TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 26 de julho de 2009

A Fogueira dos nossos Sonhos - Por: Dihelson Mendonça


Acreditei numa Mentira por 25 Anos...


Meus pais me ensinaram grandes valores. Ensinaram-me a ser uma pessoa honesta, batalhar com o suor do meu rosto pelas coisas em que eu acreditava. Meu pai ensinou-me o trabalho, o estudo e o patriotismo. Amar o meu País. Servir à minha Pátria de todas as formas. Foram longos anos de estudo, de luta e de formação de conceitos. Pertenço a uma geração que teve que conviver com soldados no poder, e crer não neles, mas em pelo menos uma coisa que rezava na sua cartilha: A de que o meu país é o meu lar. E de que eu tenho que ser fiel à minha Pátria, honrá-la e respeitá-la. Vivi em tempos de uma ditadura militar, de perigosos anos 70, quando não se podia falar a palavra "comunista" porque poderia ser prêso no Brasil. Já no fim da década, começaram a surgir movimentos para tentar livrar o povo Brasileiro do jugo daqueles a quem todos considerávamos "criminosos", que um dia promoveram o infame AI-5. Surgiu o Partido dos Trabalhadores. Na época, pensei: "Que maravilhoso! Um partido feito por aqueles que trabalham, que realmente constróem o Brasil, que dão o seu suor para sustentar a pátria querida!" . A cada dia, o partido se agigantava e eu me espelhava naquelas pessoas que caminhavam com bandeiras vermelhas, simbolizando o sangue, líamos livros estranhos que falavam em Lenin, Chê Guevara, adorávamos Guevara e tínhamos posters de "Hay que endurecer-se sin perder la Ternura jamás" nas paredes sem mesmo nunca tê-lo visto. Honrávamos as barbas do revolucionário Fidel Castro, dentre tantas coisas. Éramos jovens e puros.

Vieram várias campanhas, dentre as principais, a das "DIRETAS JÁ". Todos juntos, oposição reunida. Lutamos com o coração, ainda que sem pisar como muitos, nos gramados do Congresso Nacional, torcendo debaixo de uma bandeira sob a chuva, que simbolizava o fim de uma era de terror para o Brasil. O Fim de assassinatos, aguardando por "tanta gente que partiu num rabo de foguete", exilados ou auto-exilados por tentar defender as liberdades e garantias individuais do nosso humilhado povo.

E como vibrávamos naquela manhã ! Sentíamos na alma de Brasileiros o doce calor dos novos tempos, dos rostos de cara pintada, dos jovens que éramos, ingênuos, muitas vezes, acreditando e tentando acreditar que nossa pátria estaria finalmente livres de toda a corrupção que nela havia. Veio a morte de Tancredo Neves, que era a esperança para muitos de um Brasil decente. Como nos causou comoção, ver a repórter Glória Maria, em edição extraordinária na TV Globo anunciar que finalmente, Tancredo Neves estava morto!

E ao longo do tempo, os nossos partidos de esquerda ganharam espaço e simpatia no coração do povo Brasileiro. Não de todos. Alguns, surgidos talvez das velhas práticas da antiga ARENA - Aliança renovadora Nacional, se transformaram em PDS, PFL, etc. Esses tais depois pularam de partidos, assumiram a gerência da nação Brasileira, e começamos a ficar desapontados com os novos rumos que o nosso país tomava: Inflação descontrolada, Corrupção descontrolada, escândalos de toda espécie eram comentados nos bastidores, sempre denunciados por nossos partidos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores, o PT, que muito lutamos para que crescesse, ostentando o brasão da ética, da moral e da verdade para o Povo Brasileiro.

Batalhamos muito para que um dia pudéssemos nos livrar das "elites" que dominaram o Brasil desde as já tão longe "diretas já". Após os últimos Presidentes do regime militar, um deles, o João Batista de Figueiredo, que era dado a gostar de cavalos, eram sempre apoiados pela TV Globo, que promovia espetáculos para iludir o povo do Brasil, chegando até a mostrar reportagens sobre cavalos, que o presidente deveria apreciar bastante... Depois, vieram Presidentes estranhos, como SARNEY, ...um cara que usava um topete ridúculo e paquerador, por nome ITAMAR FRANCO, e depois um episódio inédito na política brasileira: Um outro que veio das Alagoas, por nome Collor de Melo, falando de forma enfática, como Hitler, olhando nos olhos, sem titubear, conseguiu nos iludir mais uma vez. O candidato do PT, o nosso Lula, disputou eleição com o Collor, mas perdeu. Entramos pelo cano mais uma vez. Deixamos de acreditar nas "propostas de um trabalhador que veio do Nordeste num pau-de-arara, gente humilde que desde os anos 80 trazia o estandarte da luta contra a corrupção", para acreditarmos na retórica brilhante de um Collor.

