Fui fazer parte de uma banca de progressão funcional e uma professora ao saber que tinha nascido no Crato me fez uma consulta: "Meu filho passou num concurso da URCA o que vc pode me dizer de Crato?". Se naquela ocasião eu já tivesse lido "Alvo noturno" do escritor argentino Ricardo Piglia poderia ter indicado que ela lesse este trecho do livro: "Abriu com uma descrição do povoado porque se deu conta que esse era o tema que interessaria em Buenos Aires, onde quase todos os leitores eram como ele e pensavam que o campo era um lugar pacífico e tedioso, povoado por pessoas de gorro basco na cabeça, sorrindo como uns idiotas e concordando com todo mundo. Um pessoal bem-disposto que se dedicava a trabalhar e cultivava as tradições gaúchas e a amizade argentina. Já percebera que tudo aquilo era uma farsa, numa única tarde ouvira mesquinharias e violências piores que tudo o que seria capaz de imaginar".
Se você trocar alguns termos (boina basca por... etc.) o quadro não é muito diferente da nossa pequena grande cidade. Em uma tarde o viajante arguto dá pra perceber o que está por trás daquela simpatia obsequiosa que tanto nos caracteriza. Se ele não quiser gastar o dinheiro da passagem basta dar uma checada nos blogs da região. Os textos oscilarão entre o puxa-saquismo mais desavergonhado (mas o tempo todo negando sua verdadeira natureza) e a agressão mais vil à pessoas que não se deixaram comprar tão facilmente. Mas se ela enfrentar a viagem dou um conselho. Ouça tudo que lhe falam com cara de idiota e pra que as pessoas achem que vc está do mesmo lado basta ficar repetindo o nosso enigmático "Pois não..."
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