. Um orgulho para nós cratenses. Dizer " parabéns" seria pouco à vista de um trabalho de tão excelente qualidade.
Quero deixar bem que fazer propaganda não é o meu objetivo. Senhores leitores, prestem atenção. é revoltante saber que um trabalho como o do Pequeno Coral esteja sem o reconhecimento que verdadeiramente merece, enquanto que no Brasil inteiro estoura músicas (se é que são dignas de ser chamadas assim) com letras imbecis, escandalosas, baixas, inescrupulosas, apelativas e uma série de adjetivos ruins. É lamentável. Músicas, ou melhor, lixos, com conteúdo depravado e conjunto vazio em talento. Onde estão nossos conceitos e valores? O Pequeno Coral, composto de uma dedicada e competente regente e crianças talentosas, que estudam e dedicam seu tempo livre à arte, é trocado por um bando de desempregados desqualificados que veem na música a solução para não passar fome! É o belo trocado pelo ordinário. Enquanto meia dúzia de mortos de fome buscam na música refúgio para suas necessidades, mesmo que da forma mais insuportável, outra dúzia de idiotas curte estas porcarias e, ainda, acha tudo 'bonitinho'! É mais ou manos assim:"Ai, ele não é lindo?", "ai, que gato sarado"," eita mulherão gostoso!" Esta realidade vergonhosa e infeliz. É o ridículo ultrapassando o culto e o belo. O orgulho perdendo espaço para o opróbrio.
O que fazer,então? Ora, não peça para as rádios tocarem esse tipo de perdição, não ouça ou cante suas músicas, não vá aos seus shows, não compre seus álbuns, valorize a você mesmo,a sua família e a sua cultura. Force esta onda musical de depravação entrar em extinção,já!
Só para encerrar o meu protesto, a regente Divani Cabral contou-me que os CDs gravados pelos dois corais do Crato tiveram seus exemplares mandados às rádios de nossa região... E estas não as tocam!! Enfim, não se deixe contaminar por qualquer coisa sem futuro que aparecer. Valorize o esforço, a dedicação, o amor, as belas mensagens, ensine as nossas crianças a apreciar o que é digno.
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*Antonio Veylla Duarte é estudante do curso de Letras da URCA, faz teatro e coral na SCAC (Teatro Rachel de Queiroz).

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