TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Algumas síntese que fiz a respeito da crise do Senado.

a) A crise tem um fundo cultural, social e político. É cultural com os senadores se comportando como elite privilegiada, que se encontra acima das leis universais da constituição. É social uma vez que a sociedade brasileira se encontra em processo de rearranjo, com forte mobilidade ascensional de grandes segmentos e já não suporta as regras da cultura política e social tradicional. É política com dois movimentos simultâneos: por um lado a desconfiança generalizada da sociedade com os políticos e por outro a degradação moral de políticos e da burocracia partidária.

b) Quando Sarney disse que a crise não era dele, mas do senado. O erro não foi do senador, mas da interpretação possível. Ora com esta frase Sarney diz exatamente que a crise é dele, uma vez que ele é membro do senado. E membro destacado, a Presidência, sobre a qual recaem simbolicamente os grandes problemas do senado.

c) Esta é uma das grandes crises da história recente do senado. Ou, talvez, uma das recorrentes grandes crises do senado a lembrar: a crise Jáder Barbalho, a crise Antonio Carlos Magalhães e a crise Renan Calheiros. Esta se diferencia em face de que o atual presidente do Senado é um político tradicional da história do país, já foi governador, líder de bancada, presidente de partido político e Presidente da República.

d) Qual o motivo da crise do Senado não vir para as ruas. A primeira é que o Senado é uma casa fechada e elitista. A segunda é pelo fato de que os demais poderes estão sem problemas no momento. A terceira e mais óbvia: parte da crise é a luta PT e PSDB na sucessão presidencial de 2010. Estranhamento quanto ao comportamento do PT em relação à Sarney?

e) O PT sentou-se para acalmar os ânimos no dia de ontem com o PSDB e DEM por outro motivo não menos secundário. Há uma franca contradição entre Lula e sua política sucessória e os interesses eleitorais do PT por causa do arranjo com o PMDB. O PT está desesperado com as perdas para o PMDB nas próximas eleições. Além das pesquisas que podem demonstrar desgaste para Lula com o apoio a Sarney, há outro dado para o recuo público de Lula dizendo que não votou em Sarney e este é o problema do PT.

f) O papel da mídia na crise do Senado é relevante. Todo o horror moral, a batida diária do malho sobre o presidente do Senado, a republicação dos mesmos fatos; a repercussão em cadeia de jornais, rádios e televisão; o tom geral de escândalo até para empregar alguém, prática velha dos políticos são táticas e estratégias com o objetivo de esquentar a crise. A mídia se acostumou a derrubar chefes de poderes.

g) A mídia brasileira representa a opinião pública? Não. Ela conhece o modo torto como esta opinião é formada e trabalha nas cargas instáveis. Aumenta esta carga num crescente e em cadeia articulada em várias praças de modo a dar a impressão geral de que apenas exista uma verdade dos fatos. E com a bandeira dos fatos, forjado sobre cargas tortas, se vêm ilesas moralmente do que fazem. Ninguém controla a mídia, nem mesmo a liberdade do leitor ou assistente de fechar o canal. Ela se tornou um poder acima dos demais poderes da sociedade e da República.

h) Além de ter descoberto um instância de poder, a mídia brasileira é pior ou no mínimo igual ao Senado: três famílias controlam toda a ação, editoria e pautas. Não apenas controlam o conteúdo, controlam os meios: cabos e canais de televisão; jornais, rádios e televisões; editoras e gráficas; distribuidoras e pontos de venda. Não é a toa que a Editora Abril é uma das grandes clientes de governos estaduais com material escolar, especialmente no Estado de São Paulo.

i) A sociedade tem capacidade de articular algo tão complexo? Tem e o caminho é a Educação Pública Universal, forte regulação sobre o ensino privado; desenvolvimento de ciência e tecnologia; desenvolvimento da cultura nacional. O segundo é estimular a politização da juventude. A terceira são políticas de renda popular para rapidamente superar a estagnação econômica do país e promover a ascensão social de grandes parcelas do país, especialmente no nordeste e periferia do sul e sudeste.

Um comentário:

Unknown disse...

José do Vale, parabenizo-o pela argumentação. Realmente, a análise que você faz está correta.

Abraço.