TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O enquadramento

Por três dias seguidos
a cabeça de Alomar está exposta
naquela estaca indefesa para
a maldição dos segredos
a retórica retorcida das moscas
incomoda menos do que
aqueles olhos abertos por três dias

Não as intumescidas eternidades
não os apanágios sobre a dor
nem as ataduras turvas da história
ou até mesmo o silêncio tênue
que envolve a música do universo
o que mais importa agora é o
que aqueles olhos viram por último

Por três dias seguidos
olho para o rio e suas águas lentas
espero pacientemente pelo pintor
que vai aprisionar a multiplicação
dos punhais e dos alvos varais
por três dias seguidos minha
covardia escorre naquela estaca

4 comentários:

Domingos Barroso disse...

Há poemas que tragamos no instante. Há outros que se engasgam no silêncio. Este silêncio revelador que não se deslumbra em si mesmo.

Tornemos ao início,
sejamos a "estaca indefesa".


Marcos Vinicius Leonel,
um forte abraço.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu, poeta,
seu comentário dispensa comentários.

abraços

Lupeu Lacerda disse...

é como uma litania
um velho, sujo, com uma velha espingarda, abre a porta e recita.
muito bom lobisomem.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu, The Lupas,

no front, sempre, sem dar a menor trégua.