P/ Marco Aqueiva
jogar-me contra o muro que ergueste
de enigmas, tem sido um esforço
sempre mais infecundo, sem disfarce,
com as unhas e dentes em desgaste
no embate com camadas de sentido
que me puxam para dentro, já névoa,
passos sobre as dez sílabas vivas
várias vezes sem ter a força certa
de acabar com o mistério, trespassá-lo,
desespero, mas sei que na verdade
amanhã -- é possível? -- haverá
outra chave na luz capaz de abrir
o que existe por trás de cada linha
e o poema será o que se espera
2 comentários:
Não Chagas, não.
O poema nunca será o que se espera.
Eis a nossa loucura epifaníaca.
Um forte abraço.
Domingos,
Marco Aqueiva é um um bom poeta. Há em muitos de seus poemas aquela idéia mallarmeana de que um poema não se faz de idéias, mas de palavras. O meu poema derivou do fato de não conseguir decifrar o sentido de alguns poemas dele. Porque parti da premissa de que havia uma idéia no corpo do poema, uma idéia portadora da beleza, mas essa idéia era uma ilusão minha. Ou seja, o poema não se referia a algo exterior a si, não tinha clareza. A beleza consistia exatamente na ausência de uma referência. Um poema, um mistério a ser decifrado. Nesse sentido, você está certo quando diz que "o poema nunca será o que se espera".
Mas fica sempre a esperança, né?, de que alcancemos sua essência. Poetas, profetas e loucos têm muito em comum.
Uma coisa que não tem nada a ver. Um dia, lá no centro, bebendo num boteco, o balconista me contou que era do Ceará. Era de uma cidade do centro-norte do estado. Não me lembro do nome. Eu disse que era do Crato. Perguntei se ele conhecia. Com espanto, ele disse que não, mas já tinha ouvido falar do Crato. "O que você ouviu falar?", perguntei. "Lá é uma terra de doido", ele disse. Eu dei risada. Um cara de Juazeiro que tem um bar aqui perto me disse a mesma coisa: "No Crato tem muito doido". Acho que é por isso que Crato tem tanto poeta. rsrsrs. Que barato!..
Um abração.
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