Passado algum tempo, vimos que fizemos péssima escolha. O Homem Colorido era um tremendo vigarista. Foi preciso muito esforço e uma campanha de Impeachment envolvendo todo o povo brasileiro para vê-lo saindo pelos fundos do palácio da alvorada num helicóptero, mas ainda assim, de cabeça erguida. Estava fora o caçador de marajás, ele mesmo um dos grandes, que havia oferecido festas nababescas para os seus amigos nas dependências dos palácios de Brasília. Livrávamos naquele instante, de um grande gênio do mal, odiado por todo o povo Brasileiro.

Depois surgiu em cena, um professor. Veio da Sourbone, todo falante, dizia saber muito; Que sabia tirar o país da situação em que se encontrava. O povo Brasileiro, ingênuo, acreditou nos planos mirabolantes desse professor. Só que o professor gostava mesmo era de viajar. Alguns apelidaram-no de Viajando Henrique Cardoso. Este lutou também contra o nosso Lula nas eleições. Assistimos pela TV como desde os anos 80, o Lula mais uma vez disputando, agora bem mais velho, tentando se eleger contra uma "elite podre" que muito dinheiro possuía e que eram "amparados pelas oligarquias de São Paulo" - é o que se dizia. Enquanto isso os trabalhadores faziam piquetes nas portas das fábricas, ostentavam bandeiras vermelhas, gritávamos palavras de órdem, alguns davam seu sangue ( literalmente ), como o Chico Mendes para livrar o País do clima de injustiça e submissão que reinava. Mais uma vez, o mêdo havia vencido a esperança! - "A esperança equilibrista" - na ânsia de que um dia poderíamos ficar livres de vez das muitas mazelas de nosso país. Nossa esperança nessa época, eram os partidos de esquerda, como o PT, o PDT de Leonel Brizola, que era um caudilho, mas que falava com propriedade. Dizia Brizola: "O primeiro ato do meu governo, no dia primeiro, na primeira hora de mandato, é assinar um decreto quebrando o monopólio da Rede Globo de Televisão", empresa criada nos anos 60, com apoio do grupo americano Time/Life e que se prestou a ser o Jornal da Ditadura, mas que após a transição para os governos civis, passou para o outro lado, estando sempre do lado do poder e do dinheiro.

Enfim, o homem da Sourbone e do Neo-Liberalismo, criou coisas aparentemente boas, inventou um tal "Plano Real" que a princípio foi bom, mas depois se mostrou desastroso para o nosso país. Inúmeros escândalos explodiam, e ao final, o Brasil estava pior do que antes, à beira do Caos em todos os sentidos.

Novamente, e imbuídos do mais puro sentimento de patriotismo, voltamos às velhas barricadas daqueles tempos imemoriais, quando em cada eleição, procurávamos trazer aquele que esteve conosco desde os anos 80, falando em todos os meios de comunicação que um governo do PT seria incrivelmente diferente dos anteriores. O nosso "Lulinha" agora estva mais "Paz e Amor". Aquela prepotência, a Arrogância tão características suas, haviam passado, e de cabelo arrumado e paletó engomadinho, se adaptava mais ao perfil que a mídia moderna exigia para uma campanha que pudesse dar certo.

Era talvez a chance de "passar o Brasil a limpo", de ver "se a esperança vencia o medo", de acreditar que pudéssemos nos livrar de toda a roubalheira que sabíamos existir na era FHC de privatizações, que era denunciada pelo Lula e pelos partidos de esquerda.

Vieram as eleições. E novamente, fomos às ruas. Muitos de nós organizaram verdadeiros comitês pela internet, - tempos modernos -, refutando todas as acusações contra nosso líder maior e barbudo. Tínhamos agora acesas em nosso peito aquele restinho de esperanças de ver um Brasil mudado, de ver que num governo de esquerda, não haveria corrupção, pois passamos 20 anos a esperar por esses tais dias.

