A priori, esclarecemos: a) os conceitos adiante expostos são da nossa exclusiva responsabilidade; b) trata-se, tão somente, da nossa (particularíssima) “busca de compreensão do mundo”, resultante da leitura e análise dos fatos históricos (de conhecimento público); e, c) não objetivam agredir ou ferir suscetibilidades.
Temos consciência, no entanto, que por não guardar similitude com as atitudes
“politicamente corretas” tão em voga nos dias atuais, escancarar-se-á o dique para o surgimento de incompreensões e até certo radicalismo, de outrem. Lamentamos, até porque não temos nenhuma vocação pra “murista”,
pra guardar “conveniências”, ou pra “escorregar” pelas rampas da vida.
Afinal, como tão bem nos ensina Zé do Vale, “... no dia em que um assunto não puder ser tratado por um cidadão, este assunto não existe. Isso é coisa de sociedade secreta, de iluminados, de mensagens cifradas. (...) Se estamos todos aqui discutindo política, cultura, economia, filosofia e o cotidiano o mais certo é que as visões se multipliquem”.
Portanto, serão relevadas possíveis provocações, a posteriori.
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Independentemente da formalização oficial e solene de qualquer ato de vinculação partidária (aqui, sim, um mero detalhe, principalmente nos atribulados dias correntes), o adentrar na arena política compreende, dentre outros: a) a almejada ascensão social; b) o adquirir status; c) a materialização de um bom emprego; d) a obtenção de um rentável meio de vida; e) uma maneira de “se fazer” dentro de um tempo relativamente curto; f) o beneficiar-se de informações privilegiadas; g) o descobrir o caminho das pedras; e, h) o aposentar-se prematuramente.
Tanto que as vagas postas á disposição pelos partidos a cada pleito são disputadas praticamente “no grito” (sopapos e pontapés só por trás das cortinas), ou mesmo via acordos não tão edificantes ou dignos de respeito (entre quatro paredes), a envolver empresários bem sucedidos, grupos religiosos, ruralistas, empresários falidos, desempregados, empresários de araque, profissionais liberais, sindicalistas, latifundiários e por aí vai (há que se reconhecer, entretanto, que existem, sim, no universo político, homens sérios e vocacionados para o exercício da causa pública, para a prática de políticas beneficiadora dos mais necessitados e, enfim, que se preocupam com o social, tal qual nos mostrou – praticando - o ex-presidente Lula da Silva, por exemplo).
Sob essa ótica, não deveria constituir-se nenhuma surpresa a divulgação da notícia de que quase uma centena de prefeituras do Ceará (a maioria do PSDB e PMDB) esteja na mira do Ministério Público, porquanto os respectivos gestores sob suspeição de envolvimento em portentosas falcatruas em processos licitatórios diversos.
E, no entanto, uma visão retrospectiva da história nos mostra que essa condenável e nefasta prática não é nenhuma novidade no Brasil, vez que alguns cidadãos tidos e havidos como respeitáveis, íntegros e austeros, não se negaram, quando tiveram oportunidade de exercer um cargo público, de se locupletar, furtiva ou descaradamente (seria uma questão cultural, a desafiar gerações ???).
Aos fatos.
Quem não lembra do herói da infância de todos nós, do intelectual brasileiro respeitado em todo o mundo, do brilhante e inconteste tribuno capaz de nos deixar boquiaberto e de queixo caído, do autor de edificantes e memoráveis peças e discursos versando sobre a ética, a moralidade, o apego à nacionalidade, o bem querer, o respeito, a honestidade, o ser digno e outros predicados – o nosso Rui Barbosa, o “Águia de Haia” ???
