Ressaca política
Como um terremoto, seguido de um furacão e um tsunami, que tudo sacode, alaga, vira e revira, bem assim foi o efeito da eleição 2010 no Brasil.
Nesse período, na luta desesperada pelos poderes e benesses contidos e advindas dos cargos políticos de deputados (estaduais e federais), governadores, senadores e presidência da república, o que se viu, por parte de alguns envolvidos nesse processo (candidatos, colaboradores e eleitores), foi um misto de entusiasmo, lealdade, traição, respeito, estratégia, maquinação, gastança, decepção, risos, choros, tapas, beijos e até mortes.
No caso dos ratos e ratazanas de campanha, essas pessoas exerceram seus papéis de praxe: na expectativa da obtenção de uma compensação qualquer (emprego, dinheiro ou bens materiais de seus candidatos), elas tornaram-se, durante toda campanha, extremamente eficazes na caça ao voto. De uma hora para outra viraram comunicativas e “amigas” de todos, mas, dependendo do contra-argumento, agressivas e radicais.
O fato é que nesse processo de pura democracia muitos dos envolvidos se fortaleceram. Já outros caíram em completa desgraça perdendo não só dinheiro, mas, principalmente, cargos, lideranças, amizades e, em certos casos, a moral e o respeito perante a si próprios bem como junto à comuna na qual manifestaram seus propósitos.
No entanto, um fato de importância maior, ocorrido no dia da votação, foi o que mais prendeu a minha atenção. Estava eu sentado na entrada do prédio, no qual estavam funcionando várias seções eleitorais, quando passei a observar o entra-e-sai dos eleitores ali inscritos. Eram autoridades, marginais, gente rica, gente pobre, intelectuais, artistas, estudantes, professores, enfim, toda a representatividade da sociedade, porém nivelada nos quesitos importância e poder, em face de um único instrumento de direito: o voto! Não adiantava, portanto, a empáfia, a arrogância, bem como a posição social ou os graus de conhecimento e riqueza de cada um, pois todos eram senhores e senhoras absolutos e absolutas com poderes de fogo iguais perante a Lei da democracia.
Registre-se também que a eleição 2010 deixou marcas progressivas e relevantes no contexto da política nacional. Pois, mesmo sabendo que o idealismo, a honradez, o patriotismo, a imparcialidade e outros positivismos mais foram (como de costume) ultrajados nesse jogo, ainda assim vimos manifestos corretivos, práticos e éticos implementados pela Justiça, como foi o caso da caça às fichas-sujas. Outra: mais uma vez batemos o recorde mundial no que diz respeito ao tempo mínimo para a contagem dos votos. Uma novidade: foi quebrado o tabu nacional: uma mulher na Presidência da República.
É... “Apesar de você”, como disse Chico Buarque, podemos afirmar que hoje, mesmo sob protesto dos retrógadas, já está sendo outro dia!
E por falar em outro dia, outro tempo e outra era, tomara que no próximo pleito o eleitor seja mais seguro de suas atitudes e escolhas para não deixar ser levado por retóricas, lábias e enganações que visem a burlação de suas convicções e a subestimação de sua inteligência. Tomara que os ratos de campanha transformem-se em colaboradores por idealismo ajudando aos seus candidatos sem deles exigirem benefícios escusos. Tomara que a imprensa e os formadores de opiniões públicas, em especial, usem de suas criatividades, potencialidades e responsabilidades para agirem na mais restrita imparcialidade tornando-se, portanto, informadores e críticos crédulos perante seus públicos seguidores.
Tomara que Deus não seja bandeira, menino propaganda ou cabo eleitoral dos orientadores da fé, que usam essa Suprema Divindade como trampolim para as suas ascensões políticas.Tomara por fim que, doravante, após todas essas lições, os discursos dos candidatos não voltem a ser apelativos, cheios de falácias, acusativos ou vazios. E que esses mesmos políticos entendam, de uma vez por todas, que os tempos mudaram. Isto porque, a cada pleito, estão sendo eliminados da governança aqueles que não trabalharam, que não foram competentes, que não mostraram resultados práticos, que não foram honestos, que ficaram em cima do muro e que pensaram, erradamente que, na época da interatividade, da politização e da melhoria do nível escolar, o povo continua sendo um elemento alienado, encabrestado e burro... Eternamente burro!
Roberto Jamacaru de Aquino
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