Artigo Original: O naufrágio do Centro do Mundo
A crise pela qual passa o sistema capitalista mundial é um imenso desastre, provocando rupturas radicais, gerando processo amplo de decadência social. Vem da década de 70, deteriorando a cultura produtiva e a precarização laboral que diminui a pressão salarial sobre a rentabilidade capitalista e a competitividade internacional. Degradou a coesão laboral e o interesse dos assalariados pelas estruturas de produção. Ineficácia dos processos de inovação, déficit crônico do comércio exterior (nos EUA foi $815 bilhões em 2007).
Expandem-se os negócios financeiros e a concentração de renda. A expansão absorve capitais industriais e de atividades produtivas. Faltam recursos para as empresas se desenvolverem e competir, e o Estado para financiar gastos militares e civis. A concentração de renda nos EUA é o desastre: em 2007 os 1% mais rico da população absorveu 20% da Renda Nacional (em 1980 ERA 7%). Os 10 % absorvem quase 50% da renda nacional hoje.
A concentração além de não gerar poupança e investimento industrial, gerou consumo e negócios improdutivos. Consumo de tecnologias da informação e da comunicação num universo virtual acima do mundo mágico, onde fantasia e realidade se misturam. Resultou em desintegração social, aumento da criminalidade, criminalização de pobres, marginais e minorias étnicas. A população aprisionada é a maior do mundo nos EUA: 7,2 milhões de norte-americanos sob custódia judicial. Com menos de 5% da população mundial, têm 25% de todos os presos do planeta.
O centro dinâmico da economia dos EUA é o Complexo Industrial Militar convergindo o Estado, a indústria e a ciência. Em 2008 este Complexo gerou um gasto de 1,1 trilhões de dólares. Nesse ano, aproximadamente 30 milhões de pessoas (número equivalente a 20% da População Economicamente Ativa) viviam dele. Embora responsável pela expansão do consumo de massa, a partir daí ele se transformou em fator decisivo do déficit fiscal, causando inflação e desvalorização internacional do dólar.
A outra questão é que a sofisticação tecnológica se encapsulou nas armas e não em aplicações civis, reduzindo a competitividade industrial. A separação entre a ciência militar (devoradora de fundos e de talentos) e a indústria civil lembra o período terminal da ex-União Soviética. O Complexo está na raiz da decadência do Estado com perda da sua capacidade integradora (declínio da segurança social, predominância da cultura elitista em seus centros de decisão, etc.), da degradação da infra-estrutura, déficit fiscal crônico e aumento da dívida pública.
A dependência energética é um paradigma das agruras do futuro. Os EUA importam 65% do petróleo que consomem, num cenário mundial de redução da produção de petróleo por esgotamento das reservas. A substituição por biocombustíveis reduz a disponibilidade de terras agrícolas para alimentos, com aumento geral dos preços e efeito inflacionário. O EUA além de não aproveitaram a vantagem energética do século XX não aplicaram qualquer racionalidade para encontrar alternativas. Em parte por pressão das petroleiras cada vez mais detentoras do “espírito selvagem” do capitalismo e ávidas por lucros. Resultado: mergulharam na cultura de curto prazo da hegemonia financeira, subordinando-se completamente aos interesses imediatos dos grupos econômicos dominantes.
O modelo, revestido por um manto ideológico de liberalismo, subordinou o sistema tecnológico ocidental-moderno à cultura individualista (por exemplo, o automóvel), como estilo de vida dominante. Tal cultura vive da exploração intensiva de recursos naturais não renováveis ou na destruição dos ciclos de reprodução dos recursos renováveis. Desse modo o capitalismo industrial se tornou “independente” dos ritmos naturais, submetendo brutalmente a natureza. O que era progresso nos séculos XIX e XX, como a grande proeza da civilização burguesa, era uma de suas irracionalidades fundamentais.
O sistema produtivo perdeu dinamismo e recebeu transfusões de artificialidades: expansão do consumo privado (das classes altas), gastos militares e atividades parasitárias lideradas pelo sistema financeiro, provocando crescentes desequilíbrios fiscais, acumulação incessante de dívidas públicas e privadas. A dívida pública americana atingiu em 2008 a quantia de $ 9,5 trilhões e a dívida total dos norte-americanos (pública mais privada) estava em $ 53 trilhões o equivalente ao Produto Bruto mundial. As bolhas são a imagem de um caldeirão fervendo: consumindo muito além das suas possibilidades produtivas.