Eleições concretizadas. Qual não foi a surprêsa para todos os Brasileiros, ao ver que finalmente "A esperança havia vencido o Medo". Lula havia ganho as eleições. Nossos corações vibravam. Éramos um povo feliz. Poderíamos enfim, testar os conceitos daqueles que sempre haviam sido a pedra da vidraça por 25 anos. Poderíamos enfim, por em prática os planos de socialização. A luta pela moralização do país, a luta contra toda a corrupção que existia...mas...


Infelizmente, para nossa imensa decepção enquanto brasileiros, mais uma vez, os nossos guardiães da moralidade, aqueles a quem demos as nossas forças, o nosso suor, o nosso sangue, nos traiu escandalosamente. Começaram a aparecer dados muito concretos de escândalos absurdos, como o Caso Celso Daniel, Escândalo dos Grampos Contra Políticos da Bahia, Operação Anaconda, Escândalo dos Bingos, Expulsão de Políticos do PT, Uso dos Ministros dos Assessores em Campanha Eleitoral de 2004, irregularidades na Bolsa-Escola, Escândalo de Cartões de Crédito Corporativos da Presidência, Escândalo dos Correios, Escândalo da Usina de Itaipu, Caso Daniel Dantas, Escândalo do Mensalão, Escândalo da Quebra do Sigilo Bancário do Caseiro Francenildo, escândalos de corrupção envolvendo ministros no Governo Lula, e muitos e muitos outros. Eram tantos escândalos e até essa data, que são difícieis de enumerar.

Ao ver tudo isso em retrospectiva, vi que fomos enganados por mais de 25 anos acreditando numa lenda. Vi no poder, pessoas em que eu acreditei como sendo os maiores guardiães de um Brasil livre de corrupção cometendo crimes graves contra a nação e ficando na Impunidade. Vi gente como Zé Dirceu acusado de fazer grandes trambiques na sala ao lado do Cacique maior, vi gente como Delúbio na CPI do mensalão mentindo descaradamente, babando e sorrindo, porque sabia que dali sairia uma bela Pizza. Vi Marcos valério e vi muitos outros. Vi gente transportando dólares em Malas e Cuecas. E senti-me triste como brasileiro. Como todos nós que depositamos a esperança num quadro de ética e de moral que era apenas fumaça, mais um engodo para levar gente mesquinha ao poder.

E compreendi que fomos usados e violados no mais profundo senso da vileza humana e deprimente, que é usar-se da boa fé de um povo. Não com meras promessas de uma campanha passageira, como os outros fizeram, mas enganados por um plano ardiloso que já durava 25 anos, sempre nos apresentado como o supra-sumo dos tempos modernos, de um futuro deslumbrante que poderia se descortinar, se colocássemos os partidos de esquerda no poder.

Em nenhum momento deixamos de saber que nos governos anteriores existiu corrupção. Nunca negamos como brasileiros, que essa era a verdade. Nunca deixamos de saber que FHC, Sarney, Collor, Maluf, ACM, não eram homens de todo corretos. Haviam falhas enormes em todos eles. E por essa exata razão é que pensávamos que se elegêssemos aquele que se portou de guardião dos bons princípios que devem nortear a democracia com suas grandes virtudes, pudéssemos reverter todo esse quadro de verdadeira bandalheira que existia e que existe no Brasil.


Mas estávamos errados. Quão profundamente errados! Votamos nos partidos de esquerda como uma espécie de tábua de salvação, de último recurso ao Brasil, e o que ganhamos ? Recebemos o troco pela nossa grande ingenuidade. Estupraram a consciência dos brasileiros com inúmeros escândalos, mais corrupção, e agora mesmo, de forma escancarada. Nem é preciso mais esconder os crimes. Não se precisa nem mais negar. Os homens do poder, podem fazer o que bem quiserem e sair pela porta da frente, sem o menor temor. Negam-se até a depor. Conseguem documentos para isso. Temos um Congresso comprado, loteado, corrupto, que segue as leis de mercado daqueles que pagam mais. Não todos os congressistas, felizmente. Mas as manchetes pipocam todos os dias em TODOS os Jornais do país.

