Trechos do Artigo do Prof. Hélio Teixeira* retirado da Internet
Professor Titular e Livre Docente do Departamento de Clínica Médica
Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia (MG). Brasil
E-mail: hteixeira@ufu.br
As escolas médicas, como salientamos, enfatizam a doença em detrimento do doente e para ela [doença] direcionam os recursos diagnósticos e terapêuticos; não levam em conta que a doença representa apenas uma manifestação exteriorizada de problemas interiores do ser4. Ênfase na parte, negligência no todo. Visão mecanicista ou organicista do ser, ausência de avaliação global. É de observação comum que os médicos modernos são mais preparados para ouvir, sentir e perceber melhor os órgãos; ao contrário, os médicos antigos percebiam melhor as pessoas. A tecnologia moderna investiga bem a doença, mas é fria, impessoal, insensível e incapaz de adentrar na alma do paciente. Este não aguarda ansiosamente apenas pela modernidade na condução de seu caso, mas espera encontrar diante de si um técnico competente (médico) que seja também um confessor, um protetor e um amigo. Do técnico, ele espera soluções; ao confessor, revela seus problemas íntimos, às vezes timidamente, mas com coragem; ao protetor, entrega seu destino; e do amigo, espera solidariedade, compreensão e calor humano. Fica então evidente porque o computador não substitui o médico nessa função perante o paciente, que é essencialmente humana.4 Uma outra abordagem mais complexa do ser humano visualiza quatro dimensões do mesmo e foram desenvolvidas por Philon de Alexandria e Karlfried Graf Dürckheim: soma, psique, nous e pneuma8. A figura 3 mostra uma representação gráfica do ser humano com suas quatro dimensões:
“Declaração de Veneza
Em 1986 reuniram-se em Veneza 19 celebridades nas diversas áreas do conhecimento humano, incluindo2 ganhadores de Prêmio Nobel, além do presidente do Comitê Nobel de Estocolmo, oriundos de 16 países, entre eles o Brasil, aqui representado pelo Prof. Ubiratan D'Ambrosio, da UNICAMP, para, sob a organização da UNESCO, discutirem o futuro da ciência no mundo. Ao final, divulgaram as conclusões dos trabalhos em um relatório que ficou conhecido como Declaração de Veneza1, 2, cujo teor reproduzimos abaixo, por julgarmos pertinente ao assunto em pauta:
Comunicado final do Colóquio:
A Ciência Diante das Fronteiras do Conhecimento Veneza, 7 de março de 1986.
Os participantes do colóquio "A Ciência Diante das Fronteiras do Conhecimento", organizado pela UNESCO, com a colaboração da Fundação Giorgio Cini (Veneza, 3-7 de março de 1986), animados por um espírito de abertura e de questionamento dos valores de nosso tempo, ficaram de acordo sobre os seguintes pontos:
• 1. Somos testemunhas de uma revolução muito importante no domínio da ciência, provocada pela ciência fundamental (em particular a física e a biologia), devido a transformação que ela traz à lógica, à epistemologia e também, através das aplicações tecnológicas, à vida de todos os dias. Mas, constatamos, ao mesmo tempo, a existência de uma importante defasagem entre a nova visão do mundo que emerge do estudo dos sistemas naturais e os valores que ainda predominam na filosofia, nas ciências do homem e na vida da sociedade moderna. Pois estes valores baseiam-se em grande parte no determinismo mecanicista, no positivismo ou no niilismo. Sentimos esta defasagem como fortemente nociva e portadora de grandes ameaças de destruição de nossa espécie.
• 2. O conhecimento científico, devido a seu próprio movimento interno, chegou aos limites onde pode começar o diálogo com outras formas de conhecimento. Neste sentido, reconhecendo as diferenças fundamentais entre a ciência e a tradição, constatamos não sua oposição, mas sua complementaridade. O encontro inesperado e enriquecedor entre a ciência e as diferentes tradições do mundo permite pensar no aparecimento de uma nova visão da humanidade, até mesmo num novo racionalismo, que poderia levar a uma nova perspectiva metafísica.
