TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Espíritos de Porco e Porcos de Espírito

Bem , amigos, tinha tentado , nas últimas semanas, correr de política como o cão da cruz. É que é difícil revolver uma fossa séptica, sem risco de se calabrear todinho. Mas... e tem lá jeito ? Recentemente surgiu a polêmica da mudança do Parque de Exposição. A cidade se dividiu entre os que acataram a troca do parque, que podem ser chamados de vanguardistas e os que são terminantemente contra a permuta, imputados já de saudosistas. Reacendeu até uma antiga picuinha entre Crato e Juazeiro que parecia vir em banho Maria há muito tempo. Eximi-me de comentar o assunto por muitos dias e deixei a peteca correr de mão em mão. Entendi a polêmica como salutar e os contendores, de lado a lado, do mais fino jaez. Semana passada, na inauguração da Expocrato, no entanto, o nosso governador , sem ao menos saber da minha existência, -- no que, convenhamos, não perde nada -- , me lançou no olho do furacão. Entre tantas colocações de defesa da permuta , ele alcunhou os saudosistas de espíritos de porco. Não bastasse isso, ameaçou o município de Crato com a possibilidade de perda dos R$ 25.000.000,00 destinados à construção da nova sede, se a população decidisse pelo contrário.
Sabemos que político é assim mesmo : late nos primeiros anos de gestão e mia no período pré-eleitoral. Embora não tenha votado no nosso governador, o respeito pelo cargo que representa. Acredito, porém, que ele não foi feliz em algumas de suas posições. Muitos dos que se colocam contrários à permuta, não podem ser alcunhados de espíritos de porco, são cidadãos da mais alta qualificação . Podem ter posições passadistas, até retrógradas para alguns, mas merecem ser respeitados , (exatamente como respeito o mais importante administrador do meu estado) : pelo que representam, pela história, pela dedicação de toda uma vida à defesa do Crato. Sei que assim se posicionaram simplesmente porque têm mais cabelos brancos e mais lama nos sapatos. Já viram , por inúmeras vezes, em meio ao canto mavioso das sereias, o Crato ser passado para trás, vilipendiado, dilapidado e têm lá suas razões de manter sempre uma purga detrás da orelha. Agora mesmo, vemos o Hospital Regional de Juazeiro em franca construção, a CEASA de Barbalha iniciando e nem previsão temos do nosso prometido Centro de Convenções.
Gostaria, ainda , de lembrar um outro detalhe. A notícia inicialmente auspiciosa da mudança do parque pegou a população de surpresa. Em nenhum momento sondaram-se os anseios dos cratenses. A cidade desejaria a mudança ? E , antes de tudo, esta mudança era prioritária ? Pareceu que a decisão estava sendo jogada goela abaixo, de forma centralizada e a cidade, com toda uma história de lutas libertárias, nunca sorveu estes purgantes sem golfar. Agora, que somos ameaçados de perder os recursos, caso não aceitemos a prescrição, pergunto : Se a comunidade decidir que a mudança não é prioritária, porque simplesmente não acatar a suprema decisão do povo e empregar esta verba em áreas mais necessárias ? Por que tudo ou nada ? E mais, divulgou-se que a área atual do parque seria destinada ao Campus da URCA, mas quando? Com que projeto? Com que verba a se aplicar na ampla reforma ? Sabemos que a URCA anda com sérias dificuldades de custeio dos mais simples insumos.
Pessoalmente, quebradas todas as arestas existentes, nada tenho contra a transferência para um outro lugar mais apropriado. Entendo perfeitamente o crescimento da cidade nos últimos cinqüenta anos e os impasses que batem à porta da Engenharia Urbana. Espero, no entanto, que sejam respeitadas as opiniões em contrário e, imagino, devemos curvar-nos à vontade da maioria. Acredito que mais importante do que a questão simplória da localização do Parque , é a da utilidade prática da área que lhe é destinada. Os R$ 25.000.000,00 serão empregados num parque que funcionará apenas sete dias por ano ? Depois disso passamos a chave e esperamos 365 dias ? A maior festa do Cariri continuará a ignorar totalmente os artistas regionais ? Manteremos um palco caríssimo apenas para as Bandas de Forró Eletrônico? Por que não se democratiza a Festa maior do Cariri, proporcionando shows de qualidade, de portão aberto, como o Juá-Forró, como O Festival de Inverno de Garanhuns ? Não é função do estado fazer política cultural ? Ou esta é a política cultural do estado ? Mais nocivos talvez que os espíritos de porco são os porcos de espírito.

