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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Escola Austríaca

1ª Parte

Peter Boettke – A Escola Austríaca de Economia - Tradutor: Rafael Hotz
Sobre o Texto:
O texto consiste num artigo de enciclopédia econômica.

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A Escola Austríaca de Economia foi fundada em 1871 com a publicação do livro de Carl Menger, Princípios de Economia Política. Menger, conjuntamente com William Stanley Jevons e Leon Walras, desenvolveu a revolução marginalista na análise econômica. Menger dedicou Princípios de Economia Política a seu colega alemão William Roscher, figura proeminente da Escola Historicista Alemã, que dominava o pensamento econômico nos países de língua alemã. Em seu livro, Menger argumentou que a análise econômica é universalmente aplicável e que a unidade apropriada de análise é o homem e suas escolhas. Essas escolhas, escreveu, são determinadas por preferências individuais subjetivas e pela margem na qual essas decisões são tomadas (ver Marginalismo). A lógica da escolha, ele acreditava, era a ferramenta essencial para o desenvolvimento de uma teoria econômica universalmente válida.

A escola histórica, por outro lado, dizia que a ciência econômica é incapaz de gerar princípios universais e que a pesquisa científica deveria ao invés ser focada em exame histórico detalhado. A escola histórica achava que os economistas ingleses clássicos estavam errados em acreditarem em leis econômicas que transcendem o tempo e fronteiras nacionais. Os Princípios de Economia Política de Menger restauraram a visão clássica da economia política de leis universais e o fizeram se utilizando de análise marginal. Os estudantes de Roscher, especialmente Gustav Schmoller, fizeram grandes ressalvas à defesa de Menger da “teoria” e deram ao trabalho de Menger e seus seguidores, Eugen Böhm-Bawerk e Friedrich Wieser, o nome depreciativo de “Escola Austríaca”, graças a suas posições de docentes na Universidade de Viena. O termo pegou.

Desde os anos 30, nenhum economista da Universidade de Viena ou qualquer outra universidade austríaca se tornou figura proeminente da então chamada Escola Austríaca de economia. Nos anos 30 e 40, a Escola Austríaca se mudou para a Inglaterra e EUA, e os acadêmicos associados a essa abordagem da ciência econômica estavam primariamente localizados na London School of Economics (31-50), New York University (44-?), Auburn University (83-?) e George Mason University (81-?). Muitas das idéias dos principais economistas austríacos de meados do século XX, tais como Ludwig von Mises e F.A. Hayek, tem raízes nas idéias de economistas clássicos como Adam Smith e David Hume, ou figuras do início do século XX como Knut Wicksell, bem como Menger, Böhm-Bawerk e Friedrich von Wieser. Essa mistura diversa de tradições intelectuais da ciência econômica é ainda mais óbvia em economistas austríacos contemporâneos, que foram influenciados por figuras modernas na economia. Estas incluem Armen Alchian, James Buchanan, Ronald Coase, Harold Demsetz, Axel Leijonhufvud, Douglass North, Mancur Olson, Vernon Smith, Gordon Tullock, Leland Yeager e Oliver Williamson, bem como Israel Kirzner e Murray Rothbard. Enquanto se poderia argumentar que uma Escola Austríaca única opera em meio a profissão econômica hoje em dia, também poderia se argumentar sensivelmente que o rótulo “Austríaco” não possui mais um significado substantivo. Nesse artigo eu me concentro nas proposições principais sobre economia que os chamados Austríacos acreditam
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A Ciência Econômica

Proposição 1: Apenas indivíduos escolhem.

O homem, com seus propósitos e planos, é o ponto de partida de toda análise econômica. Apenas indivíduos escolhem; entidades coletivas não escolhem. A tarefa primária da análise econômica é tornar os fenômenos econômicos inteligíveis ao baseá-los em propósitos individuais e planos; a tarefa secundária da análise econômica é buscar as conseqüências não intencionais das escolhas individuais.

Proposição 2: O estudo da ordem de mercado é fundamentalmente sobre o comportamento de troca e as instituições em meio as quais essas trocas ocorrem.

O sistema de preços e a economia de mercado são mais bem compreendidas como uma “cataláxia”, e dessa forma a ciência que estuda a ordem de mercado cai sobre o domínio da “cataláxia”. Esses termos são derivados dos significados originais gregos da palavra “katallaxy” – trocar e trazer um estranho para seu lado através da troca. A cataláxia foca atenção analítica nas relações de troca que emergem no mercado, na barganha que caracteriza o processo de troca, e nas instituições nas quais essas trocas ocorrem.

Proposição 3: Os “fatos” das ciências sociais são aquilo que as pessoas acreditam e pensam.

Diferente das ciências físicas, as ciências humanas começam com propósitos e planos de indivíduos. Se nas ciências físicas o expurgo de propósitos e planos levou a avanços ao superar o problema do antropomorfismo, nas ciências humanas, a eliminação de propósitos e planos resulta em expurgar a ciência da ação humana de seu assunto principal. Nas ciências humanas, os “fatos” do mundo são aquilo que os agentes acreditam e pensam.

O significado que os indivíduos atribuem às coisas, práticas, locais e pessoas determina como eles se orientarão em tomar decisões. A meta das ciências da ação humana é inteligibilidade, e não previsão. As ciências humanas podem atingir seu objetivo porque nós somos aquilo que estamos estudando, ou porque possuímos conhecimento de dentro, ao passo que as ciências naturais não podem perseguir uma meta de inteligibilidade porque elas dependem de conhecimento externo. Nós podemos entender propósitos e planos de outros agentes humanos porque nós mesmos somos atores humanos.

A experiência clássica de pensamento usada para transmitir essa diferença essencial entre as ciências da ação humana e as ciências físicas era um marciano observando os “dados” na Grand Central Station em Nova Iorque. Nosso marciano poderia observar que quando a mãozinha do relógio aponta para o oito, há um tumulto de movimentação conforme os corpos deixam aquelas caixas, e que quando a mãozinha chega ao cinco, há um tumulto de movimentação conforme os corpos reentram nas caixas e vão embora. O marciano pode até desenvolver uma previsão sobre a mãozinha e o movimento dos corpos e das caixas. Mas a menos que o marciano venha a compreender os propósitos e planos (a comutação de ida e volta do trabalho), seu entendimento “científico” dos dados da Grand Central Station será limitado. As ciências da ação humana são diferentes das ciências naturais, e empobrecemos as ciências humanas quando tentamos encaixa-las no molde filosófico/científico das ciências naturais.
Fonte: http://enxurrada.blogspot.com/

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