Democrático por natureza, praticando onde haja um terreno baldio qualquer e magnanimamente acessível às pessoas dos mais diferenciados segmentos sociais, nos dias atuais o futebol constitui-se o sonhado “bilhete premiado” ou passaporte condutor da fama, prestígio e independência financeira para aqueles que, por falta de oportunidade (ou por não quererem mesmo nada com a vida em termos de estudo, educação e conhecimento), mas que possuidores do “dom” ou talento no trato da bola, nele desembarcam. Uns, mais expeditos, sabem aproveitar o cavalo selado à porta, o montam destramente e seguem em frente, firmes e fortes, já que sem maiores preocupações futuras, principalmente em relação ao vil metal; outros, atabalhoadamente metem os pés pelas mãos, se deixam possuir pela soberba e arrogância, se danam a praticar as mais estapafúrdias tolices e tendem a voltar ao limbo, à sarjeta, às origens marginais.
Não deveria, pois, constituir-se nenhuma surpresa para o mortal-comum, o recente desabafo de um dos seus protagonistas sobre a existência, no promíscuo meio futebolístico, de verdadeiras orgias em ambientes privados, onde rola à vontade e em profusão o álcool, a droga, o sexo, a desonestidade, e, enfim, a devassidão.
Desprovidos dos princípios elementares da educação formal, porquanto normalmente analfabetos de pai e mãe a ponto da maioria apenas e tão-somente “ferrar” o nome e com dificuldade, majoritariamente desconfiados e complexados em razão das agruras da origem humilde e vida paupérrima que vivenciaram num passado que teima em se fazer presente (e a incomodar), os nossos jogadores de futebol, especialmente a “seleta” minoria que tem o privilégio de atuar nos grandes times, não têm a devida estrutura psíquica para a abrupta metamorfose comportamental e do padrão de vida.
Hoje, privilegiados titulares de uma robusta conta bancária abastecida de dólares ou euros, residindo em mansões confortáveis e suntuosas nunca dantes imaginadas, comendo e bebendo do que há de mais refinado e requintado, cercados das mil facilidades propiciadas por neo-amigos que lhes prometem irrestrita e canina fidelidade e – e aqui é onde realmente mora o perigo - implacavelmente badalados, assediados, cercados e paparicados pelas plantonistas “marias-chuteiras” da vida (normalmente garotas bem nutridas fisicamente, interesseiras e... bandoleiras, que poderíamos rotular de “bonitinhas mais ordinárias”), os “heróis” (???) do povão e de uma mídia corrupta (que vivem a lhes insuflar o ego) findam por abrir a guarda, sucumbir ao cerco, cair na armadilha.
Quem não lembra, por exemplo, que o jogador Ronaldo Nazário, originário do subúrbio carioca e repentinamente guindado à condição de personalidade mundial, “ficou” apenas uma única e solitária noite (na primeira conversa) com uma tal “rainha das embaixadinhas” (uma esperta suburbana) que, sem qualquer escrúpulo e providencialmente, tratou de “se garantir” ao engravidar e posteriormente botar a boca no trombone, exigindo seus “direitos” ??? Hoje, a ex “senhora Nazário” se dá ao luxo de escolher os parceiros de programas para suas concorridas aventuras sexuais (inclusive no circuito internacional) e não tem nenhuma preocupação com o futuro em razão da polpuda pensão alimentícia que recebe (legalmente garantida pela justiça).
Quem há de esquecer que uma das nossas principais promessas para a Copa do Mundo de 2006, Ronaldo Gaúcho, paulatinamente ofuscado pelas luzes do sucesso, entrou em sofrido, letal e corrosivo processo de decadência técnica e física ao patrocinar e participar de diuturnas e monumentais orgias em terras italianas (regadas a muita droga e álcool), literalmente jogando fora a própria carreira (ficou de fora da Copa), sem que antes, em uma de suas meteóricas passagens pelo Brasil, tenha experimentado também das agruras do “conto da gravidez”, resultando na obrigação de destinar uma gorda mesada mensal para uma daquelas vistosas dançarinas do Faustão, presumivelmente mãe de um seu filho ??? (e o “abestado” ainda se vangloria do grande feito, ao sugerir que “...o moleque tem os dentes iguais aos meus”).
Quem não recorda que o jogador Adriano, literalmente “escorraçado” da Itália (assim como no passado o fora o ídolo argentino Diego Maradona), em razão da sua incursão no sempre perigoso mundo das drogas pesadas, em chegando ao Brasil pra “curtir a vida” foi paparicado e convencido por dirigentes do Flamengo a “retomar a carreira” no clube, onde pintou e bordou, casou e batizou, fez e desfez (impunemente), já que continuou com a mesma vida desregrada e mafiosa de sempre (agora em companhia de contemporâneos de infância da favela onde nasceu), sem que os seus assessores e “padrinhos” tivessem moral pra tomar qualquer atitude ???
Pois bem, agora a bola da vez, coincidentemente também ídolo da torcida do Flamengo, é o jogador Bruno Fernandes de Souza, também um ex-favelado que, “enrascado até a medula” no presumível seqüestro, prisão e morte da ex-amante Eliza Samudio, viu sua vida virar de cabeça pra baixo, da noite pro dia.
É que o crime, mesmo perpetrado por profissionais e com requintes de tremenda crueldade e hediondez, deixou evidentes “digitais” e um “caminhão” de pistas e acusações consistentes contra ele (inclusive um vídeo gravado às vésperas pela própria, bem como um bombástico depoimento de um dos participantes), tudo levando a crer tratar-se de um clássico caso de recusa na admissibilidade de uma paternidade extraconjugal e o conseqüente pagamento da pensão alimentícia respectiva.
Como é tamanha a desfaçatez no meio futebolístico e o sentimento de impunidade tão arraigado, o ex-goleiro do Flamengo, mesmo posto no olho-do-furacão e em pleno clímax do imbróglio, aparentemente sem se dá conta da monstruosidade em que se metera revelou, em entrevista já dentro da prisão, o seu sonho de em breve envergar a jaqueta da seleção nacional, bem como transferir-se para um grande clube do exterior. Só que, dada a contundência das provas, suas perspectivas são as mais sombrias e apavorantes possíveis: 30 anos de reclusão e uma troca inusitada e não lá muito honrosa do gol do Flamengo pelo do esquadrão da prisão Bangu II, no subúrbio carioca.
Como, entretanto, há males que vêm para o bem, pode ser que num ambiente isolado, calmo, recluso, propício à reflexão e meditação, amazonicamente distante das massas disformes e zuadentas que o ovacionavam a plenos pulmões nos mais diversos estádios do Brasil, o agora “evangélico” Bruno (e como tem “evangélico” no meio futebolístico, não ???) tenha bastante tempo para refletir sobre a apocalíptica reviravolta em sua vida, quando de “ídolo” de uma das maiores torcidas do Brasil, transmutou-se à condição de “monstro”, num abrir e fechar d’olhos.
Estará preparado para isso ???
Difícil acreditar.
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