TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 17 de julho de 2009

As manchetes e as manipulações dos jornais

À chamada de maior destaque de um jornal dizemos MANCHETE. A manchete continua a principal, mas como as fontes e temas de interesses da notícia ficam cada vez mais diversos, os títulos de cada editoria passaram a ter valor de Manchete. A coisa que não mudou absolutamente é o fato de que a escolha do principal e da redação das manchetes é uma vontade do dono do jornal.

Havia certo conforto que estes títulos seriam controlados também pelo leitor. Seriam uma vez que apenas chamariam a atenção do leitor se este tivesse empatia pelo texto. Sem a linguagem adequada a redação da manchete não dialoga com o leitor. Mas o problema é que a psicologia do leitor já se encontra exaustivamente estudada pela mídia, com pesquisas qualitativas e quantitativas numa exuberância quase diária.

A verdade é que nos ambientes de democracias pelo voto, a mídia cada vez trata mais o leitor com vistas ao eleitor. Por isso é que a Manchete é muito superior como discurso, em revelar a verdadeira intenção da empresa jornalística do que o corpo da matéria. Agora mesmo nesta questão do senado o que não falta é um intenção principal na Manchete e um corpo que nem sempre diz o mesmo. Aliás, a etimologia da palavra vem do francês manche traduzido como punho, manga ou luva. Cartas escondidas no punho e luvas para não deixar digitais.

Por exemplo, vou abrir o portal do jornal O Globo. Manchete principal agora: NEM COPA FAZ GOVERNO PRIVATIZAR O GALEÃO. Ora as privatizações de serviços essencialmente públicos estiveram no centro do debate político nestes últimos vinte anos. A Manchete do Jornal apenas quer defender o ponto de vista da empresa globo. É como uma propaganda a favor da privatização. Mas espere aí, tem quem não concorde. Tem quem não queira assim. Apenas defende o interesse do jornal e dos agentes ávidos em participar da privatização do Galeão.

Outro título no principal do portal: LULA: BOLSA FAMÍLIA PODE SER ASSISTENCIALISTA. Finalmente a empresa globo fez Lula dizer isso apenas para reforçar a tese dela: bolsa família é assistencialista. Isso é propaganda contra o programa e tem por objeto certos eleitores, especialmente da classe média. Se a verdade não se encontra no oposto ao globo, nele é que jamais se encontrará. É uma típica questão em debate, nova como política social, em larga escala e inclusive tem sido a ela atribuído uma melhoria de vida em vários parâmetros sociais e econômicos. Já vi quem dissesse que o aumento da renda no bolso das pessoas é um fator central para não ter havido uma forte recessão no país diante da crise. Vá lá que estes argumentos possam ser questionados, mas isso é racionalidade e formação de uma boa opinião, não esta propaganda que manipula.

Nesta semana que passou o Globo foi típico nesta titulação. Dizia que o governo tinha desistido de modernizar a saúde pública. Aí neste país de capitalismo atrasado em que o progresso das pessoas é desejado até ao limite do jeitinho, modernizar é sinônimo de esperança. Mas o globo faz propaganda contra o serviço público e o instrumento deste que é o servidor público. A tal modernização seriam as fundações públicas de direito privado. O globo não gosta do regime jurídico único. Aliás, um regime constitucional que não é mais do que uma modalidade de regime com a especificidade de proteger o estado e a estabilidade de sua função (a palavra técnica seria a estabilidade de sua burocracia, mas se alguém disser isso o globo vai pôr: defendem o corporativismo e a burocracia).

Vou pegar alguns mais remotos. A mídia troca a racionalidade do leitor pela emoção e manipulação do eleitor. A famosa frase do Brizola dizendo que o Lula era um sapo barbudo. Manipulação dos jornais a serviço do Collor (e as vacas sagradas estão escandalizadas pela proximidade atual do Lula com o Collor). O Brizola disse claramente: "Não seria fascinante fazer, agora, a elite brasileira engolir o Lula, este sapo barbudo?” Em outras palavras: agora vou radicalizar mais e eles vão engolir o que não desejam.

Uma mais recente. Um deputado desbocado da comissão de ética disse que se lixava para a opinião pública. Agora mesmo é o senador Paulo Duque. Aí o mais amargo desprezo pela notícia e pela inteligência do leitor (eleitor). Acontece que apesar de tudo que você acha sobre o poder legislativo, considere que o voto é secreto e que o eleitor é chamado a decidir. Um deputado e um senador (como todo cargo eletivo) é, como indivíduo, sempre devedor da opinião pública. Então como ele, às vésperas da renovação de mandatos iria dizer uma besteira desta. Ele não disse o que os jornais repetem: eles disseram que estão lixando para os jornais que agora se arvoram de serem a própria opinião pública (o golpe da parte sobre o todo).

Nenhum comentário: