Este texto será o terceiro e último com os quais tentei abordar as questões que envolveram profundamente a crise do socialismo, como um estágio antecipado do ainda “inacabado” das possibilidades do capitalismo. Tive dois leitores que se manifestaram. O professor Zé Nilton que bem tocou na questão do evolucionismo marxista, como uma lei determinística que levaria, necessariamente, ao socialismo (no blog cariri agora). A isso chamou utopia e o com qual, em tese, não discordo . O outro comentário foi do Germano Batista, que embora acusando que o primeiro texto não dizia “coisa com coisa”, compreendeu muito bem que o caminho para uma discussão possível do porvir socialista estaria nos limites do capitalismo como forma básica de instituir uma civilização e de organizar sua vida material.
De cara, me coloco na posição de todo aquele que tenta sintetizar questões complexas. Qual seja compor com enormes lacunas o que de fato ocorreu em três séculos do pensamento humano; tentar segurar uma linha sintética e por último procurar ser claro. Por isso peço desculpas, pois sei das dificuldades e reconheço meus limites na tarefa. Mas ousar é poder e vamos adiante.
Não se pode pensar no socialismo, no estágio atual da história, sem conhecer as bases e a dinâmica evolutiva do capitalismo. Por isso é muito apropriado o conhecimento de Economia Política e, especialmente, acompanhar a sua extensa literatura. A matriz do pensamento marxista, que escolhi como a idéia fundamental de socialismo, desde o segundo texto, é “O Capital”. A partir deste texto e toda a literatura que o analisa, criou-se o que se denominou de “instrumento científico” para avaliar a evolução capitalista, inclusive subsidiado pela questão central do Iluminismo (entre os quais Rousseau) que é a própria racionalidade.
Como imaginar o futuro do pensamento socialista, no estágio atual do capitalismo globalizado, quando ocorreu uma das maiores revoluções desde os tempos da revolução agrícola? Qual seja a urbanização da maior parte da humanidade. Vivendo em concentrações complexas, consumidoras de enormes quantidades de energia e matéria prima, promotora de volumes nunca vistos de novos materiais, rejeitados do processo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços que se denomina corriqueiramente como lixo.
Mais ainda, mesmo que se defronte com uma enorme crise no capitalismo central, nunca se viu tão acelerada a inclusão de camadas enormes de consumidores de bens e serviços deste sistema de produção como agora. Na Ásia se tem o maior exemplo disto, já ocorrera no Japão, depois na Coréia do Sul, a China, Tailândia, Malásia e a Índia. Não diferente ocorre no Vietnã que toda a minha geração tem como referência de uma luta revolucionária anti-capitalista. Todos, sem exceção, criando classes médias, novos ricos, mas, principalmente, engrossando o oceano que banha todas as costas da humanidade com produtos e mercadorias num mercado mundial multiforme e muito diferente de tudo que se conhecia.
Aliás, o segundo mercado mundial em termos de população e avidez por consumo se encontra na África. Os Chineses sabem disto e hoje despertam, em termos de consumo nas ruas das capitais africanas, muito mais do que os antigos países ocidentais foram capazes. Na África se abre uma segunda fronteira dinâmica de urbanização, consumo de produtos industrializados e de serviços dependentes de tecnologia de base científica.
Onde isso vai dar? Numa escala de concorrência por recursos primários e por colocação de produtos transformados. Aí temos, na primeira face, a dos recursos primários, as questões ambientais, a fragilidade do uso das energias não renováveis e por último a atitude humana de manter-se em plena capacidade criativa e inovadora. Um parêntese: mais do que nunca a humanidade depende de si mesma para se inovar e renovar no processo histórico em que vive. O novo é quase sinônimo de sobrevivência da espécie e de decadências de civilizações.
Na face da colocação de produtos transformados, o problema continua numa ampliação terrível. Não vou citar estatísticas, mas apenas realçar que existem questões centrais na estrutura do capitalismo que implicam em grandes problemas: a propriedade certamente é uma delas. A outra, decorre desta, que é a distribuição da riqueza através deste gargalo composto por acúmulo e apropriação, que em outros termos, significa poder de uma minoria decidir pela maioria. A evidência deste mecanismo é, por demais, conhecida: a produção de alimentos num ano dá para alimentar quase uma população e meia, e, no entanto, milhões morrem de fome.
