TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Patética Contrição

Apenas para confessar meus pecados
escrevo algo: uma pedra dentro do meu peito
e deixo lá no meio da sala um corpo estendido.

Se alma tenho ela partiu hoje
logo que subiram o portão de ferro.

O corpo estendido não diz nada, meu velho.
A pedra no peito há tempo virou cinza.

Tu mentes,
eu minto.

Não é um corpo que vejo
tampouco uma alma sumida.

São migalhas do tempo
que vem com a velhice -

e não importa se ela sopra
quarenta e quatro ventos.

Bebe então do meu vazio
e façamos uma manta de algodão.

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