Os EUA passaram a observar na sua paisagem o levantar de vôos de uma série de tendências perversas: déficits comercial, fiscal e energético, os gastos militares, o número de presos e as dívidas públicas e privadas. Enquanto os corpos nocivos subiam, os objetos benéficos começaram a cair: redução da taxa de poupança pessoal e a queda do valor internacional do dólar, com declínio da supremacia imperial. Totalidade social decadente com convergência de fatos culturais, tecnológicos, sociais, políticos, militares, etc. Ó conjunto leva a uma visão da degradação do capitalismo estatista-keynesiano. Tem-se uma louca corrida militar contra um inimigo (terrorista) global imaginário, bolha imobiliária e das dívidas que estavam ocultas pelos números de aumento do Produto Interno Bruto e a sensação (midiática) de prosperidade.
Os EUA são o paradigma da crise mundial por ser o centro do mundo (do capitalismo global) e seu declínio é a redução do espaço essencial da interpenetração produtiva, comercial e financeira em escala planetária. Estamos numa trama muito densa da qual nenhuma economia capitalista desenvolvida ou subdesenvolvida ousa escapar (a não ser rompendo o funcionamento do capitalismo composto por classes dominantes locais altamente globais). A expansão econômica na Europa, China e outros países subdesenvolvidos e o efêmero japonês, foi apenas a prosperidade da expansão consumista-financeira norte-americana.
Os EUA tem 25% do PB Mundial é o primeiro importador global e principal cliente da China, Índia, Japão e Inglaterra, e o da Alemanha, fora da Europa. A rede dos negócios com produtos financeiros derivados (mais de 600 trilhões de dólares ou 12 vezes o Produto Bruto Mundial) articula-se a partir da estrutura financeira norte-americana. As bolhas que nascem nos EUA se espalham no mundo como, as ondas de uma pedra sobre as águas de um lago. A movimentação econômica do mundo articula-se a partir do mercado americano.
Os Estados Unidos consomem em excesso, pagando com seus dólares desvalorizados e impondo seu entesouramento (na forma de reservas) e títulos públicos, que financiaram seus déficits fiscais. Foi também, graças a esse parasitismo que europeus, chineses, japoneses, etc., puseram no mercado imperial as suas exportações de mercadorias e de excedentes de capitais. O parasitismo financeiro é norte-americano e universal e reproduz capitalismos centrais e periféricos que precisam ultrapassar seus mercados locais, para fazer crescer seus benefícios. A Europa Ocidental, o Japão e a China, exportam graças aos seus baixos salários (comprimindo seu mercado interno).
Em outras palavras é a própria “globalização” que está afundando: não a nave principal da frota (se assim fosse, numerosas embarcações poderiam salvar-se). Neste sentido as saídas apontadas não passam de ilusões conservadoras: descolamento de várias economias industriais e subdesenvolvidas da recessão imperial e renascimento do intervencionismo keynesiano. Nos países centrais houve um fenômeno duplo: degradação geral dos Estados submetidos aos grupos financeiros, perdendo legitimidade social e sendo progressivamente ultrapassados pelo sistema econômico mundial. O estado intervencionista (de raiz keynesiana) nos países centrais nunca desapareceu, apenas modificou as estratégias: reforçando a concentração de renda e os desenvolvimentos parasitários. Deixou de ser, ontem, integrador social, produtivista-industrial para ser, hoje, elitista, neoliberal e virtualista-financeiro. No mundo subdesenvolvido regrediu até ser triturado, e o retorno ao Estado interventor-desenvolvimentista é impossível: as burguesias dominantes locais, estão transnacionalizadas ou sob a tutela direta de empresas transnacionais.
A crise, neste sentido, seria da degeneração estrutural do Estado, sua insuficiência e sua impotência perante um mundo capitalista grande e complexo demais. Estaríamos numa decadência global (econômica-institucional-política-militar-tecnológica). Como os EUA não constituem um mundo à parte como a URSS, mas o centro da cultura universal, a implosão americana faria um estrago sem precedentes na história humana. Neste sentido esta seria uma crise superior à 1914 e afeta a todos, indistintamente. Todo o edifício de idéias, de certezas de diversos matizes, construído ao longo de mais de dois séculos de capitalismo industrial, está começando a apresentar rachaduras.
A crise pela qual passa o sistema capitalista mundial é um imenso desastre, provocando rupturas radicais, gerando processo amplo de decadência social. Vem da década de 70, deteriorando a cultura produtiva e a precarização laboral que diminui a pressão salarial sobre a rentabilidade capitalista e a competitividade internacional. Degradou a coesão laboral e o interesse dos assalariados pelas estruturas de produção. Ineficácia dos processos de inovação, déficit crônico do comércio exterior (nos EUA foi $815 bilhões em 2007).
Expandem-se os negócios financeiros e a concentração de renda. A expansão absorve capitais industriais e de atividades produtivas. Faltam recursos para as empresas se desenvolverem e competir, e o Estado para financiar gastos militares e civis. A concentração de renda nos EUA é o desastre: em 2007 os 1% mais rico da população absorveu 20% da Renda Nacional (em 1980 ERA 7%). Os 10 % absorvem quase 50% da renda nacional hoje.
A concentração além de não gerar poupança e investimento industrial, gerou consumo e negócios improdutivos. Consumo de tecnologias da informação e da comunicação num universo virtual acima do mundo mágico, onde fantasia e realidade se misturam. Resultou em desintegração social, aumento da criminalidade, criminalização de pobres, marginais e minorias étnicas. A população aprisionada é a maior do mundo nos EUA: 7,2 milhões de norte-americanos sob custódia judicial. Com menos de 5% da população mundial, têm 25% de todos os presos do planeta.
O centro dinâmico da economia dos EUA é o Complexo Industrial Militar convergindo o Estado, a indústria e a ciência. Em 2008 este Complexo gerou um gasto de 1,1 trilhões de dólares. Nesse ano, aproximadamente 30 milhões de pessoas (número equivalente a 20% da População Economicamente Ativa) viviam dele. Embora responsável pela expansão do consumo de massa, a partir daí ele se transformou em fator decisivo do déficit fiscal, causando inflação e desvalorização internacional do dólar.
A outra questão é que a sofisticação tecnológica se encapsulou nas armas e não em aplicações civis, reduzindo a competitividade industrial. A separação entre a ciência militar (devoradora de fundos e de talentos) e a indústria civil lembra o período terminal da ex-União Soviética. O Complexo está na raiz da decadência do Estado com perda da sua capacidade integradora (declínio da segurança social, predominância da cultura elitista em seus centros de decisão, etc.), da degradação da infra-estrutura, déficit fiscal crônico e aumento da dívida pública.
A dependência energética é um paradigma das agruras do futuro. Os EUA importam 65% do petróleo que consomem, num cenário mundial de redução da produção de petróleo por esgotamento das reservas. A substituição por biocombustíveis reduz a disponibilidade de terras agrícolas para alimentos, com aumento geral dos preços e efeito inflacionário. O EUA além de não aproveitaram a vantagem energética do século XX não aplicaram qualquer racionalidade para encontrar alternativas. Em parte por pressão das petroleiras cada vez mais detentoras do “espírito selvagem” do capitalismo e ávidas por lucros. Resultado: mergulharam na cultura de curto prazo da hegemonia financeira, subordinando-se completamente aos interesses imediatos dos grupos econômicos dominantes.
O modelo, revestido por um manto ideológico de liberalismo, subordinou o sistema tecnológico ocidental-moderno à cultura individualista (por exemplo, o automóvel), como estilo de vida dominante. Tal cultura vive da exploração intensiva de recursos naturais não renováveis ou na destruição dos ciclos de reprodução dos recursos renováveis. Desse modo o capitalismo industrial se tornou “independente” dos ritmos naturais, submetendo brutalmente a natureza. O que era progresso nos séculos XIX e XX, como a grande proeza da civilização burguesa, era uma de suas irracionalidades fundamentais.
O sistema produtivo perdeu dinamismo e recebeu transfusões de artificialidades: expansão do consumo privado (das classes altas), gastos militares e atividades parasitárias lideradas pelo sistema financeiro, provocando crescentes desequilíbrios fiscais, acumulação incessante de dívidas públicas e privadas. A dívida pública americana atingiu em 2008 a quantia de $ 9,5 trilhões e a dívida total dos norte-americanos (pública mais privada) estava em $ 53 trilhões o equivalente ao Produto Bruto mundial. As bolhas são a imagem de um caldeirão fervendo: consumindo muito além das suas possibilidades produtivas.