A questão, por exemplo, da inovação. Tudo aquilo que significou revolução na humanidade, ocorreu com o aumento do conhecimento científico e a aplicação das leis naturais e da organização social ao progresso material das pessoas. Mas aí, este ímpeto criador, se vê cerceado pela patente, que produz milhões de efeitos ao contrário da inovação. Um exemplo clássico é o do inventor Edison quando dominou o processo de geração, distribuição e iluminação pública com a energia elétrica, tendo que enfrentar os velhos monopolistas da iluminação a gás. Isso ocorre como um verdadeiro horror na medicina científica, quando uma simples pílula, por exemplo, de hipoglicemiante, pode ser a diferença entre a vida e a morte de uma pessoa.
Agora tentando responder à pergunta que me fiz: o socialismo estará no futuro? Não necessariamente uma proposição acabada com base nos termos atuais. Mas certamente uma sociedade diferente daquele velho capitalismo centrado no pensamento ocidental com suas instituições e métodos de produção, distribuição e consumo. Ouso um pouco mais: a questão ambiental ainda ressurgirá como forma de ajuste nos três componentes citados da geração de riquezas. E ressurgirá como uma igualdade de ajuste, mais equânime e muito mais discutida por maiorias. Outro componente central é uma tese otimista.
Neste tipo de sociedade urbana que é industrial (transformadora) e que joga, essencialmente, com energia e massa, talvez o horizonte esteja em experimentos complexos como o do CERN na Suíça, quando o centro do pensamento se encontrará na natureza de partícula da matéria e em processos de altas energias. Se algo se inovar por aí, o que se terá é uma sociedade muito mais transformadora, com necessidades mais racionais de geração, distribuição e consumo. Neste ponto, teríamos, quem sabe, chegado a algo assemelhado ao que os pensadores dos séculos XVIII e XIX chamaram de socialismo.
Por fim, o texto foi longo. Tinha que acabar agora para não perder a meia dúzia de leitores que ainda tinha. Mas como promessa é dívida, acho que, pelo menos no possível a mim mesmo, disse ao Dihelson Mendonça que faria.
De cara, me coloco na posição de todo aquele que tenta sintetizar questões complexas. Qual seja compor com enormes lacunas o que de fato ocorreu em três séculos do pensamento humano; tentar segurar uma linha sintética e por último procurar ser claro. Por isso peço desculpas, pois sei das dificuldades e reconheço meus limites na tarefa. Mas ousar é poder e vamos adiante.
Não se pode pensar no socialismo, no estágio atual da história, sem conhecer as bases e a dinâmica evolutiva do capitalismo. Por isso é muito apropriado o conhecimento de Economia Política e, especialmente, acompanhar a sua extensa literatura. A matriz do pensamento marxista, que escolhi como a idéia fundamental de socialismo, desde o segundo texto, é “O Capital”. A partir deste texto e toda a literatura que o analisa, criou-se o que se denominou de “instrumento científico” para avaliar a evolução capitalista, inclusive subsidiado pela questão central do Iluminismo (entre os quais Rousseau) que é a própria racionalidade.
Como imaginar o futuro do pensamento socialista, no estágio atual do capitalismo globalizado, quando ocorreu uma das maiores revoluções desde os tempos da revolução agrícola? Qual seja a urbanização da maior parte da humanidade. Vivendo em concentrações complexas, consumidoras de enormes quantidades de energia e matéria prima, promotora de volumes nunca vistos de novos materiais, rejeitados do processo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços que se denomina corriqueiramente como lixo.
Mais ainda, mesmo que se defronte com uma enorme crise no capitalismo central, nunca se viu tão acelerada a inclusão de camadas enormes de consumidores de bens e serviços deste sistema de produção como agora. Na Ásia se tem o maior exemplo disto, já ocorrera no Japão, depois na Coréia do Sul, a China, Tailândia, Malásia e a Índia. Não diferente ocorre no Vietnã que toda a minha geração tem como referência de uma luta revolucionária anti-capitalista. Todos, sem exceção, criando classes médias, novos ricos, mas, principalmente, engrossando o oceano que banha todas as costas da humanidade com produtos e mercadorias num mercado mundial multiforme e muito diferente de tudo que se conhecia.
