
Semana passada , no entanto, D. Guida notou uma mudança radical no comportamento de Argemiro. Depois de assistir ao Jornal na televisão, ficou meditativo como o pensador de Rodin. No dia seguinte desapareceu e não mais voltou para casa. A esposa valeu-se dos amigos e, antes de procurar a polícia, foi informada que o marido estava vivo, enfurnado na zona do Baixo Meretrício da cidade há mais de uma semana. Segundo seus companheiros mais chegados, vivia há mais de uma semana na esbórnia, com as meninas da “Boite de Maria Alice”. D. Guida imaginou que o marido tinha endoidado de vez, pois não tinha mais tesão nem saúde para tanto. Ele é uma laranja chupada, pensou a esposa, como é que as raparigas ainda estão conseguindo lhe arrancar algum sumo ? A esposa aumentou a preocupação quando recebeu a conta semanal da farmácia e notou um aumento considerável no valor da nota. Corrigindo os itens, cuidadosamentre, descobriu a razão : num só dia Argemiro comprara vinte e cinco comprimidos de Viagra. D. Guida , então, temeu definitivamente pela vida do marido turbinado : vai cair durinho – literalmente- numa overdose!
Na noite do décimo dia, um Argemiro de sorriso arregaçado retornou ao Lar, já não tão doce. D. Guida emaranhava-se num misto de raiva, ciúme e despreocupação. Partiu para cima do marido, como uma fera: safado, sem-vergonha, nojento, por que não ficou de uma vez com suas rapagigas da Boite de Maria Alice , seu farrista ? Argemiro, sem perder a pose, saltou de lá:
--- O quê ? Me respeite, mulher ! Você não ouviu as orientações do Ministro da Saúde na televisão? Sexo é o melhor remédio, minha filha! Como sua botica já faliu há muito tempo, eu procurei uma Clínica especializada em hipertensão: a da Dra. Maria Alice! Tava fazendo um tratamento intensivo!
A laranja chupada havia se transformado num fruto temporão.
J. Flávio Vieira
Nenhum comentário:
Postar um comentário