TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vibrações da realidade

No afã deste tempo que me recuso dizer contemporâneo
Os jovens estudam rapidamente e vencem o tempo (acham)
E possessos de um frenesi rasteiro, de um brincar na superfície do conhecimento
“Estudam”, e estudando hoje em dia se consegue se gente (de que tipo?)
Conseguem a passos largos com esforço desvencilhar-se de si,
Dos sonhos que pesam, e ao longo da marcha, ao partir do cais
Os sonhos vão sendo largados.
Não há espaço para sonhos na embarcação,
Há uma galeria de espaço imenso, que consome a via-láctea
Para pendurar os quadros falsos da realidade.
Os jovens do meu tempo, estão regidos por a ferrugem das mentes
Dos falsos profetas.
Numa orquestração de tolos marcham ao abismo,
De lá se jogam um a um, desperdiçando a única vida
Sob o comando da voz que brada e da batuta que corta o ar:
- Estudem paro o concurso, ou para o vestubular.
E na queda inútil, há dez segundos antes da morte,
Vem por assalto a poesia nos olhos: é um fim de tarde
Arde o sol, os pássaros, o cheiro do prado,
Faz graça o vento no rosto, na pele, nos cabelos...
Mas se esfacela no chão, na falência das mãos e pés quebrados,
No agonizante coração e nos ossos expostos do tornozelo.
O instante poético é raro, só na hora morte há de conhecê-lo.

Foto: Tang Hsueh Sheng

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