Aliás, o segundo mercado mundial em termos de população e avidez por consumo se encontra na África. Os Chineses sabem disto e hoje despertam, em termos de consumo nas ruas das capitais africanas, muito mais do que os antigos países ocidentais foram capazes. Na África se abre uma segunda fronteira dinâmica de urbanização, consumo de produtos industrializados e de serviços dependentes de tecnologia de base científica.
Onde isso vai dar? Numa escala de concorrência por recursos primários e por colocação de produtos transformados. Aí temos, na primeira face, a dos recursos primários, as questões ambientais, a fragilidade do uso das energias não renováveis e por último a atitude humana de manter-se em plena capacidade criativa e inovadora. Um parêntese: mais do que nunca a humanidade depende de si mesma para se inovar e renovar no processo histórico em que vive. O novo é quase sinônimo de sobrevivência da espécie e de decadências de civilizações.
Na face da colocação de produtos transformados, o problema continua numa ampliação terrível. Não vou citar estatísticas, mas apenas realçar que existem questões centrais na estrutura do capitalismo que implicam em grandes problemas: a propriedade certamente é uma delas. A outra, decorre desta, que é a distribuição da riqueza através deste gargalo composto por acúmulo e apropriação, que em outros termos, significa poder de uma minoria decidir pela maioria. A evidência deste mecanismo é, por demais, conhecida: a produção de alimentos num ano dá para alimentar quase uma população e meia, e, no entanto, milhões morrem de fome.
A questão, por exemplo, da inovação. Tudo aquilo que significou revolução na humanidade, ocorreu com o aumento do conhecimento científico e a aplicação das leis naturais e da organização social ao progresso material das pessoas. Mas aí, este ímpeto criador, se vê cerceado pela patente, que produz milhões de efeitos ao contrário da inovação. Um exemplo clássico é o do inventor Edison quando dominou o processo de geração, distribuição e iluminação pública com a energia elétrica, tendo que enfrentar os velhos monopolistas da iluminação a gás. Isso ocorre como um verdadeiro horror na medicina científica, quando uma simples pílula, por exemplo, de hipoglicemiante, pode ser a diferença entre a vida e a morte de uma pessoa.
Agora tentando responder à pergunta que me fiz: o socialismo estará no futuro? Não necessariamente uma proposição acabada com base nos termos atuais. Mas certamente uma sociedade diferente daquele velho capitalismo centrado no pensamento ocidental com suas instituições e métodos de produção, distribuição e consumo. Ouso um pouco mais: a questão ambiental ainda ressurgirá como forma de ajuste nos três componentes citados da geração de riquezas. E ressurgirá como uma igualdade de ajuste, mais equânime e muito mais discutida por maiorias. Outro componente central é uma tese otimista.
Neste tipo de sociedade urbana que é industrial (transformadora) e que joga, essencialmente, com energia e massa, talvez o horizonte esteja em experimentos complexos como o do CERN na Suíça, quando o centro do pensamento se encontrará na natureza de partícula da matéria e em processos de altas energias. Se algo se inovar por aí, o que se terá é uma sociedade muito mais transformadora, com necessidades mais racionais de geração, distribuição e consumo. Neste ponto, teríamos, quem sabe, chegado a algo assemelhado ao que os pensadores dos séculos XVIII e XIX chamaram de socialismo.
Por fim, o texto foi longo. Tinha que acabar agora para não perder a meia dúzia de leitores que ainda tinha. Mas como promessa é dívida, acho que, pelo menos no possível a mim mesmo, disse ao Dihelson Mendonça que faria.
Um comentário:
A superação da ordem social do capital passa necessariamente na alteração das relações sociais de produção, obstáculo que parece intrasnponível nas condições atuais. A superação das "mediações" no processo conhecido como "trabalho" é a superação da alienação no mesmo. Porém, a decisão passa pela política, sendo portanto subjetiva.
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