Peço-te perdão,
Amor, ente generoso
que me tens oferecido
sonhos, quimeras
desleixos da alma.
Peço-te misericórdia
por tantas mentiras
embustes, incoerências
faltas e crueldade
lançadas por meus dedos
ao veludo dos versos
desde o princípio e sempre.
Que me tenhas compaixão
dadas as desventuras, os infortúnios
o sangue das lágrimas com requinte do sal.
Somente a mim
toda a penúria humana
toda a desgraça e artimanhas
de quem, se solitário, enlouquece
por outra alma e outro corpo
mas, se acompanhado, planeja
eternidade na própria ausência.
Perdão e súplicas
por minha languidez
por minhas dores ocultas
por meus enlaces no mergulho
ao abismo de quem nunca merece
a quem não passa de sonho
ingenuidade, armadilha, visgo.
Cá está um poeta tonto de lucidez
a curvar-se diante da tua guilhotina.
Cá está teu poeta, dissimulado, cínico, estúpido
não tremem os calcanhares mas com frio na barriga.
Sangra-me de vez este coração tão cúmplice
da mente quanto medonho e irmão dos pensamentos.
Amor, ente imaginário
não me poupes da tua justiça
por minhas sandices,
loucuras e pestes
ofereço-te meu último dia
amplo, confortável, insignificante.
Então que o alpiste envenenado
faça espumar dos bicos
das fantasiosas andorinhas
toda inútil angústia
pantomima da aurora
e do crepúsculo.
Eis-me, teu poeta insano
senhor de tantas mulheres
cujos cílios nunca beijados
cujos espíritos nunca amados
menti, menti tanto, decerto
com intragável volúpia
desde o primeiro frêmito nos testículos
até o calor e cãibra nos ombros agora.
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