Publicado originalmente em meu blog pessoal, "História e seus afins..." (em 27/11/2009)
Para Antônio Gramsci, todos os seres humanos são "filósofos". Como militante da filosofia da práxis (marxismo), ele entendia que as pessoas tem sua concepção de mundo, ainda que não consciente, ainda que acrítica, e essa concepção é expressa na linguagem. O que difere em cada ser humano é como ele atua nesse mundo. Então, não somos "filósofos" no sentido estrito da palavra. E nem estou desmerecendo os profissionais da filosofia, professores que dão aula dessa disciplina. Apenas estou referenciando o uso da palavra "filósofo".
Os trabalhadores "braçais" também são filósofos!
Se todos somos "filósofos" porque algumas concepções são coerentes, integradas, críticas e levam à mobilização enquanto outras causam o "estranhamento", a submissão e a alienação?
Para Gramsci, a consciência dos humanos, abandonada à própria espontaneidade, sem ser crítica de si mesma, vive sob influências ideológicas diferentes, elementos díspares, que se acumularam através de estratificações sociais e culturais diversas. Ou seja, a consciência dos humanos é resultado das relações sociais, sendo ela mesmo, uma relação social.
"Filosofia é a concepção do mundo que representa a vida intelectual e moral (catarse de uma vida prática) de todo um grupo social, concebido em movimento e considerado, consequentemente, não apenas em seus interesses atuais e imediatos, mas também nos futuros e mediatos; ideologia é toda concepção particular dos grupos internos da classe, que se propõem ajudar a resolver problemas imediatos e restritos. Mas, para as grandes massas da população governada e dirigida, a filosofia ou religião do grupo dirigente e dos seus intelectuais, apresenta-se sempre como fanatismo e superstição, como motivo ideológico próprio de uma massa servil. E o grupo dirigente não se propõe por acaso, perpetuar esse estado de coisas?" ¹
E olha que Gramsci faleceu há bastante tempo e nem soube do fenômeno religioso do Padre Cícero e das romarias no interior do Nordeste brasileiro...
Para Gramsci, a consciência dos humanos, abandonada à própria espontaneidade, sem ser crítica de si mesma, vive sob influências ideológicas diferentes, elementos díspares, que se acumularam através de estratificações sociais e culturais diversas. Ou seja, a consciência dos humanos é resultado das relações sociais, sendo ela mesmo, uma relação social.
"Filosofia é a concepção do mundo que representa a vida intelectual e moral (catarse de uma vida prática) de todo um grupo social, concebido em movimento e considerado, consequentemente, não apenas em seus interesses atuais e imediatos, mas também nos futuros e mediatos; ideologia é toda concepção particular dos grupos internos da classe, que se propõem ajudar a resolver problemas imediatos e restritos. Mas, para as grandes massas da população governada e dirigida, a filosofia ou religião do grupo dirigente e dos seus intelectuais, apresenta-se sempre como fanatismo e superstição, como motivo ideológico próprio de uma massa servil. E o grupo dirigente não se propõe por acaso, perpetuar esse estado de coisas?" ¹
E olha que Gramsci faleceu há bastante tempo e nem soube do fenômeno religioso do Padre Cícero e das romarias no interior do Nordeste brasileiro...
Romeiros que visitam a estátua de Padre Cícero - Juazeiro do Norte -CE
Mas para Gramsci, apesar de haver um domínio das ideologias dominantes sobre as classes subalternas, isso não ocorre de forma mecânica e integral, apesar do exercício de hegemonia. Há resistência e há também uma reformulação dessa ideologia e filosofia. A verdade é que as necessidades efetivas, as reivindicações, inclusive as relativamente espontâneas, provocam um impulso para as lutas, reivindicações e movimentos. E quando as classes subalternas tem um comportamento que entra em contradição com a concepção de mundo na qual foram educadas, ou adestradas, a gritaria de quem domina é logo ouvida. Pedem logo a "paz" e a "segurança". A "paz" que geralmente pedem é a paz da hegemonia, do domínio de classe e a "segurança" quer dizer, "povo, ralé, fiquem no seu lugar!".
Também pudera. Se olhamos para o quadro de miséria que ainda existe no Brasil e pensarmos que os mais pobres estão condenados eternamente a esse mesmo quadro, cairíamos em um determinismo ou fatalismo chocante. Mas a filosofia da práxis não tem nada de fatalista ou determinista. Mesmo assim, a maior parte dos trabalhadores leva uma vida difícil, só um exemplo, o do transporte coletivo, dá bem a imagem que retrata essa situação. Nas grandes cidades, ônibus, vans, trens lotados. No "Brasil profundo", ainda transitam os "paus-de-arara", mas isso sempre para os trabalhadores, nunca para as classes dominantes, nunca para nossa "elite branca".
E Gramsci deixa-nos uma questão: Onde está a "filosofia real"? Para ele, a filosofia real do indivíduo e da coletividade deve ser buscada no agir. A filosofia de uma pessoa está na política dessa pessoa. Enquanto existir contradição entre a ação e a concepção de mundo que a guia, a ação não poderá ser consciente, será sempre fragmentada. Ou seja, ações extremadas, espamódicas, estagnação, rebeliões desesperadas. Depois, passividade, extremismo ou oportunismo. Desse entendimento, Gramsci como adepto da filosofia da práxis aponta que a a ação consciente exige ser guiada por uma concepção de mundo, por uma visão unitária e crítica dos processos sociais. Aos trabalhadores cabe formular essa concepção. Assim sugeriram Karl Marx e Friedrich Engels ao gritarem no Manifesto: "Proletários de todos os países, uni-vos". Ainda estamos bem longe disso, mas, as classes dominantes ainda dormem intranquilas, sonhando com sua "paz e segurança" que a cada dia ficam mais distantes.
¹ GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. 9ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p. 226-227.
Também pudera. Se olhamos para o quadro de miséria que ainda existe no Brasil e pensarmos que os mais pobres estão condenados eternamente a esse mesmo quadro, cairíamos em um determinismo ou fatalismo chocante. Mas a filosofia da práxis não tem nada de fatalista ou determinista. Mesmo assim, a maior parte dos trabalhadores leva uma vida difícil, só um exemplo, o do transporte coletivo, dá bem a imagem que retrata essa situação. Nas grandes cidades, ônibus, vans, trens lotados. No "Brasil profundo", ainda transitam os "paus-de-arara", mas isso sempre para os trabalhadores, nunca para as classes dominantes, nunca para nossa "elite branca".
E Gramsci deixa-nos uma questão: Onde está a "filosofia real"? Para ele, a filosofia real do indivíduo e da coletividade deve ser buscada no agir. A filosofia de uma pessoa está na política dessa pessoa. Enquanto existir contradição entre a ação e a concepção de mundo que a guia, a ação não poderá ser consciente, será sempre fragmentada. Ou seja, ações extremadas, espamódicas, estagnação, rebeliões desesperadas. Depois, passividade, extremismo ou oportunismo. Desse entendimento, Gramsci como adepto da filosofia da práxis aponta que a a ação consciente exige ser guiada por uma concepção de mundo, por uma visão unitária e crítica dos processos sociais. Aos trabalhadores cabe formular essa concepção. Assim sugeriram Karl Marx e Friedrich Engels ao gritarem no Manifesto: "Proletários de todos os países, uni-vos". Ainda estamos bem longe disso, mas, as classes dominantes ainda dormem intranquilas, sonhando com sua "paz e segurança" que a cada dia ficam mais distantes.
¹ GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. 9ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p. 226-227.
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