TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 20 de dezembro de 2009

Dentes

Ultimamente vivo mordendo os lábios
a língua, gengivas

meus dentes andam loucos
desorientados
sem a mínima coordenação motora.

Tanto faz miolo de pão
bagaço de laranja
bolo
frango
carne moída.

Ao som das batidas do peito
meus dentes dançam

pulam
exasperam-se

arrancando raízes
sangrando pelas coroas
amálgamas, resinas.

Meus dentes,
umas figuras:

gigantes
anões
corcundas
dilacerados
altivos
afiados

todos debaixo
do céu vermelho da boca

à espera de um pescoço
um dedão bem feminino

o lóbulo de uma orelha com brinco
um par de coxas lambuzadas de creme.

Um comentário:

André disse...

Comecei a escrever poemas em 2003, num período difícil da minha vida (como geralmente acontece).
Escrevi mais de 60 e estão todos dispostos em dois cadernos, os quais infelizmente perdi.


Belo texto, sugere muitas coisas.