LUNDÚ DO ESCRITOR DIFÍCIL
eu sou um escritor difícil
que a muita gente enquisila,
porém essa culpa é fácil
de se acabar duma vez:
é só tirar a cortina
que entra luz nesta escurez.
cortina de brim caipora,
com teia caranguejeira
e enfeite rúim de caipira,
fale fala brasileira
que você enxerga bonito
tanta luz nesta capoeira
tal-e-qual numa gupiara.
misturo tudo num saco,
mas gaúcho maranhense
que para o mato grosso,
bate êste angú de caroço
ver sôpa de carurú;
a vida é mesmo um buraco,
bobo é quem não é tatu!
eu sou um escritor difícil,
porém culpa de quem é!...
todo difícil é fácil,
abasta a gente saber.
bagé, piché, chué, ôh "xavié",
de tão fácil virou fossil,
o difícil é aprender!
virtude de urubutinga
de enxergar tudo de longe!
não carece vestir tanga
pra penetrar meu cassange!
você sabe o francês "singe"
mas não sabe o que é guariba?
- pois é macaco, seu mano,
que só sabe o que é da estranja.
(mário deandrade, 1928)
4 comentários:
Rapaz, eu to meio atarefado com o doutorado. Mas to sempre de olho aqui. Boa postagem!
João o texto de Mário de Andrade é ótimo. E incrível, parece atual.
darlan e maurício, belo poema poema do mário de andrade e quase ninguém se deu conta.
agora se eu colocar alguma postagem com "bundinhas", "peitinhos", "piroquinhas", "xotinhas"... chove um monte de postagens.
as pessoas tem medo de assumir que gostam de ver as tais "genitálias desnudas".
o melhor é que posso satisfazer a gregos e troianos.
abraço em todos.
É porque as vestais da TFP são assim mesmo.
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