J. Flávio Vieira

16 comentários:

João Ludgero Sobreira Neto disse...

Excelente, fazendo um trocadilho os Suínos estão em moda com o H1N1, porém aqui na expocrato eles foram lembrados só na fala do Governador, pois estive dando uma olhada nos pavilhões e só vi, cachorros, cavalos, gado, carneiros, e não vi nenhum Suíno, será que viraram espírito? Não! estavam no palanque da exposiçã.

jflavio disse...

Grande Ludgero,

Os porcos estão mesmo com a bola toda. E diziam que o coronelismo tinha acabado...

jflavio disse...

Grande Ludgero,

Os porcos estão mesmo com a bola toda. E diziam que o coronelismo tinha acabado...

Dihelson Mendonça disse...

Leitão também vale nesse trocadilho aí ?

Abraços...

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Perguntemos então aos cavalos,`aos bois e aos bodes?
E ao leitão?

Anônimo disse...

Bom,e aí? Vamos agora, mesmo os que queriam um novo parque, EXIGIR os 25 milhões para o atual? Sem esquecer a URCA,claro. Essa não pode ficar de fora do foco sob hipótese alguma. A administração estadual não faz mais que sua OBRIGAÇÃO. Blogs à obra. Bocas também.

Aristides Tavares de Figueiredo.

Claude Bloc disse...

J. Flávio,

Estaríamos nós em meio a esta "porcaria"?

Abraços,

Claude

jflavio disse...

Caros Salatiel, aristides, dihelson e Claude, os suinos estão verdadeiramente em alta, pois não é que esqueci, no meio de tudo o leitão?

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Zé,

A discussão é pequena porque o proponente da discussão é pequeno ou este é pequeno por que a questão é pequena?

Aí você engradeceu a questão e o proponente. Qual seja não só a elaboração democrática dos orçamentos, assim como as despesas por eles autorizadas. A questão na essência é esta: tenho 25 milhões para resolver simultaneamente um grande parque de diversões e uma universidade. Os burocratas (e interesses cruzados) do meu governo fizeram esta proposta e vocês têm uma opinião melhor? Não o malandro veio com assim e apenas deste modo será. O predador come a carne, mas quer se livrar do espírito subjacente.

jflavio disse...

Acredito que o Zé do Vale resumiu muito bem a questão. O iniciativa foi colocada pública pelo Camilo Santana, sem que houvesse qualquer sensibilidade para com os habitantes da cidade. A Bioética avançou nesta discussão. Deve-se fazer o bem ao outro, mas que bem ? O bem não ´´e o bem que proponho mas o bem que o recebedor considera como bem.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Resumo da Ópera:

* Uma cidade que vive de passado.

* Uma cidade que não tem representatividade política nenhuma.

* Grande parte da população é só goela e abaixo.

* Segundo me consta o comentário corrente nas últimas eleições era que a mercadoria mais barata do Crato é o voto.

* Cidade que confunde tradição com conservadorismo.

* Cidade que confunde diversão com cultura.

* Cidade que está perdendo o polo educacional por ignorância.

* Cidade em que o provincianismo é exumado como o maior convidado de honra da festa, tem mesmo é que comer porco.

O Futuro ?

Perder (mais uma vez)esse investimento de 25 milhões - seja em que merda for -, feito um siri dentro de uma lata enferrujada, jogada no lixão do Cariri.

No cenário político cearense atual, falo em dias correntes, pois quem vive de passado é cemitério, quem é o político cratense que tem projeção e poder de barganha? Ely Aguiar? Isso é pra rir ou pra chorar????

O que existe internamente é o que se projeta externamente, se nas outras cidades os investimentos se voltam para a infraestrutura e para o social, é porque essas populações como atores sociais têm esse perfil. Se no Crato o investimento se volta para FESTA é porque a sua população é "festiva", é porque para o Crato a exposição é mais importante do que a URCA, do que a saúde, do que a economia. do que....

