Li no Cariricaturas um post sobre mudanças na linguagem que utilizamos no nosso dia-a-dia. Alguns exemplos são bem interessantes e acabam dando indício da idade dos que os usam. Por exemplo, chamar condicionador de creme rinse acaba sempre provocando boas risadas nos mais jovens como se o falante tivesse cometido um erro de grande dimensão. Por a lista ter sido feita em outro lugar (talvez copiada da Internet) alguns exemplos fogem ao que presumo se use no Cariri e no Nordeste de maneira geral. Apesar de Carlos Rafael ter contribuido com alguns exemplos senti falta do nosso caririense ri-ri (a pronúncia é rrirrí) que é como chamávamos o zíper que, por algum tempo, já foi chamado de fecho-éclair. Só descobri a origem dessa expressão recentemente quando participei de um banca de mestrado sobre moda.Quando fiz referência ao antigo uso de ri-ri na minha cidade uma professora da área de moda me disse que esse era o nome da marca dos primeiros zípers que chegaram no Brasil. Tenho uma preocupação obsessiva em atualizar meu vocabulário( dou aula para jornalistas) mas por um certo atavismo, talvez, gosto de manter a forma arcaica "quede" que antecedeu o uso de "quedê" e que por sua vez precedeu o atual "cadê". O uso de tal expressão é um forte indicador da origem interiorana do falante. Embora, como alguém já comentou pejorativamente, tenha pretensões cosmopolitas lá no fundo mantenho um laço com a minha infância pequizeira. Como diz o refrão de uma antiga música do Genesis "you got to get in to get out". É importante conhecer as raízes para escolhermos que tradições devemos manter e quais transformaçãoes são benvindas.
P.S. No post do Cariricaturas Carlos Rafael informa erroneamente que a palavra coquetel foi substituída pela expressão "coffee break". Na verdade a expressão coquetel ainda é usual e coffee break é o intervalo para o lanche (ou café) que se faz em congressos, reuniões etc.
17 comentários:
Bom lembrar que o "quede" vem do anterior "que é de..."
Exato, Claude. Sem o que é de a linha sucessória fica meio sem sentido.
Por essa razão, sua preferência pelo "quede" procede, pois que na expressão "que é de" o "de"(preposição) é átono. Pode ter havido,no processo histórico da nossa língua, a influência da diversidade linguística utilizada em alguns Estados do sul que pronunciam "de" como "dê" como em "de repente", por exemplo.
Desculpe, me empolguei... Sei se que você sabe disso!
Não sabia dessa hipótese que é bem plausível. A nossoa pronúncia,apesar de muito mais lentamente do que se imaginava, recebe influências do sudeste/sul sem a mínima reflexão sobre o fenômeno. Sempre fico espantado quando aqui em Salvador pronunciam Extra (éxtra) como êxtra talvez por causa dos comerciais da rede de supermercado na tv. Mas fico irritado quando algumas pessoas (inclusive alunos da graduação) falam Bôssa Nova. Tenho que ter paciência explicando o que significa a palavra Bossa ("bóssa"). Esse é um assunto que também me empolga muito.
Maurício,
Muito oportuno o seu artigo sobre os termos que caíram em desuso e foram substituídos por novos vocábulos. Achei interessante sua proposta de se contemplar expressões típicas do Cariri Cearense. Vou ver se garimpo algumas para postar por aqui.
Oi, Carlos Rafael
Acho importante as mudanças específicas da linguagem local porque apesar de tudo (globalização etc.) ainda mantemos algum traço regional.
Em comentário anterior não deixei muito claro que no nordeste sempre pronunciamos êxtra ao invés do éxtra que era pronunicado em São paulo. Da forma que escrevi parecia o oposto.