• 3. Recusando qualquer projeto globalizante, qualquer sistema fechado de pensamento, qualquer nova utopia, reconhecemos ao mesmo tempo a urgência de uma procura verdadeiramente transdisciplinar, de uma troca dinâmica entre as ciências "exatas", as ciências "humanas", a arte e a tradição. Pode-se dizer que este enfoque transdisciplinar está inscrito em nosso próprio cérebro, pela interação dinâmica entre seus dois hemisférios. O estudo conjunto da natureza e do imaginário, do universo e do homem, poderia assim nos aproximar mais do real e nos permitir enfrentar melhor os diferentes desafios de nossa época.
• 4. O ensino convencional da ciência, por uma apresentação linear dos conhecimentos, dissimula a ruptura entre a ciência contemporânea e as visões anteriores do mundo. Reconhecemos a urgência da busca de novos métodos de educação que levem em conta os avanços da ciência, que agora se harmonizam com as grandes tradições culturais, cuja preservação e estudo aprofundado parecem fundamentais. A UNESCO seria a organização apropriada para promover tais idéias.
• 5. Os desafios de nossa época: o desafio da autodestruição de nossa espécie, o desafio da informática, o desafio da genética, etc. mostram, de ua maneira nova, a responsabilidade social dos cientistas no que diz respeito à iniciativa e à aplicação da pesquisa. Se os cientistas não podem decidir sobre a aplicação da pesquisa, se não podem decidir sobre a aplicação de suas próprias descobertas, eles não devem assistir passivamente à aplicação cega destas descobertas. Em nossa opinião, a amplidão dos desafios contemporâneos exige, por um lado, a informação rigorosa e permanente da opinião pública e, por outro lado, a criação de organismos de orientação e até de decisão de natureza pluri e transdisciplinar.
• 6. Expressamos a esperança que a UNESCO dê prosseguimento a esta iniciativa, estimulando uma reflexão dirigida para a universalidade e a transdisciplinaridade. Agradecemos a UNESCO que tomou a iniciativa de organizar este encontro, de acordo com sua vocação de universalidade. Agradecemos também a Fundação Giorgio Cini por ter oferecido este local privilegiado para a realização deste fórum.
Signatários:
• Professor D. A. Akyeampong (Gana), físico-matemático, Universidade de Gana.
• Professor Ubiratan D'Ambrosio (Brasil), matemático, coordenador geral dos Institutos, Universidade Estadual de Campinas.
• Professor René Berger (Suíça), professor honorário, Universidade de Lausanne.
• Professor Nicolo Dallaporta (Itália), professor honorário da Escola Internacional dos Altos Estudos em Trieste.
• Professor Jean Dausset (França), Prêmio Nobel de Fisiologia e de Medicina (1980), Presidente do Movimento Universal da Responsabilidade Científica (MURS França).
• Senhora Maîtraye Devi (Índia), poeta-escritora.
• Professor Gilbert Durand (França), filósofo, fundador do Centro de Pesquisa sobre o Imaginário.
• Dr. Santiago Genovès (México), pesquisador no Instituto de Pesquisa Antropológica, acadêmico titular da Academia Nacional de Medicina.
• Dr. Susantha Goonatilake (Sri Lanka), pesquisador, antropologia cultural. Prof. Avishai Margalit (Israel), filósofo, Universidade Hebraica de Jerusalém.
• Prof. Yujiro Nakamura (Japão), filósofo-escritor, professor na Universidade de Meiji.
• Dr. Basarab Nicolescu (França), físico, C.N.R.S.
• Prof. David Ottoson (Suécia), Presidente do Comitê Nobel pela Fisiologia ou Medicina, professor e diretor do Departamento de Fisiologia, Instituto Karolinska.
• Sr. Michel Random (França), filósofo, escritor.
• Sr. Facques G. Richardson (França - Estados Unidos), escritor científico. Prof. Abdus Salam (Paquistão), Prêmio Nobel de Física (1979), diretor do Centro Internacional de Física Teórica, Trieste, Itália, representado pelo Dr. L.K. Shayo (Nigéria), professor de matemáticas.
• Dr. Rupert Sheldrake (Reino Unido), Ph.D. em bioquímica, Universidade de Cambridge.
• Prof. Henry Stapp (Estados Unidos da América), físico, Laboratório Lawrence Berkeley, Universidade da Califórnia Berkeley.
• Dr. David Suzuki (Canadá), geneticista, Universidade de British Columbia. “
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