Os EUA passaram a observar na sua paisagem o levantar de vôos de uma série de tendências perversas: déficits comercial, fiscal e energético, os gastos militares, o número de presos e as dívidas públicas e privadas. Enquanto os corpos nocivos subiam, os objetos benéficos começaram a cair: redução da taxa de poupança pessoal e a queda do valor internacional do dólar, com declínio da supremacia imperial. Totalidade social decadente com convergência de fatos culturais, tecnológicos, sociais, políticos, militares, etc. Ó conjunto leva a uma visão da degradação do capitalismo estatista-keynesiano. Tem-se uma louca corrida militar contra um inimigo (terrorista) global imaginário, bolha imobiliária e das dívidas que estavam ocultas pelos números de aumento do Produto Interno Bruto e a sensação (midiática) de prosperidade.
Os EUA são o paradigma da crise mundial por ser o centro do mundo (do capitalismo global) e seu declínio é a redução do espaço essencial da interpenetração produtiva, comercial e financeira em escala planetária. Estamos numa trama muito densa da qual nenhuma economia capitalista desenvolvida ou subdesenvolvida ousa escapar (a não ser rompendo o funcionamento do capitalismo composto por classes dominantes locais altamente globais). A expansão econômica na Europa, China e outros países subdesenvolvidos e o efêmero japonês, foi apenas a prosperidade da expansão consumista-financeira norte-americana.
Os EUA tem 25% do PB Mundial é o primeiro importador global e principal cliente da China, Índia, Japão e Inglaterra, e o da Alemanha, fora da Europa. A rede dos negócios com produtos financeiros derivados (mais de 600 trilhões de dólares ou 12 vezes o Produto Bruto Mundial) articula-se a partir da estrutura financeira norte-americana. As bolhas que nascem nos EUA se espalham no mundo como, as ondas de uma pedra sobre as águas de um lago. A movimentação econômica do mundo articula-se a partir do mercado americano.
Os Estados Unidos consomem em excesso, pagando com seus dólares desvalorizados e impondo seu entesouramento (na forma de reservas) e títulos públicos, que financiaram seus déficits fiscais. Foi também, graças a esse parasitismo que europeus, chineses, japoneses, etc., puseram no mercado imperial as suas exportações de mercadorias e de excedentes de capitais. O parasitismo financeiro é norte-americano e universal e reproduz capitalismos centrais e periféricos que precisam ultrapassar seus mercados locais, para fazer crescer seus benefícios. A Europa Ocidental, o Japão e a China, exportam graças aos seus baixos salários (comprimindo seu mercado interno).
Em outras palavras é a própria “globalização” que está afundando: não a nave principal da frota (se assim fosse, numerosas embarcações poderiam salvar-se). Neste sentido as saídas apontadas não passam de ilusões conservadoras: descolamento de várias economias industriais e subdesenvolvidas da recessão imperial e renascimento do intervencionismo keynesiano. Nos países centrais houve um fenômeno duplo: degradação geral dos Estados submetidos aos grupos financeiros, perdendo legitimidade social e sendo progressivamente ultrapassados pelo sistema econômico mundial. O estado intervencionista (de raiz keynesiana) nos países centrais nunca desapareceu, apenas modificou as estratégias: reforçando a concentração de renda e os desenvolvimentos parasitários. Deixou de ser, ontem, integrador social, produtivista-industrial para ser, hoje, elitista, neoliberal e virtualista-financeiro. No mundo subdesenvolvido regrediu até ser triturado, e o retorno ao Estado interventor-desenvolvimentista é impossível: as burguesias dominantes locais, estão transnacionalizadas ou sob a tutela direta de empresas transnacionais.
A crise, neste sentido, seria da degeneração estrutural do Estado, sua insuficiência e sua impotência perante um mundo capitalista grande e complexo demais. Estaríamos numa decadência global (econômica-institucional-política-militar-tecnológica). Como os EUA não constituem um mundo à parte como a URSS, mas o centro da cultura universal, a implosão americana faria um estrago sem precedentes na história humana. Neste sentido esta seria uma crise superior à 1914 e afeta a todos, indistintamente. Todo o edifício de idéias, de certezas de diversos matizes, construído ao longo de mais de dois séculos de capitalismo industrial, está começando a apresentar rachaduras.
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