No Crato, meses atrás, a caminho do trabalho um pacato e respeitável cidadão (que também milita na política), deparou-se com algo inusitado e que o deixou deveras estupefato: ao sopé da nossa bela Chapada do Araripe (nas proximidades do Clube Recreativo Granjeiro) um imenso “trator” agredia a natureza ao investir criminosa e implacavelmente contra a floresta, pondo-a por terra e desvirginando-a. Num ato corajoso, merecedor de aplausos e característico de quem não titubeia em exercer na plenitude a mais pura cidadania, de pronto o cidadão-político sacou da sua câmara fotográfica e registrou para a posteridade aquela aberração, também conhecida no jargão judiciário por “crime ambiental”, disponibilizando, posteriormente, na Internet, as respectivas fotos comprobatórias.
Num primeiro momento, após sua divulgação, compreensivelmente a grita foi generalizada e assumiu proporção nunca dantes observada: aquilo era um absurdo, aquilo não podia acontecer, aquilo era um monstruoso crime contra a natureza e, principalmente - brandiam e exigiam os internautas - os órgãos vinculados à questão ambiental (Ibama, Semace e outros) deveriam divulgar o nome do proprietário do terreno, até como forma de desestimular ou obstar tal perversidade.
Eis que alguém, insensível à questão ambiental, mas certamente partidário de certas “conveniências”, observou que, como o desmatamento estava sendo perpetrado na área mais nobre da cidade, num espaço onde só os chamados “barões” habitam, o proprietário do terreno deveria ser alguém “com bala na agulha” (cheio da grana) e, portanto, não poderia ser importunado. Ter-se-ia, pois, que se ter cautela, trancafia-la a sete chaves, evitar a divulgação do fato. Não deu outra. Tão repentinamente quanto surgiu, a denúncia caiu no ostracismo, foi imediatamente abafada, blindada e, enfim, enviada às calendas gregas.
Mas aí um cidadão sensível à questão ambiental e não partidário de qualquer tipo de “conveniência” (o autor dessas mal-traçadas) lembrou de um “pequeno detalhe” e publicamente formulou uma perguntinha inocente, que qualquer criança de jardim de infância faria: de quem era, afinal, o possante trator utilizado em tal crime ambiental, ou a quem se achava vinculado aquele poderoso artefato que tanto pode ser mortífero (quando destrói a natureza) quanto útil (ao ajudar no progresso ???)
Como sabemos, tratores, retroescavadeiras e “demais familiares” não se prestam a serviços chinfrins, já que normalmente utilizados em empreendimentos de grande porte, duradouros, de difícil execução, além de exigirem uma certa logística para serem transportadas; sem se falar que são bastantes caras, inacessíveis a uma pessoa física que deseje, por exemplo, construir um “açudeco” qualquer em sua propriedade. Pelo perfil característico, pois, normalmente este tipo de máquina tem como proprietário ou se acha vinculada a algum órgão público, federal, estadual ou municipal, via secretarias competentes.
Em assim sendo, no caso específico do “crime ambiental” ocorrido ao Sopé da Chapada do Araripe, ao irregularmente executar um serviço numa propriedade privada e ainda por cima sendo operacionalizada por um funcionário público pago pelo contribuinte, materializava-se uma excrescência, algo escabroso e nefasto à administração pública: a promiscuidade (que vem a ser a indesejável e asquerosa mistura do público com o privado).
O certo é que o tempo passou, respostas não foram dadas, prevaleceram as imorais, ilegais e amorais conveniências e nunca mais ninguém falou nada a respeito, deixando sem resposta perguntas indigestas, porquanto intrigantes: a) afinal, de quem era a propriedade beneficiada ??? b) a quem pertencia o trator ??? c) se ao serviço público (como se imagina), quem autorizou seu uso num empreendimento privado ??? d) em razão da impunidade, quem garante que tão deplorável ato não repetir-se-á no futuro ???
Um comentário:
Senhor José Nilton, veja no blog do Crato que o Sr. Dihelson criou um personagem de nome "Marianildo" o pessimista de carteirinha. Sinceramente, achei uma falta de respeito.
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