O que falta é RESPALDO.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Concordo com o resumo do Leonel. Apenas alertar ao leitor deste que é uma prática brasileira este "mandonismo" do poder constituído. Esta falta de transparência e accountability como dizem os americanos. O importante é ir aos escaninhos da URCA, da Prefeitura do Crato, da Câmara do Vereadores e pedir que apresentem seus planos de investimento e mesmo aqueles que não têm fonte e nem condições de financiamento. Outro dia falava com Arnor Bezerra e ele me contatava o verdadeiro surrealismo do investimento no Aeroporto Regional (ou não-investimento). Temos a necessidade, apresentemo-la e confrontemos com este valor do programa do governo do Ceará.

Aristides disse...

O governador já fez sua proposta de 25 milhões. Se ele tem essa dinheirama toda para um parque, e assim o fez de forma até orgulhosa(ele chegou a dizer em uma emissora de rádio que estava "crente" de que abafava com a idéia)então é porque ele também possui em caixa grana suficiente para não só investir no atual parque como também derramar feito samaritana todos os cifrões, principalmente, na Universidade Regional do Cariri.O campus do Pimenta II é de dar pena. Se o parque fica às moscas o restante do ano, como dizem, parte do campus da urca fica só terra sem carro(é que parte do vazio lá do terreno da URCA é usado como estacionamento uma só vez por ano...e mais nada)

Eu tenho observado: voltar atrás nisso, dos 25.000.000, causaria desgaste igual ao que vimos. Não adianta jogar a culpa na população.
ps: eu sou favorável à construção de um novo parque no palmeiral.Contudo, se o povo se opôs...

Isso lembrou-me demais agora algumas palavras de José do Vale Pinheiro Feitosa. Segue abaixo o que Zé do Vale escreveu muito antes disso ter se tornado a Celeuma do Ano.Por obséquio,ATENTEM PARA A LETRA D:

Aqui da distância. Tomando como referência apenas o que leio nos blogs da região. Como vejo a questão:

a) estão pensando em investir no Parque de Exposições na região do Cariri. Não é exatamente no Crato.

b) se a questão da localização parece ser a secundária, já que, em tese, o principal é o recurso financeiro, fica evidente que o principal se encontra no político e, no momento, é a localização e esta será fora do Crato ou num ponto entre Crato e Juazeiro.

c) o modo como o Governador responde, o modo até como o Secretário informa, com muita adjetivação e declarações de amor, leva a se considerar que a escolha da localização já foi feita, só basta um pouco de anestésico para o povo do Crato engolir.

d) a maior evidência é a fala do Governador meio que ameaçadora, se vocês não quiserem, lavo as mãos e o investimento não vem. Vejam que ele incorpora na ameaça o investimento no Campus da URCA, radicalizando o sentimento de perda pela população e tentando imobilizar os opositores da localização.

e) agora retorno ao Samuel, o prefeito do Crato, é preciso que ele fale, se expresse sobre o assunto, aqui neste blog que tem enorme simpatia por ele e em outros meios de comunicação da região.

f) a eventual fraqueza do Samuel neste momento seria o caminho para duas coisas danosas: o não investimento no campus da URCA e no parque de exposições.

g) cabe ao Samuel derrotar a "chantagem" do Governador, com este papo de não investir se o povo do Crato reagir à solução dele.

Anônimo disse...

Sim, este comentário de Zé do Vale eu li no Blog do Crato

jflavio disse...

O Leonel apresenta um resumo bem realista ( pode parecer pessismista à primeira vista) da situação do Crato. Concordo com ele na maioria dos pontos levantados.Este olhar ao passado está impregnado na cidade, acredito que talvez porque não vislumbre outras perspectivas futuras. Acredito tmbáem que o desfecho político da questão ele cantou a pedra: o governador não vai dar a verba e ainda vai jogar a culpa nos espíritos de porco. Pensamos pensar em saídas para escapar desse atoleiro.

Unknown disse...

Independente de onde este parque de exposições fique, espero que:

1- Coíbam os abusos no trânsito da cidade na época da Expocrato.

2- Melhorem a higiene e o atendimento nas "barracas" que vendem alimentos na EXpocrato. Não precisa ser tão ruim, sujo e caro.

3- Além dos camelôs, barracas de móveis, automóveis e inúmeros stands que não tem nehuma ligação com a festa, espero que valorizem mais o que é específico daqui.

E não sejamos ingênuos sobre os interesses envolvidos. No final, o "agronegócio", eufemismo para o setor mais atrasado do país, vai sair lucrando.