TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Interblogs: o presente agora acaba no instante passado

Conheço o texto de André Forastieri desde quando era leitor assíduo da revista Bizz, ainda na década de 80, quando a cada mês comprava a revista para satisfazer minha necessidades de fã do rock tupiniquim (amava o Barão Vermelho, Legião e Titãs) e atualizar o meu vocabulário pop e a postura juvenil.

Eis que agora reencontro Forastieri na Internet, com um excelente blogue, antenado e provocativo. Dele, mais uma vez, pincei uma matéria quente e apetitosa como uma nova pizza de sabor já conhecido.

O endereço do blogue é: http://andreforastieri.uol.com.br/

Carlos Rafael Dias


Convergência promete fortes emoções

André Forastieri


O meio digital demole barreiras entre computador, celular, televisor, videogame. E entre produtores e consumidores de conteúdo. As tevês pagas são intermediárias entre as duas pontas.

Como todos nesta posição, precisam se reinventar ou morrer. É fútil lutar contra o progresso.

Vai haver quem baixará tudo de graça? Sim. Mas a natureza fez de nós bichos preguiçosos e covardes. Prezamos acima de tudo a conveniência e a segurança, como prova o Disk-Pizza.
Já é perfeitamente viável para a CBF ou a Liga das Escolas de Samba transmitir diretamente o campeonato brasileiro e o desfile de Carnaval.


Sem envolver nenhum emissora de tevê.


A tecnologia é trivial. O custo aceitável, ainda mais ficando com 100% do valor dos patrocínios. Para que dividir com um intermediário?


O conteúdo quer ser grátis e bancado por publicidade. Não é o únicomodelo. Mas venceu na TV aberta, rádio e internet. Se você quer saber como será a TV do futuro, visite o YouTube.


O cenário: durante o episódio da novela, um sistema de busca esquadrinha o conteúdo em vídeo e oferece: gostou do brinco da Cristiane Torloni?


Lique aqui para comprar. Gostou do filme dos Transformers? Clique aqui para comprar o boneco, a lancheira, para jogar o game online. Está vendoo Gugu domingo à noite? Clique e peça uma pizza já.


E, claro: quer desativar os pop-ups de Links Patrocinados? A versão premium custa só R$ 29,90 por mês.


Este sistema não é o ideal para todo tipo de conteúdo. Não é a cara do Discovery Channel, tevê educativa ou filmes clássicos. Mas pago feliz R$ 4,99 às 22h31 de uma quarta-feira para comprar “Ladrões de Bicicleta” em três cliques (em Full HD com extras mil). Mesmo sabendo que em 15 minutos podia baixar tudo pirata. Não quero chateação nem encrenca. Só quero ver meu filme e jantar sossegado.


É pouco R$ 4,99? Qual a justificativa para cobrar o mesmo preço por um filme lançado em 2009 e um clássico de 1948? Qual a justificativa para as atuais leis de direitos autorais?


Preço justo tem de ser um conceito flexível. Os estúdios de cinema, que não querem ter o mesmo destino das gravadoras, sabem disso. O mesmo DVD que custa R$ 80,00 para o dono da locadora sai por R$ 9,99 em supermercados da periferia paulistana.


Uma alternativa interessante é o produtor de conteúdo (ou a operadora) subsidiar a sua conexão digital. É uma evolução do modelo do celular.


Você assina um contrato de fidelidade dois anos com pagamentos mensais mínimos (ou não). O contratado subsidia sua conexão e seu aparelho TV-PC, que saem na faixa ou quase. E ganha percentuais de todas as transações financeiras virtuais que você fizer.


Quem não arriscar, morre. Mas arriscar pode sabotar toda a cadeia de negócios que hoje sustentam grandes empresas. Mesmo que o lucro esteja minguando, é um salto no escuro. Por isso, a maioria dos novos modelos bem-sucedidos virão de empresas pequenas e iniciativas independentes.


Temos menos a perder.


Cada pessoa, cada empresa que produz conteúdo - o que hoje vai da blogueira de 12 anos ao artista a corporações - vai lidar de maneiras diferentes com este desafio.


Sobreviverá quem experimentar mais. Quem tem taxa de mutação rápida, como os vírus. Não haverá modelo hegemônico. O futuro será múltiplo. A única garantia é a de fortes emoções.

(O texto acima foi encomenda rápida dos amigos da Folha: topas escrever um box sobre o estado atual da TV paga e seu futuro? Sim, claro. Fiz uma experiência: escrevi tudo offline, sem pesquisar nada. Dia seguinte, mandei isso aí. Uma versão editada saiu sexta passada na Ilustrada, 7/8/2009. É assunto para um livro, vários, mas como introdução até que ficou decente, e foi legal escrever sem usar a internet. Segundo a lenda, Paulo Francis escrevia direto no telex, de cabeça. É isso aí: Old-school journalism!)

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