TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Programa Compositores do Brasil desta Quinta-feira enfocará obra de Lupicínio Rodrigues



Por Zé Nilton

A música de Lupicínio Rodrigues é autobiográfica. Tudo o que disse em versos e que se encaixava com rara perfeição na música que compunha, ele viveu em carne viva, sem metáforas. Nasceu para música ao abraçar a boêmia; ou o contrário ? Com isto se expôs e se assumiu como um homem fadado a padecer do sentimento da traição, das relações doidas, da culpa, da dor de cotovelo. Quando não retratava os seus padeceres, retratava os dos amigos, vividos sempre nas mesas de bar. Inclusive foi proprietário de muitas casas noturnas na capital gaúcha. Criou vários mundos e por eles circulou com mansidão, cantando versos duros sobre dissabores da vida a dois, os sentimentos e os ressentimentos de muitos, provocados por dilaceradas paixões e por amores não correspondidos.

Diz-se que Lupicínio era uma voz mansa e delicada entoando músicas de fúrias incontidas. A explicação para isto está na suposição de que ele era dois, sempre foi dois, anjo e demônio. Sem a menor culpa, diferençava a boêmia e a vida caseira. De um lado várias mulheres, do outro apenas uma. A questão era não misturar as éticas.

De um lado mulheres más, de preferência. As boazinhas nunca lhe deram dinheiro, só as que o traíram, costumava dizer, pois eram as que viravam música. O outro lado: "As esposas devem se sentir felizes quando os maridos voltam de suas noitadas, porque a volta é a maior prova de amor que um homem pode dar".

Diz-se também que muitas pessoas cometeram suicídio ao ouvir a música “Vingança”, o clássico samba-canção que tem por tema “traição, vingança e culpa”, de sua autoria, que encontrou em Linda Batista sua primeira grande intérprete, tendo gravado a composição em 29 de maio de 1951.

Lupicínio Rodrigues foi o mais lídimo representante do estílo dor de cotovelo. Foi sobretudo um boêmio profissional e, sem nenhuma máscara, mostrou para o mundo que a dor das suas letras, foi muitas vezes, a dor do compositor.

Na última grande entrevista que deu à imprensa, para O Pasquim, em 1973, perguntado sobre o que estava achando do panorama musical brasileiro, Lupicínio saiu-se com uma resposta que diz bem do seu ser: "Não tenho nada com o ambiente musical brasileiro. Não sou músico, não sou compositor, não sou cantor, não sou nada. Eu sou um boêmio".
Vamos falar e tocar no programa de hoje, COMPOSITORES DO BRASIL, algumas de suas músicas:

Felicidade (LR), com o conjunto Quarteto Quitandinha Serenades
Se acaso você chegasse (LR), com Noite Ilustrada
Vingança (LR), Linda Batista
Ela disse-me assim (LR), com Jamelão
Nervos de aço (LR), com Pulinho da Viola
Esses moços, pobres moços ((LR), com Chico Alves
Volta (LR), Fafa de Belém.
Castigo, LR e Alcides Gonçalves, com Lupicínio Rodrigues, gravação de 1953
Meu pecado, de LR e Felisberto Martins, com Moreira da Silva, gravação de 1944
Brasa, de LR e Felisberto Martins, com Orlando Silva, gravação de 1945
Cadeira Vazia, LR e Alcides Gonçalves, com Noite Ilustrada,.
Nunca, de LR , com Zizi Possi.

Quem ouvir, verá !

Informação:
Programa Compositores do Brasil
Sempre às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Apoio Cultural: CCBN

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