Difícil imaginar o que passou pela cabeça dos personagens e espectadores daquela cena , nos fugazes instantes que esta durou. Certamente os seguranças ,vendo se aproximar do empresário o rapaz do bouquet ,devem ter entendido, imediatamente, que aquele quadro era surrrealista nos dias de hoje, ninguém oferece rosas a ninguém, numa selva de concreto e cimento, e dispararam sem que precisassem de maiores conclusões. O filho do empresário deve ter concluído ter chegado o dia do acerto de contas, aquele em que o preço da desigualdade social brasileira é cobrado a chumbo e lágrimas. O pretenso assaltante ao ser atingido pelos disparos, deve ter se surpreendido mais que a sua vítima, incapacitado de entender como um plano, aparentemente tão bem arquitetado ,pôde ser tão rapidamente destruído. E os transeuntes , num misto de surpresa-medo-assombro, caíram tocados e aflitos na dura violência quotidiana, em meio ao sangue e às rosas.
Impossível alguém oferecer flores nos nossos dias, sem que por entre as pétalas e os botões se escondam a pólvora e o chumbo. Os poucos poetas que ainda tentem se arriscar nesta perigosa tarefa, hão de receber os tiros e disparos dos guardiões da sociedade, aqueles que preestabeleceram, no mundo, o reinado do medo e da infelicidade. Aquela cena é um brasão dos tempos modernos: Rosas fenecendo, embebidas em sangue ,medo e espanto, no negro asfalto da nossa crua realidade...
J. Flávio Vieira
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