A "esperança equilibrista" que sonhamos para o nosso país, o conjunto de grandes valores morais e éticos ensinados por nossos pais, mais uma vez foram esquecidos. Elegemos aqueles que nos traíram não por uma mera eleição, não por um mandato apenas, mas por toda uma vida. Tiraram dos nossos olhos o brilho da nova esperança para o Brasil. Arrancaram de nossos corações o desejo de lutar e de ainda acreditar que possam existir ainda nesse país homens de boa vontade ( mas sabemos que existem ). Enfim, soterraram sob uma pilha de escombros, os nossos mais sublimes sonhos. Os sonhos de todo um povo de ver gente feliz e soberana, de ver nossas crianças acreditando que nossos ideais de esperança, de honestidade, de educação,, de cultura, e de todas as outras virtudes, seguirão adiante com um futuro certo e de gente limpa. Mancharam e tripudiaram da nossa alma de povo altivo. Cuspiram na nossa honra verde-amarela. Rasgaram a nossa bandeira de luta em troco de mensalões e mensalinhos.


Em que pode o povo Brasileiro HOJE acreditar ?

Em qual político dessa imensa balbúrdia, todos conluiados se pode crer ?
Quando se reuniram num mesmo caldeirão aqueles que passamos a vida lutando contra, tais como Sarney, Collor, Renan, e outros e outros mais... Estão todos aí, estão todos numa boa, estão todos usufruindo do calor da fogueira dos nossos sonhos, do nosso suor, do nosso sangue, e da nossa esperança, que nunca foi de fato concretizada, e que mais uma vez nos trouxe do abismo, aquele que sempre foi de fato o nosso único e eterno "companheiro":



O MEDO !

Todos os Atores desse imenso Circo Reunidos:




"Ri! Coração, Tristíssimo palhaço..."

Por: Dihelson mendonça

3 comentários:

Maurício Tavares disse...

Dihelson
Pensei que a mentira que você tinha acreditado era outra. O subtítulo ficou ambíguo e provocativo.

Dihelson Mendonça disse...

Prezado Maurício,

Este país é uma mentira de Sul a Norte e de leste a Oeste. Só é verdadeiro o nosso sentimento.

Quanto ao texto, fi-lo na intenção de que o título se referisse mais à primeira parte, e o subtítulo só é compreensível, ao descortinar-se o grand finale. Mas achei que sem o subtítulo, ficaria faltando algo...

Abraço,

Dihelson Mendonça

jflavio disse...

Entendemos todo o desabafo de Dihelson quando se vê diante do esmagamento da sua utopia. Não foi diferente do estupor de tantos outros durante toda a história da humanidade. Os comunistas históricos se viram traídos com invasão da Tchocoslováquia, com os Gulags, com o paredão, com a queda do muro.A direita emperdernida há pouco se viu confusa com a crise imobiliária e o crash da bolsa em 1929. Esta vida é mesmo assim um triturador de sonhos, mas não dá para viver sem utopia. A falha, no final, se a gente reparar direitinho, não está no Senado, no Congresso, no Sarney, no Jáder, no ACM. eles são o nosso reflexo no espelho. Naõ chegaram lá por vontade própria, foram catapultados pelo povo: Eleitos. Ou seja, sequer nosso sentimento é verdadeiro. O Senado não é diferente de qualquer uma outra instituição nesse país : Sindicatos, Igrejas, Repartições públicas, bancos, empresas privadas. Somos todos corruptos com ou sem dolo, por ação ou omissão. Todos vendem o voto: varia apenas o preço( chinelas, tijolos, cargos, licitações...). o mesmo que se indigna com a corrupção em Brasília tenta subornar o gusrds de trânsito na esquina, pede o emprego para o filho na prefeitura sem concurso público. Esse é o país que temos, nossos políticos não são melhores nem piores que nosso povo. Na nossa utopia, postamo-nos a esperar um salvador da pátria, um santo, um imaculado que com uma varinha de condão mude tudo, de um momento para outro. Queremos que , no fundo, alguém saia limpíssimo, vestido de linho branco, de dentro do charco em que todos vivemos. É essa a nossa utopia. Mas, por outro lado, não dá para viver sem ela e, acredito piamente, que em slow-motion as coisas têm melhorado: é que o país é novinho temos um pouco mais de 500 anos, há pouco mais de 100 ainda vivíamos na escravidão. Certamente esta geração e a de meus filhos e netos não verão um país que mereça o nome de nação, mas um dia chegamos lá. O sonho não acabou, se não temos ainda os políticos ideais, não somos ainda também os cidadãos ideiais : votemos no menos pior. Se o nosso destino é ver o esmagamento eterno das nossas utopias, continuemos a fabricá-las, um dia, quem sabe com educação política a máquina trituradora termina por emperrar.