Apesar do indisfarçável pavor que provoca em boa parte da população de todos os quadrantes do planeta, a viagem de avião ainda é, indubitavelmente, o meio mais prático, eficaz, seguro e rápido de se deslocar a grandes distâncias (continentais ou sobre o oceano, a passeio ou negócios), assim como se constitui no mais eficiente instrumento no transporte de toneladas de cargas de toda espécie (de produtos primários ou industrializados) que diuturnamente movimentam e fazem girar a economia mundial.
No entanto, os mais pessimistas (ou seriam medrosos ???) relutam em utilizá-la, ao se apegarem a uma particularidade (real e um tanto quanto macabra), que ronda e é característica das viagens aéreas: na perspectiva ou em caso de acidente, mui dificilmente sobrevive alguém pra contar a história (apesar de serem raríssimos os acidentes, se levarmos em conta a relação “quilometragem/número de vôos X ocorrências verificadas”), conforme comprovam as estatísticas disponibilizadas.
No entanto, como normalmente num mesmo vôo os aviões transportam dezenas ou centenas de pessoas, tal ocorrência (acidente) quando acontece é potencializada ao extremo, explorada em toda sua magnitude, em razão da comoção que provoca, pela perda irreparável que impinge às muitas famílias envolvidas, em face da solidariedade que desperta até em quem não tem nada a ver com o problema e, principalmente, pela dificuldade de se descobrir as causas que o provocaram.
O retrato emblemático do acima exposto foi o acidente ocorrido dois anos atrás com um portentoso avião da companhia francesa Air France, quando fazia o longo percurso Rio de Janeiro - Paris (mais de 10 horas de vôo) e que, subitamente, sem maiores explicações ou problemas aparentes, sumiu dos radares, despencou lá de cima e desapareceu no momento em que empreendia a longa travessia sobre o Oceano Atlântico, em plena noite.
Dia seguinte, tomando por base a hora precisa da decolagem, a velocidade da aeronave em vôos transatlânticos, a rota traçada previamente e o último contato mantido com os operadores em terra, chegou-se à conclusão da possível área, na imensidão do oceano, em que provavelmente houvera ocorrido um acidente, logo infelizmente confirmado com o aparecimento de pequenas partes da aeronave e alguns corpos a boiarem.
A partir de então e após dois longos anos de detalhados estudos, delimitação e avaliação da uma área específica na vastidão do Atlântico, uma nova tecnologia para uso em casos da espécie foi acionada, via utilização de um mini-submarino, equipado com câmaras fotográficas e acionado por controle remoto em terra, capaz de perscrutar o fundo do mar (cerca de quatro mil metros abaixo), à procura das duas “caixas-pretas” (cada uma do tamanho de uma caixa de sapato), onde o áudio da conversa do piloto e co-piloto na cabine de comando, assim como os dados técnicos do vôo se achavam armazenados.
E o que antes parecia uma “missão impossível”, aconteceu: as “caixas-pretas” não só foram localizadas, mas resgatadas (e muito bem conservadas) possibilitando que da leitura de seus dados se chegasse à triste conclusão que, lamentavelmente, uma sucessão de procedimentos equivocados dos teoricamente experientes pilotos (também conhecida no jargão aeronáutico como “falha humana”) houvera sido determinante para a morte das 228 pessoas que se achavam a bordo; é que, em razão da siberiana temperatura exterior (mais de 20 graus negativos) teria havido o congelamento de um ou dois dos sensores responsáveis pela medição da velocidade e altura, e a aeronave fora direcionada equivocadamente e de forma ascendente para o “olho do furacão” (tempestade), quando em situações da espécie a recomendação ou prioridade seria adotar uma trajetória de descida (como já ocorrera e fora revertida, anteriormente).
Fato é que, em razão do compreensível lamento por tantas vidas ceifadas prematuramente, de certa forma ficou obscurecido o “feito extraordinário” de o homem ter conseguido algo que muitos consideravam uma missão impossível: via tecnologia por ele produzida, ir às profundezas do oceano (quatro mil metros do nível do mar, inacessível ao ser humano) e de lá trazer respostas confortadores e convincentes não só para as famílias enlutadas, mas pra toda a humanidade (sem se falar que os corpos já começaram a ser resgatados).
Fica a lição.
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