Estes acentos locais são muito interessantes e, no fundo, corroboram o dinamismo da língua. Claro que existe sempre o preconceito que termina por ser geográfico. Até há alguns anos, no Aurélio as palavras nordestinas eram tipificadas como ( Regionalismo) , o mesmo não acontecia com os termos do SUL-SUDESTE. A Globo tem como oficial o Português e acento cariocas. Em Concursos de Atores vi muitas vezes reclamarem dos nordestinos criticando como tendo um sotaque muito forte. Mesmo com a massificação dos meios de comunicação, das FM´s, felizmente, permanecem as línguas locais e isso enriquece sobremaneira a Língua Portuguesa. Maurício, mesmo distante, não consegue ( nem quer) modificar muito da sua língua tribal, embora , com o tempo, o dinamismo, possa ir modifcando um pouco as coisas. Percebo, também, que a língua nos tipifica não só geograficamente, mas cronologicamente. Uma Tia minha já dizia que se alguém disser, por exemplo: "A Festa foi Supimpa!" , tem mais de 70 Anos. Se chamar Baile de "Tertúlia" tem mais de 50. As expressões, também, vão se tornando obsoletas: "Caiu a Ficha", por exemplo, nesses dias será totalmente incomprensível( os telefones de há muito são a cartão). Alguém da nova geração entenderia expressões como : "Vi Urso de Gola!" ; "Mais lascado que pauzinho de rolete"; "Quem não pode com o pote , não pega na rodilha!"; "Mais furado que tábua de pirulito" ? Tempo, tempo, tempo...
Zé Flávio
Por ter morado em muitos lugares meu sotaque é um "picadinho" com influências diversas. Como também dou aula de rádio com o tempo atenuei bastante algumas marcas mais características da minha forma de falar. No geral acho qualquer sotaque muito forte um pouco irritante (principalmente o carioca). No teatro acho que se pretendemos fazer papéis diversos é importante a neutralização do sotaque para que ele não se torne um ruído na comunicação. Sei que o sotaque nordestino é fortemente discriminado no sudeste (morei em SP, Rio e Vitória).De qualquer forma é interessante cuidarmos da emissão da nossa voz. A participante do BBB de Juázeiro da Bahia da Bahia tem uma voz de gralha bem irritante e é um pouco dengosa demais na maneira de falar. Assim como acho irritante um BBB do interior do Paraná com seus erres retroflexivos (pra dentro). Um conselho que dou pro meus allunos é que não precisamos perder o sotaque de origem mas se queremos falar pra pessoas de diversas localidades é importante que o atenuemos para que ele seja percebido como um charme a mais. A fala é um campo multipolar de sentidos. Ela denuncia nossa idade, formação escolar, clase social entre outras coisas. Não temos que discriminar ninguém pela forma de falar mas podemos trabalhar a voz como um intrumento e fazê-la soar melhor.
Acredito que vc está certo no que tange ao teatro, aí, claro, dependendo do papel que se representa. Todos os sotaques no fundo são um pouco irritantes para o ouvido do outro. Não dá para um ator carioca manter seu sotaque num papel por exemplo de um cangaceiro e nem o nordestino no de um malandro de morro do Rio.O macaqueamento, na TV, fica terrível, geralmente carregam num sotaque mais baiano e forçado, os do sul-sudeste quando fazem papel de nordestino e a coisa fica caricata. Claro que no Rádio e na TV buscar um sotaque mais universal me parece interessante e não data muito a transmissão.
Abraço,
E o short, sunga, cueca, zorba, calção, samba-cançao, ceroula? Ou combinação? anágua? Ou califom, corpete, sutiã? E gigolete? Ou bobes? São palavras bacanas também e que denunciam uma geração.
Lulu
omo existe o dicionário de baianês, cearensês o Caricult poderia fazer o de Caririês> mas devagar com o andor que o santo é de barro. na lista que você arrolou (com "a" porque chamávamos pinto de rôla ou de pinta) que ainda são usadas (o primeiro sutiã ninguém esquece0. Sugiro que se faça uma comissão de "notáveis" para que a relação seja bem apurada. Por falar nisso, como é que no Crato se chama quando o cara veste a calça ou a bermuda sem cueca, deixando a rôla solta? Aqui na Bahia se fala "na chapa".
Poderíamos fazer um dicionário com partes diferentes. 1. Nomes cratenses pra algumas coisas. 2. palavras que denunciam sua geração "falou bicho", "jóia" , "baCAna à bessa" etc.
Maurício aqui:
Sem cueca - "No osso..."
Sem sutiã: "De guidon solto"
Pelo menos era assim...
maurício,não sei se ainda chamam assim lá no crato:nós chamávamos cadarço(de sapato)de ENFIA.acho que só a gente da região chamava assim.
ÉW isso mesmo, João. Não vi Enfia em lugar nenhum. A gente sempre esquece uma palavra.
Que e feito de, que e de, quede, cade. Esta e a historia toda.
Desculpe a falta de acento.
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