Recolha-se, poeta.
Volte a minutos atrás.
Lembre-se da cria
órfão de mãe
cego
caiu do telhado
feito manga madura.
Uma queda triste.
Calaram-se os gemidos.
Perguntei qual o destino
da gata tão fecunda.
Disseram-me sorrindo:
"deram um sumiço na bicha."
Cruéis, impiedosos.
Não pensaram nos gatinhos.
Presos ao cordão umbilical todos.
Uma alma caridosa,
o mais cínico,
agachado fazia carinho
e a conta-gotas dava leite
aos tenros sobreviventes.
Tanta candura é felicidade
ao homem outrora monstro.
Somente ele,
o Corcunda,
o Diabo de Fausto,
amamentava os filhotes:
agradecidos,
não largavam
dos seus dedos.
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