Amei a Poesia
desvairado
desde o comecinho
quando o caldo
ainda era fino
insosso
só água.
Não troquei a alma por moedas
nem por honradez.
Muitas vezes
trancafiado no quarto
dentro do guarda-roupa
subi ao cadafalso
armei a corda
mas sempre uma bala perdida
esbagaçava meus miolos.
Morto era mais forte
meu abraço de urso
minha mordida
meus uivos.
Agora sem muletas
sem envergadura de asas
reina o milagroso silêncio:
a ferida aberta
o mertiolate que não arde mais
a compressa de gaze
que continua a arrancar a pele.
Amei a Poesia
iluminado
os olhos de fogo
a boca cheia de sapinhos
enquanto o mundo zombava
dos meus ovinhos murchos
das minhas lágrimas transparentes
muitas vezes
mergulhado no odre de vinho
perdia o fio da meada
deixava o balão atravessar a montanha
mas sempre uma bala perdida
estourava meus pulmões
e sem oxigênio
sufocado com o próprio vômito
pensava nos mitos
que viraram cinzas
outros criaram raízes.
Agora sem máscaras
as faces apáticas
o que sei é que as janelas
nunca se fecham
confundem-se as nuvens
dentro do lar
na varanda
no banheiro
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário