Ultimamente vivo mordendo os lábios
a língua, gengivas
meus dentes andam loucos
desorientados
sem a mínima coordenação motora.
Tanto faz miolo de pão
bagaço de laranja
bolo
frango
carne moída.
Ao som das batidas do peito
meus dentes dançam
pulam
exasperam-se
arrancando raízes
sangrando pelas coroas
amálgamas, resinas.
Meus dentes,
umas figuras:
gigantes
anões
corcundas
dilacerados
altivos
afiados
todos debaixo
do céu vermelho da boca
à espera de um pescoço
um dedão bem feminino
o lóbulo de uma orelha com brinco
um par de coxas lambuzadas de creme.
Um comentário:
Comecei a escrever poemas em 2003, num período difícil da minha vida (como geralmente acontece).
Escrevi mais de 60 e estão todos dispostos em dois cadernos, os quais infelizmente perdi.
Belo texto, sugere muitas coisas.
Postar um comentário