Vanderlei tem uma careca luzidia.
Os olhos faiscantes.
O sorriso malandro.
Trabalhava no Sesi
quando caiu sobre sua cabeça
uma majestosa peruca de touro.
Pegou na cama a sua amada
com um negão pé tamanho 46.
Coitado do Vanderlei.
Passou enlouquecidamente
a chorar e a gargalhar e a repetir baixinho:
"tenho outra, ora, eu já tenho outra..."
Certo dia,
um colega seu de trabalho
percebendo atrás da moita
um entusiasmado esconde-esconde
passo ante passo deslumbrou o chapa
dando grau em uma jumentinha.
Digamos,
uma jumentinha olhar ressacado de Capitu
e as ancas levemente arrebitadas
de ninfeta do Rio.
Vanderlei sussurrava aos ouvidos da jumentinha
que ninguém lhe roubaria do coração
tampouco da alma tal eterno amor.
E beijava-lhe a crina
e lhe acarinhava o dorso.
A jumentinha com os olhos ressacados
arrebitava ainda mais as ancas douradas.
O colega de Vanderlei não se conteve.
Às gargalhadas e aos brados
jogando pedras, pedregulhos, gravetos
assustou o idílio carnal dos olhos ressacados
da jumentinha.
A mesma, morrendo de vergonha,
fechou a grutinha, apertou as ancas
e aos saltitantes galopes
arrastou o seu amado Vanderlei
do brejo até o estacionamento do Sesi.
O dono da jumentinha à polícia.
Deu queixa.
Vanderlei demitido por justa causa.
Pouco tempo após o despudorado evento
a jumentinha sumiu do terreno baldio
onde outrora um ninho de paixão.
Quinze anos passaram-se.
E ainda dizem as más línguas
que Vanderlei hoje um crente temente
cuida da sua jumentinha com decência e zelo.
Bem, agora uma senhora de idade.
Os olhos remelentos. As ancas arriadas.
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