TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Quarenta anos do lançamento do Pasquim

No dia 26 de junho de 1969, chegou às bancas do Rio de Janeiro o primeiro número do Pasquim, o mais importante jornal da imprensa alternativa nacional e uma das mais combativas trincheiras na luta contra o Regime Militar que vigorou no Brasil de 1964 a 1985. Foi, pois, justamente nos momentos mais profundos deste período, onde grande parte das liberdades individuais foi suprimida por atos institucionais de exceção, como o sagrado direito de livre expressão, que o Pasquim mostrou-se indispensável como um baluarte da resistência e da liberdade. Além do mais, mesmo nos mais pungentes momentos da vida nacional, o jornal jamais perdeu o bom humor e foi um veículo de imprensa inovador na forma e na fórmula de fazer jornalismo.

A patota fundadora do Pasquim era formada por representantes da imprensa de esquerda, alguns já verdadeiros ícones da cultura nacional, como Millôr Fernandes e Sérgio Cabral. Outros, inicialmente desconhecidos da grande mídia, são hoje forte referências dela, como Ziraldo, Jaguar, Henfil, Paulo Francis, Tarso de Castro e Ivan Lessa. Além desta patota central, o jornal contava com colaborações esporádicas de alguns nomes já nacionalmente conhecidos, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Ruben Fonseca.

Não cheguei a conhecer o Pasquim no seu apogeu, justamente quando vigorava a censura prévia, ou seja, do seu lançamento até a consolidação das medidas de abertura gradual promovidas pelo governo Geisel. No início da década de 1980, um amigo emprestou-me sua coleção do Pasquim, incluindo a histórica edição com a entrevista de Leila Diniz, e eu me deliciei com a sua leitura. Na época, editava o jornal Folha de Piqui e em alguns dos seus números pode ser observada uma tardia influência do Pasquim, incluindo uma novidade que o nosso periódico adotou, as entrevistas coletivas e descontraídas, com citações de palavras pouco usuais e dos risos provocados por algum dito engraçado ou espirituoso proferido tanto pelos entrevistados como pelos entrevistadores.

No entanto, tentei amenizar este irremediável atraso ao tornar-me assíduo leitor da segunda fase do Pasquim, quando ele já tinha perdido praticamente sua razão de existir e fazia a defesa explícita da primeira gestão de Leonel Brizola como governador do Rio de Janeiro. Por essas alturas, a patota original já tinha debandado, permanecendo apenas o cartunista Jaguar. Mesmo assim, vez por outra, dava para vislumbrar algo do Pasquim original e que em muito serviu para “lavar a alma” dos brasileiros que por um longo tempo se sentiram órfãos da mãe liberdade.

Nenhum comentário: