TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Humilde Espantalho

Talvez o tempo dure
mais de vinte e um dias

para que o meu sangue limpe
e eu consiga andar sozinho.

Não se preocupe com minha alma.
Esqueça aquela onda:

"cadê minha cervejinha,
cadê meu baseado?"

A única prerrogativa
é a verdade

que vejo tremer
nos seus cílios.

Sei que não tem volta segura
como também sei que o meu lar
é sempre adiante.

Pois alcançado
o estágio

em que a loucura
é um lindo berçário

de boas lembranças
e algum silêncio.

Talvez a eternidade
adormeça nos meus versos.

A alma fora do corpo
dentro do espantalho

em cujos ombros
há tempo não pousam
os corvos

distantes,
apenas observam

a brisa da noite
fechar meus olhos

e a minha boca
entreaberta
suspirar o indizível.

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