Por Zé Nilton
É difícil ou senão impossível não se comover, não se ficar tocado após ouvir qualquer música de Nelson Cavaquinho. Para quem gosta de música – da boa música – logo se enternece com a sensibilidade musical, harmônica e melódica das composições de Nelson Cavaquinho. Foi um mestre na arte de compor e de reinventar a realidade falando de coisas simples, duras, misteriosas da vida e da morte, com estilo e com profunda delicadeza. O mais carrancudo dos críticos, com seu nacionalismo e, acima de tudo, seu regionalismo ligeiramente exacerbado, esse irmão siamês das idéias em termos artísticos e musicais do famoso Ariano Suassuna – José Roberto Tinhorão – certa vez disse de Nelson Cavaquinho:
“Tome o homem seu violão, cante ele pelas ruas como um antigo trovador da Idade Média a beleza das flores, a efemeridade da vida e a angústia metafísica da morte, e esse será o retrato de Nelson Cavaquinho. Com sua cabeleira branca, seu permanente ar de dignidade e a sua voz enrouquecida por muitos anos de cervejas geladas, o que Nelson Cavaquinho canta (fazendo percutir, mais que dedilhando, as cordas do seu violão) é a saga de um homem que vive em estado de poesia. E cuja obra, por isso mesmo, não morrerá.”
Pura verdade sacada da inteligência desse minucioso historiador da Música Popular Brasileira, o Tinhorão. Nelson Antonio da Silva – Nelson Cavaquinho, que fazia verdadeiros malabarismos nas seis cordas do violão, foi mestre em destrinchar acordes simples e complexos, usando preferencialmente o polegar e o indicador e, segundo Paulinho da Viola, para seu grande espanto e admiração, terminando a música na segunda do tom. Permaneceu pobre e morando nas periferias do Rio de Janeiro, apesar da grande visibilidade que ganhou na década de 1970, ao ter inúmeras músicas gravadas por intérpretes de sucesso como: Paulinho da Viola (Duas Horas da Manhã), Chico Buarque (Cuidado com a outra), Clara Nunes (Minha festa), Beth Carvalho (Quero Alegria), além de Elizeth Cardoso, o saxofonista Paulo Moura e outros. Sempre teve presente na sua música e na suas conversas a idéia da dor, da solidão, da morte. Talvez devido ao seu estado de permanente embriaguês.
Lembro de um documentário realizado na década de 1960, sobre Nelson Cavaquinho, pelo cineasta Leon Leon Hirszman, em branco e preto, onde ele aparece em todas as cenas empunhando seus mais fervorosos companheiros: o violão e a bebida. Como disse, sua verve e sua imaginação colocavam por sobre o realismo exato da vida o lirismo e a mais terna poesia. Quem não se encanta com esta: “Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor” ? (A flor e o espinho).
E esta: “Quando eu passo perto das flores, quase elas dizem assim: vai, que amanhã enfeitaremos o seu fim (Eu e as flores). O nosso Patativa do Assaré tem uma poesia em que ele pede para que as homenagens a lhe serem rendidas sejam feitas em vida. Assim também o disse Nelson Cavaquinho, na música “Quando eu me chamar saudade”:
Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora
Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga
Para aliviar meus aís
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais.
Nelson Cavaquinho – será o nosso homenageado de amanhã no Programa COMPOSITORES DO BRASIL a partir das 14 horas, na Rádio Educadora, através da parceria Rádio Educadora/Centro Cultural Banco do Nordeste.
Vamos falar e tocar:
1. A flor e o espinho
2. Rugas
3. Folhas secas
4. Luz negra
5. Lágrimas sem jura
6. Eu e as flores
7. Palhaço
8. Quando eu me chamar saudade
9. Degraus da vida
10. Notícia
11. Juízo final
11. Cuidado com a outra
11. Pot-pourri, de Nelson Cavaquinho, com Noite Ilustrada
É difícil ou senão impossível não se comover, não se ficar tocado após ouvir qualquer música de Nelson Cavaquinho. Para quem gosta de música – da boa música – logo se enternece com a sensibilidade musical, harmônica e melódica das composições de Nelson Cavaquinho. Foi um mestre na arte de compor e de reinventar a realidade falando de coisas simples, duras, misteriosas da vida e da morte, com estilo e com profunda delicadeza. O mais carrancudo dos críticos, com seu nacionalismo e, acima de tudo, seu regionalismo ligeiramente exacerbado, esse irmão siamês das idéias em termos artísticos e musicais do famoso Ariano Suassuna – José Roberto Tinhorão – certa vez disse de Nelson Cavaquinho:
“Tome o homem seu violão, cante ele pelas ruas como um antigo trovador da Idade Média a beleza das flores, a efemeridade da vida e a angústia metafísica da morte, e esse será o retrato de Nelson Cavaquinho. Com sua cabeleira branca, seu permanente ar de dignidade e a sua voz enrouquecida por muitos anos de cervejas geladas, o que Nelson Cavaquinho canta (fazendo percutir, mais que dedilhando, as cordas do seu violão) é a saga de um homem que vive em estado de poesia. E cuja obra, por isso mesmo, não morrerá.”
Pura verdade sacada da inteligência desse minucioso historiador da Música Popular Brasileira, o Tinhorão. Nelson Antonio da Silva – Nelson Cavaquinho, que fazia verdadeiros malabarismos nas seis cordas do violão, foi mestre em destrinchar acordes simples e complexos, usando preferencialmente o polegar e o indicador e, segundo Paulinho da Viola, para seu grande espanto e admiração, terminando a música na segunda do tom. Permaneceu pobre e morando nas periferias do Rio de Janeiro, apesar da grande visibilidade que ganhou na década de 1970, ao ter inúmeras músicas gravadas por intérpretes de sucesso como: Paulinho da Viola (Duas Horas da Manhã), Chico Buarque (Cuidado com a outra), Clara Nunes (Minha festa), Beth Carvalho (Quero Alegria), além de Elizeth Cardoso, o saxofonista Paulo Moura e outros. Sempre teve presente na sua música e na suas conversas a idéia da dor, da solidão, da morte. Talvez devido ao seu estado de permanente embriaguês.
Lembro de um documentário realizado na década de 1960, sobre Nelson Cavaquinho, pelo cineasta Leon Leon Hirszman, em branco e preto, onde ele aparece em todas as cenas empunhando seus mais fervorosos companheiros: o violão e a bebida. Como disse, sua verve e sua imaginação colocavam por sobre o realismo exato da vida o lirismo e a mais terna poesia. Quem não se encanta com esta: “Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor” ? (A flor e o espinho).
E esta: “Quando eu passo perto das flores, quase elas dizem assim: vai, que amanhã enfeitaremos o seu fim (Eu e as flores). O nosso Patativa do Assaré tem uma poesia em que ele pede para que as homenagens a lhe serem rendidas sejam feitas em vida. Assim também o disse Nelson Cavaquinho, na música “Quando eu me chamar saudade”:
Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora
Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga
Para aliviar meus aís
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais.
Nelson Cavaquinho – será o nosso homenageado de amanhã no Programa COMPOSITORES DO BRASIL a partir das 14 horas, na Rádio Educadora, através da parceria Rádio Educadora/Centro Cultural Banco do Nordeste.
Vamos falar e tocar:
1. A flor e o espinho
2. Rugas
3. Folhas secas
4. Luz negra
5. Lágrimas sem jura
6. Eu e as flores
7. Palhaço
8. Quando eu me chamar saudade
9. Degraus da vida
10. Notícia
11. Juízo final
11. Cuidado com a outra
11. Pot-pourri, de Nelson Cavaquinho, com Noite Ilustrada
Quem ouvir, verá !
Fonte: Nova História da Música Brasileira, Editora Abril, 1974.
Fonte: Nova História da Música Brasileira, Editora Abril, 1974.
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