Tiro ao Álvaro
Todas as mensagens de fim de ano são ridículas. Não seriam mensagens de fim de ano se não fossem ridículas. Também escrevo em meu tempo e nos Campos dos Outros, mensagens de fim de ano ridículas. As previsões, as sugestões, os compromissos, as promessas, os perdões, são mais ridículos ainda pela insistente repetição. Somos mesmos náufragos das repetições. Náufragos empenhados, mas ridículos.
É por isso que escrevo aos ridículos náufragos do Crato, uma ridícula mensagem de fim de ano, dentro de uma frágil garrafa de vidro, que flutua sem nenhuma inocência, por sobre o nosso belo vale de lástimas. Moro na mesma ilha. Sou refém do mesmo coqueiro, e, como todos, mantenho uma relação ambígua com o monstruoso tubarão que rodeia nossa aldeia.
Vou passar o ano novo em um lugar qualquer, pois esse é um dia como outro qualquer. Mesmo sem comungar as mesmas crenças e descrenças que circulam em nossa patética ilha digital, postarei aqui minhas sinceras postulações de fim de ano, tão ridículas e tão canastronas como as de qualquer outro, que acredita pia e mente, que não é ridículo e que é politicamente correto com as postulações e a sinceridade.
Espero, como qualquer mensagem de um náufrago, que o tradicionalismo e a venalidade política tenham menos sucesso em tornar o Crato tão ridículo. E que aqueles que abrem a boca para exigir um amor inconteste à terrinha, percam todos os dentes e fiquem com as palavras frouxas dentro da boca, disputando com a língua trôpega a parcela maior do ridículo, entre o fato e vento.
O tempo passa, a história passa e o Crato fica. De forma solene a nave passa, o ônibus passa, o trem passa, a carruagem passa, e o Crato fica, fincado no tradicionalismo e na venalidade política. Sólido, para quem o ama cegamente. Evaporado, para quem o escuta em palavras soltas ao vento. Que esse próximo ano a realidade derrube a sua porta, com a força de um vendaval. Para que a província seja reconhecida e seja banida do meio da tribo, levando com ela todas as suas chagas tradicionais.
Se um dia o Crato perceber que o dia já vem raiando e a polícia já está de pé, por favor, publiquem nos blogs, mas sem nenhuma burocracia, sem nenhuma postulação científica, sem nenhuma espécie de egocentrismo, que fica na moita à espera de um comentário cretino de grande apreço e pouca durabilidade. Apenas façam uma postagem curta, dinâmica, fácil de ler. Se possível com imagens e áudio, que é para justificar a semiótica virtual.
Mas não esqueçam para ser estrategicamente postada no final do ano. Para que seja documental. Para que seja auspiciosa, sem sarcasmos alternativos. Para que o povo leia a mensagem após um grande ritual. Para que os notáveis sejam realmente dignos de nota. Para que os filhos da puta de plantão possam tomar seus devidos lugares na história recente dessa província. Para que ela, em fim, como uma grande mensagem, não perca a sua índole de ridícula.
Todas as mensagens de fim de ano são ridículas. Não seriam mensagens de fim de ano se não fossem ridículas. Também escrevo em meu tempo e nos Campos dos Outros, mensagens de fim de ano ridículas. As previsões, as sugestões, os compromissos, as promessas, os perdões, são mais ridículos ainda pela insistente repetição. Somos mesmos náufragos das repetições. Náufragos empenhados, mas ridículos.
É por isso que escrevo aos ridículos náufragos do Crato, uma ridícula mensagem de fim de ano, dentro de uma frágil garrafa de vidro, que flutua sem nenhuma inocência, por sobre o nosso belo vale de lástimas. Moro na mesma ilha. Sou refém do mesmo coqueiro, e, como todos, mantenho uma relação ambígua com o monstruoso tubarão que rodeia nossa aldeia.
Vou passar o ano novo em um lugar qualquer, pois esse é um dia como outro qualquer. Mesmo sem comungar as mesmas crenças e descrenças que circulam em nossa patética ilha digital, postarei aqui minhas sinceras postulações de fim de ano, tão ridículas e tão canastronas como as de qualquer outro, que acredita pia e mente, que não é ridículo e que é politicamente correto com as postulações e a sinceridade.
Espero, como qualquer mensagem de um náufrago, que o tradicionalismo e a venalidade política tenham menos sucesso em tornar o Crato tão ridículo. E que aqueles que abrem a boca para exigir um amor inconteste à terrinha, percam todos os dentes e fiquem com as palavras frouxas dentro da boca, disputando com a língua trôpega a parcela maior do ridículo, entre o fato e vento.
O tempo passa, a história passa e o Crato fica. De forma solene a nave passa, o ônibus passa, o trem passa, a carruagem passa, e o Crato fica, fincado no tradicionalismo e na venalidade política. Sólido, para quem o ama cegamente. Evaporado, para quem o escuta em palavras soltas ao vento. Que esse próximo ano a realidade derrube a sua porta, com a força de um vendaval. Para que a província seja reconhecida e seja banida do meio da tribo, levando com ela todas as suas chagas tradicionais.
Se um dia o Crato perceber que o dia já vem raiando e a polícia já está de pé, por favor, publiquem nos blogs, mas sem nenhuma burocracia, sem nenhuma postulação científica, sem nenhuma espécie de egocentrismo, que fica na moita à espera de um comentário cretino de grande apreço e pouca durabilidade. Apenas façam uma postagem curta, dinâmica, fácil de ler. Se possível com imagens e áudio, que é para justificar a semiótica virtual.
Mas não esqueçam para ser estrategicamente postada no final do ano. Para que seja documental. Para que seja auspiciosa, sem sarcasmos alternativos. Para que o povo leia a mensagem após um grande ritual. Para que os notáveis sejam realmente dignos de nota. Para que os filhos da puta de plantão possam tomar seus devidos lugares na história recente dessa província. Para que ela, em fim, como uma grande mensagem, não perca a sua índole de ridícula.
4 comentários:
Caro Marcos,
Sempre achei muito salutar tecermos críticas nobre nós mesmos enquanto sociedade historicamente situada física e culturalmente.
É desta perspectiva que observo o um traço de nossa maneira de ser e de fazer: o quanto somos pequenos. Parece que a construção social engendrada por todas as gerações desde a (des)ocupação de nossa terra, trás no seu espírito uma herança ou uma síndrome da pequenez.
Somos um território vasto, mas vivemos nos reproduzindo em quadriláteros cada vez menor. Temos um patrimônio ambiental de fazer inveja ao mundo, mas nos contentamos com lazerezinhos em viciados clubes de pé de serra. Temos muito,e muito mas temos um espírito apequenado como se vivêssemos sob a imagem do bem limitado, gerada em nossas consciências desde que se deu início ao parcelamento das nossas terras.
Por aqui tudo é feito e satisfeito com muito pouco.
Teria muito a falar sobre nossa cultura da limitação. Mas isto tem um explicação sociológica, e é com muita paciência que, faz muito tempo, procuro entender porque somos assim.
Gosto quando você escreve como fez agora. O que você diz é muito importante para fazer a gente pensar. Sem pequenez.
Abraços, e 2010 será para você o que você quiser fazer dele. Tenho certeza que você vai lutar para que ele seja melhor, para você e para todos nós.
Zé Nilton
Grande Zé Nilton,
grande comentário, não seria menos, vindo da sua habilidosa visão de ver e perceber a realidade.
Precisamos muito fazer alguma coisa pela nossa terra, enquanto ainda é dos outros, pois depois disso ela será de ninguém.
abraços
Abraço ao Marcos e parabéns pelo texto. Vivemos numa onda nostálgica danada que tem se tornado quase insuportável.Olhamos para trás diuturnamente como se não existisse estrada á frente. Pegamos a falar das décadas de 50-60-70 como se o mundo tivesse estacionado ali, como se todos tivessem sido empalhados naquele exato momento. Não existe qualquer perspectiva para o Crato se o presente e o futuro se restringirem a nosso passado. Estamos todos vivos e ativos , amigos, precisamos apenas acordar e perceber que o mundo girou, o calendário já marca o ano de 2010.o parnasianismo já se foi, o romantismo ficou restrito aos livros, a música já não é seresta, a pintura já não é impressionista...Estamos vivos e precisamos celebrar a vida com tintas de Século XXI!
Valeu José Flávio, grande abraço.
Na realidade é isso que sinto mesmo, em se tratando do Crato especialmente.
Outro dia, pouco antes do Natal, estava em uma roda de amigos e o papo enveredou para as "perdas" do Crato para o Juazeiro. Falaram que até o campus de agronomia da UFC pode ir para o Juazeiro. Isso é sintomático, mas desesperador é testemunhar a volta do papo na roda de amigos, para a "cultura" cratense no tempo dos festivais, sendo que grande parte concordou que o projeto de festival do governo atual é muito bom.Dá pra levar à sério?!?
Só aí é que você entende qual a verdadeira razão para o Crato está se encolhendo.
Grande abraço, José Flávio
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