Pois bem, a “face oculta” do Rui Barbosa, o lado obscuro da sua personalidade, a nódoa que manchou definitivamente o seu currículo deu-se exatamente quando, convidado por Deodoro da Fonseca pra ser o seu homem de confiança, o guardião da chave do cofre, o responsável operacional do governo, a figura que moralizaria sua administração (espécie de Primeiro Ministro e Ministro da Fazenda a um só tempo), Rui Barbosa, simplesmente, meteu os pés pelas mãos, apropriou-se do dinheiro público, traficou influência até não mais poder, roubou descaradamente o erário, beneficiou amigos com os quais mantinha negócios particulares, corrompeu tantos outros e, enfim, saiu do governo “podre de rico” (e nada disso consta nos livros de história, obviamente). Em suma: se no setor privado RECONHECIDAMENTE tivemo-lo como um dos nossos grandes intelectuais, uma figura da qual só temos é que nos orgulhar, na vida pública Rui Barbosa revelou-se um “pilantra” de marca maior, um “desonesto” até a medula, um “surrupiador” em potencial do que não era seu. Tivéssemos àquela época uma mídia “fuçadora” e expedita como o é a de hoje, bem como uma Polícia Federal diligente e objetiva como a atual, certamente a história seria contada de uma outra forma, uma outra versão.
Já em termos de Ceará, especificamente, uma figura que “puxou a brasa pra sua sardinha”, beneficiou-se de um engodo previamente arquitetado, tentou comprar privilégios, traficou influência, corrompeu e tornou-se rico sem que se saiba a origem ou procedência dos recursos (relações promíscuas entre o público e o privado ???), responde pelo nome de Cícero Romão Batista.
Descredenciado e sumariamente expulso dos quadros da Igreja Católica ("que ao reverendo Cícero não seja mais admitido à pregação da palavra de Deus, a ouvir confissões das almas sem especial licença do Santo Oficio"), Cícero Romão Batista foi dura e formalmente acusado de charlatanismo, já que MENTOR, ATOR E SOLITÁRIO BENEFICIÁRIO da grotesca farsa conhecida como o “milagre da hóstia”, engodo executado tendo por “instrumento” a beata Maria de Araújo (que findou por não “agüentar o tranco”, tantas vezes teve que, publicamente, “atuar” no derramamento de sangue, a fim de “viabilizar” o tal milagre).
Aliás, e por questão de justiça, merece ser destacado o sepulcral silêncio que se abateu sobre a coitada da beata (que padecia de gravíssima enfermidade, a ponto de expelir sangue pela boca recorrentemente, muito antes do tal “milagre da hóstia”) já que, de partícipe determinante do tal “milagre”, acabou relegada à condição de relés figurante, a um ostracismo conveniente a uma das partes, a uma posição secundária em todo o processo, a ponto de não haver, na vasta literatura pertinente, qualquer indicação ou referência sobre a sua “causa mortis”.
Fato é que, desempregado, Cícero Romão Batista, perspicaz e antenado, numa “jogada de mestre” resolveu por entrar oficialmente pra política (já o fazia oficiosamente, como sacerdote). E, aí sim, deu-se o “verdadeiro milagre”, o milagre da fé (???), já que: 1) originário de família humilde e pobre, evidentemente não lhe coube nenhuma herança dos pais; 2) desconhece-se que tenha sido premiado em algum jogo lotérico acumulado; e, 3) a remuneração que recebia como sacerdote certamente não teria sido suficiente para que acumulasse qualquer poupança; como, então, compreender a extraordinária “evolução patrimonial" que fez com que de repente Cícero Romão Batista haja se tornado um grande latifundiário e promissor fazendeiro, porquanto “proprietário de vastas extensões de terras e milhares de cabeça de gado”, além de dono de diversos imóveis urbanos, em diversas localidades ???
Será que, tal qual acontece nos agitados dias atuais, teríamos tido alí “dinheiro não contabilizado” (DNC) ??? Ou teria havido alguma “apropriação indébita” (API) dos bens dos pobres seguidores ??? Quem sabe, o dinheiro arrecadado teria sido tanto e de tal monta, dando origem ao que hoje denominamos de “sobras de campanha” (SBC) ??? Ou será que o famoso “caixa dois” (CX2) materializou-se já àquela época, por baixo dos panos ??? Se bem que os seus simpatizantes acreditam e sustentam que o portentoso patrimônio, por ele amealhado num curto espaço de tempo, teria sido unicamente fruto de “doações voluntárias” (DÇV) dos fiéis adeptos - muito embora hoje sejam ácidos críticos do bispo Edir Macêdo (Igreja Universal do Reino de Deus), praticante de idêntico descalabro, de igual “modus operandi”, do mesmo know how (qual seja, você é “convidado” a doar à Igreja desde o salário e até a moradia, condição “sine quo non” a alcançar o céu, após "bater as botas).
