Se aquele carro
estivesse veloz
quebraria meus joelhos
esmagaria minhas pernas
faria do poeta mingau.
Na faixa de pedestre
os cáusticos pneus
do infame corolla
cuspiram às minha botas
toda a arrogância do miserável
a julgar-se rei dentro do último modelo:
uma carruagem de alumínio.
Encostei meus braços escravo romano
na luxuosa lataria
lancei meu olhar entidade egípcia
a faiscar o fumê do para-brisa
esbravejei, enfim, com a voz de hindu:
"meu amigo, olha o sinal..."
Até minha ira é ingênua.
Patética.
Se tal ofensa tivesse ocorrido
com os comparsas da infantaria:
teriam chutado a porta
quebrado o retrovisor
atirado contra as luzes traseiras
puxado pelo pescoço o maluco
pisado a garganta
furado os olhos.
Mas poeta pacífico que sou
apenas desejei do fundo da alma
morte súbita ao vaidoso cavalheiro.
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