TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 18 de julho de 2010

Aquiles e a Tartaruga - José do Vale Pinheiro Feitosa

Na madrugada insone assisti a um filme com o título em português de “Aquiles e a tartaruga”. O título se refere ao Paradoxo de Zenão em que Aquiles aposta uma corrida de cem metros com uma tartaruga e esta percebendo que o oponente é 10 vezes mais veloz, já começa a corrida nos 80 metros. Ao invés de medirmos as diferenças de velocidades entre os dois pelo padrão de cada um, invertemos a medida e determinamos a corrida de Aquiles pelo padrão da tartaruga que é 10 vezes menor que o dele. Deste modo, no tempo que leva Aquiles para percorrer os 80 metros que o separava da tartaruga esta já avançou 8 metros e Aquiles continua atrás dela. Aquiles anda estes 8 metros, mas a tartaruga andou 0,8 m, Aquiles anda 0,8 m e a tartaruga 0,08 e assim sucessivamente de modo que Aquiles nunca atingirá a tartaruga.

O filme usa o paradoxo para falar do problema do artista plástico procurando se colocar na vanguarda desta arte que, talvez, tenha sido a que mais paradigmas quebrou. O experimentalismo, as performances com os materiais mais inusitados além de certo minimalismo expressionista tornaram a arte plástica contemporânea uma arte em desconstrução. E, por tabela, o artista plástico submetido às estruturas que fazem a mercancia da produção.

Logo no início do filme se toma conhecimento de um pequeno banqueiro japonês falido, que se suicida e deixa um filho pequeno que amava desenhar e pintar. Uma criança retraída, mas absolutamente voltada para o desejo de pintar. Quando ele e a mãe estão sendo expulsos da casa, os cobradores de dívida, tomando tudo o que ainda restava de valor, levam um quadro pintado pelo menino que segundo eles dizem alguém irá comprar, pois a decisão de comprar não tinha mais escala estética social, dependia da mera embromação do vendedor.

Neste momento se encontra a corrida de Aquiles com a Tartaruga. Quando o menino se torna rapaz, decide ganhar a vida como artista e aí, por ter uma construção autodidata lhe aconselham a freqüentar uma escola de arte. Ele corre para a escola, imita Matisse, Picasso, os Impressionistas, Klee e assim por diante, sempre recebendo do dono da galeria a recusa pela imitação. Ele precisa achar a sua própria personalidade artística.

Faz experiência jogando tintas aleatoriamente na tela. Arrasta a mulher para sua performance e caem no grafismo das ruas. São presos, obrigados a repintar os espaços privados que coloriram. Sempre que retornam a galeria, estão atrás da tartaruga, o dono diz que não atingiu o seu ponto de chegada. E assim o filme trata esta questão das artes plásticas que, não se tenha dúvida, pela a forma como a narrativa do paradoxo ocorreu é a própria civilização capitalista globalizada e como ela se reflete no Japão.

No final o artista encontra a tartaruga, quando já velho, todo queimado em decorrência de uma performance artística, é arrastado pela mão, passivamente, pelo o amor da mulher que já o abandonara antes e agora retornara para os últimos passos formulados por aquele louco paradoxo da eterna vanguarda.

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