Além do que, Cícero Romão Batista era useiro e vezeiro em “traficar influência”, a saber: 1) em 1911, no intuito de obter vantagens para o seu grupo político, reuniu-se em Juazeiro a outros dezesseis líderes da região e firmaram um acordo de cooperação mútua, visando apoiar o sanguinário e corrupto governador Nogueira Accioli (ocorrência conhecida como o “Pacto dos Coronéis”); 2) em 1926, Cícero Romão Batista foi mais longe quando, sem que tivesse procuração ou autoridade institucional para tal, “corrompeu” o cangaceiro Virgulino Ferreira (Lampião), ao prometer-lhe, em troca dos seus “serviços” num possível enfrentamento com a “coluna Prestes”, condecorá-lo com a patente (fajuta) de “capitão do exército brasileiro”, além de anistiar todos os crimes cometidos por ele e seu bando (o que foi feito oficiosamente, embora depois Lampião tenha descoberto que tal honraria “não valia um vintém furado”).
Como se observa, há muito obscurantismo e interrogações (convenientemente olvidadas e mantidas à distância pelos onerosos, ilustres e renomados conferencistas “experts” no tema) em alguns dos caminhos sinuosos percorridos por Cícero Romão Batista, que mereceriam maiores esclarecimentos, mas que jamais se concretizarão, em razão de interesses (inconfessos) por parte do Vaticano, dentre os quais: 1) face a agressiva incursão dos cultos evangélicos sobre as massas, que resulta na atual debandada dos outrora fiéis católicos às suas hostes, a Igreja Católica há que arranjar uma maneira de obstar tal périplo, nem que para tanto seja necessário “perdoar” e “santificar” um antigo renegado); 2) o incrível poder mercantil do agora “mito” Cícero Romão Batista, responsável pelo enriquecimento de muitos (através da exploração desumana dos romeiros), mas que essa mesma Igreja tende a disso tirar proveito, nem que para tanto seja necessário não só reabilitá-lo publicamente, como, também santificá-lo e beatificá-lo, mais adiante (e isso será feito, mais cedo ou mais tarde, dúvidas não tenham).
Perguntas que ficam, a clamar por esclarecimentos: 1) objetivamente, qual foi mesmo a “causa mortis” que vitimou a beata Maria de Araújo ???; 2) por qual razão os famosos “paninhos”, depositários do seu sangue (exaustiva e recorrentemente usados e difundidos como uma das “provas” do milagre), providencialmente sumiram (ou queimados foram), como se houvesse o temor de que, num futuro não tão distante, com o vasto instrumental que certamente surgiria, um simplório exame laboratorial mais detalhado pudesse diagnosticar alguma comprometedora e letal moléstia (tuberculose ???), determinante e capaz de “demolir” de vez com o tal “milagre da hóstia” ???; e, 3) qual a “ORIGEM-FONTE” dos expressivos recursos que permitiram que alguém, originário de família paupérrima e sem uma remuneração compatível, de repente tenha se tornado “podre de rico” ???
No mais, já está na hora de se acabar com essa “lenda” de que angular de forma contundente e inusual determinadas “divindades” se constitua agressividade, falta de respeito ou pecado mortal. Afinal, o direito de qualquer cidadão livremente expressar-se lhe é garantido pela própria Constituição Federal.
Um comentário:
Só sei uma coisa: é INADMISSÍVEL que uma pessoa enriqueça depois que entra em algum cargo público. Quando um cara sai de um patrimônio pequeno para um de milhões de reais em poucos anos, ocupando um cargo público, é para DESCONFIAR, APURAR e se for o caso, PUNIR.
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