Verdade que ando besta. Lendo o evangelho de Tomé e dizendo sem meias palavras: - eu não creio. Verdade que o tédio é a droga mais estupidificante que conheço. Verdade que não consigo asfaltar minha estradinha com essa gosma que mistura política e religião numa mesma gosma fétida mesmo que sem cheiro. Penso em igreja e escuto titãs: eu não gosto de padremadremadrefreipapabispopastorcoroinha. Acho que a religião e seus acólitos são responsáveis por boa parte de tudo que é mais detestável nesse planetinha fodido e azul. Verdade que me dá vontade de rir quando escuto um cara antes das eleições: eis o senhor boas intenções, eis o senhor phd e maconheiro, eis o senhor que se deixa fotografar ao lado de bocetas carnavalescas, eis o senhor que vai: mudar a educação a saúde a segurança a cultura o salário a vida seus dentes seu way of life seu botox sua filha puta seus professores tristes em suas aulas tristes a grana em seu bolso e por fim, se você precisar, ele vai até sua casa e lhe paga um boquete federal. Verdade que todo discurso é bonito.
Verdade que deus vai aparecer qualquer dia desses e vai levar os católicos pela mão e vai botar pra foder nos outros.
Verdade que o próximo presidente dará um disco voador cintilante e belo a cada família com baixa renda.
Verdade que o santo pendurado em sua parede vai livrar seus filhos do desemprego e suas filhas dos tarados de plantão.
Verdade que o próximo governador vai ter que falar sânscrito e se vestir com cascas recicladas de jatobá.
Verdade que o céu está fazendo promoção em condomínios de luxo em nuvens com teto solar.
Verdade que eu, esse escriba de 43 anos, digo assim, como quem não quer nada: eu quero enforcar o último papa nas tripas do último político. Mas é como disse antes, Tomé é o cara. E ele, em sua simplicidade escrota e gentil, dizia na maior moral: eu só acredito vendo, tocando e sentindo.